Assassinato de Abu Akleh expõe as ameaças a jornalistas na Palestina

May 16, 2022 em Liberdade de imprensa
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O assassinato da renomada jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh recentemente é apenas o último incidente de violência contra repórteres na Palestina. Abu Akleh, que cobriu guerra e conflito por três décadas, estava cobrindo a incursão militar de Israel na cidade de Jenin, no Norte ocupado da Cisjordânia, em 11 de maio para a Al Jazeera, quando foi fatalmente atingida por um tiro na cabeça. Investigações da mídia indicam que forças israelenses são provavelmente responsáveis pelo assassinato de Abu Akleh.

Em vídeo da Al Jazeera do incidente, um tiroteio pode ser ouvido nos segundos iniciais antes de um homem gritar "Shireen! Shireen! Ambulância!". Uma autópsia revelou que Abu Akleh sofreu uma laceração cerebral e fraturas no crânio por uma ferida da bala. Outro jornalista, Ali Al-Samoudi, foi baleado nas costas no mesmo momento, informou o Ministério da Saúde da Palestina.

"Tinha uma árvore separando Shireen, eu fui para a árvore antes dela. Ela caiu no chão", disse a repórter palestina Shaza Hanaysheh em uma entrevista à Al Jazeera. Hanaysheh estava com um grupo de quatro repórteres cobrindo a incursão em Jenin. "Os soldados não pararam de atirar mesmo depois dela ter caído. Toda vez que eu esticava minha mão para puxar Shireen, os soldados atiravam na gente."

A violência em torno do assassinato de Abu Akleh continuou na sexta, 13 de maio, quando a polícia israelense atacou pessoas que carregavam o caixão de Abu Akleh. 

Quem foi Shireen Abu Akleh?

Nascida em Jerusalém em 1971, Abu Akleh estudou jornalismo na Universidade Yarmouk na Jordânia. Depois de se graduar, ela voltou para a Palestina, onde trabalhou para vários veículos, incluindo a rádio Voice of Palestine e o canal Amman Satellite. Ela entrou na Al Jazeera um ano depois de seu lançamento, em 1996, como uma das primeiras correspondentes do veículo no Qatar.

Um ícone na mídia Palestina, Abu Akleh ganhou fama por sua cobertura da segunda Intifada Palestina, em 2000, e sua reportagem das incursões israelenses na Cisjordânia em 2022. Ela cobriu grandes eventos em Israel e na Palestina desde então, incluindo a morte de Yasser Arafat em 2004, a decisão dos Estados Unidos de mudar sua embaixada para Jerusalém em 2018 e os ataques de Israel a Gaza no ano passado, para listar alguns exemplos.

"Eu escolhi o jornalismo para ficar perto das pessoas", disse Abu Akleh em um vídeo antes de sua morte, acrescentando que "pode não ser fácil mudar a realidade, mas ao menos eu posso levar a voz delas para o mundo".

Eventos em torno do assassinato

Há um aumento nos pedidos para uma investigação transparente sobre a morte de Abu Akleh. O embaixador dos Estados Unidos em Israel e membros sêniores da ONU pediram uma investigação completa do assassinato da jornalista. Uma das lideranças da UNESCO, Audrey Azoulay disse que o caso foi "uma violação da lei internacional."

O jornalista Mohammed Ateeq, que trabalhava na região, disse à IJNet que Abu Akleh estava usando um colete de imprensa que claramente a sinalizava como profissional de mídia. "O que aconteceu com os jornalistas em Jenin foi uma perseguição direta segmentada, principalmente considerando que a bala a atingiu bem abaixo do capacete", diz Ateeq. "O jornalista Ali Al-Samoudi também foi baleado em uma parte que não estava coberta pelo colete de proteção."

A morte de Abu Akleh aumenta o número de jornalistas mortos na Palestina para mais de 40 desde 2000, demonstrando o perigo enfrentado por repórteres em Gaza e na Cisjordânia ocupada. Só no ano passado, o Centro Palestino de Direitos Humanos registrou 150 ataques à imprensa. Isso inclui tiroteios que resultaram em 40 pessoas feridas e ao menos uma morta. Eles também registraram 28 casos de jornalistas sendo detidos ou presos, 23 escritórios de mídia na Palestina destruídos por bombardeios e 20 casos de jornalistas impedidos de fazer reportagens por forças israelenses.

O assassinato de Abu Akleh ocorreu neste cenário, uma realidade não muito diferente de colegas jornalistas.

"A supressão da imprensa pelas forças israelenses e suas instituições não é uma novidade", diz Ateeq. "O evento recente confirma que não existe proteção para jornalistas palestinos e a justiça estipulada em todas as convenções internacionais está ausente para responsabilizar os assassinos."

Hisham Zaqout, correspondente da Al Jazeera em Gaza, também falou com a IJNet sobre o incidente. "O assassinato dela é trágico e viola leis e normas internacionais", diz. "[As forças israelenses] fazem esforços incansáveis para impedir a mídia de cumprir com sua missão." Um relatório de 2021 do Comitê de Proteção a Jornalistas, por exemplo, apontou vários casos de forças israelenses prendendo e ferindo jornalistas que trabalhavam na Cisjordânia e em Gaza.

Sulaiman Bsharat, que administra o Instituto Yabous de Consultoria e Estudos Estratégicos, faz coro a esse sentimento. Ele descreve os riscos que jornalistas palestinos precisam enfrentar e como a morte de Abu Akleh é um reflexo deles. "As forças israelenses tratam profissionais de mídia como alvos com o objetivo de impedir que eles cubram os acontecimentos em campo", diz. "A evidência disso é que na maior parte dos casos registrados, os jornalistas que foram alvo usavam coletes de imprensa." 

Recursos adicionais


Imagem com licença Creative Commons por Shay Kindler