3 dicas para jornalistas investigativos ambientais e de ciências

por Samantha Berkhead
Oct 30, 2018 em Reportagem de meio ambiente

Em Paris, cerca de 150 líderes mundiais estão se reunindo para a Conferência Anual das Partes (COP) das Nações Unidas. Lá, eles trabalham para estabelecer um acordo internacional juridicamente vinculativo destinado a conter a maré da mudança climática global, o primeiro de seu tipo desde o Protocolo de Kyoto de 1997.

Também presente? Cerca de 3.000 jornalistas que cobrem as conversações para agências de notícias ao redor do mundo.

John Upton, repórter do Climate Central, um dos jornalistas cobrindo a Conferência do Clima COP21, disse que a imensa abrangência da cobertura de mídia da COP21 indica o quanto a questão da mudança climática progrediu ao longo dos últimos anos.

"Eu só acho que é incrível que 3.000 jornalistas estão prestes a convergir para cobrir uma questão que cinco ou 10 anos atrás era meio que [um tema] marginal para muitas pessoas e para uma série de publicações", disse ele antes do evento. "Eu sou um repórter ambiental bastante generalista, mas a mudança climática é uma questão tão quente agora -- há muito trabalho para os jornalistas cobrirem."

Dada a dimensão da presença da mídia na COP21, está claro que o jornalismo ambiental está mais em demanda do que nunca. A IJNet conversou recentemente com John e ele ofereceu algumas dicas para aspirantes a jornalistas ambientais e de ciência:

Não faça a pesquisa mais difícil do que deve ser 

Qualquer um pode tecnicamente se tornar um repórter de ciência, disse John. Tudo o que precisamos é o tempo e mentalidade necessários para investigar as questões ambientais, pois uma das melhores maneiras de obter pesquisa científica -- o Google Scholar -- é gratuita.

"Se você usa o Google Scholar, vai pegar muito dos principais artigos", explicou John. "E porque há tanta consolidação dessas coisas, você pode ir a lugares como nature.org, encontrar as revistas de maior destaque que publicam pesquisas sobre o tema que você está cobrindo e basta pesquisar em cada uma dessas revistas individuais."

John disse que é possível para os jornalistas navegarem por cima de paywalls, algo que muitos repórteres não sabem. Fazer isso é surpreendentemente mais fácil do que se poderia supor -- tudo o que é preciso é pedir com educação.

"Uma vez que você encontra os estudos que lhe interessam, se você não tem a assinatura, pode ser que só consiga acessar o resumo mais alguma outra informação, incluindo detalhes dos cientistas que produziram o estudo", disse ele. "Mas os cientistas estão sempre dispostos a compartilhar o estudo com um jornalista. Você apenas tem que enviar um e-mail e eles geralmente respondem muito rapidamente."

Mantenha-se cético

John também estressou a necessidade do jornalista de ciência de permanecer cético em relação a cada jornal que lê e a todos os cientistas com que fala para a matéria. Enquanto a comunidade científica em geral segue o princípio da revisão por pares ao publicar trabalhos acadêmicos, o processo de revisão por pares não é imune ao viés inerente.

"Eu acho que um monte de jornalistas pensa que a investigação que normalmente precisa ser feita para uma matéria já foi realizada pelo processo de revisão por pares em um jornal, mas isso não é o caso", disse ele. "É muito fácil que a desinformação e falsos pressupostos escorreguem por este processo, e há sempre um risco de jornalistas regurgitando os erros ou suposições incorretas de uma equipe de cientistas."

Pense localmente — e globalmente

A mudança climática é uma crise global, mas muitas pessoas terão dificuldade em entender a sua importância se não veem os efeitos das alterações climáticas nas suas comunidades locais, John explicou. Por isso,  é importante que os jornalistas de ciência reduzam a escala da sua cobertura sobre a mudança climática e foquem em histórias locais.

"Se você quiser que alguém preste atenção em sua reportagem, precisa falar sobre os problemas que afetam a eles, e isso significa reportagens locais", disse ele. "Então, se você está reportando que a temperatura do mundo aumentou em 0,78° C ou os níveis do mar subiram oito polegadas desde 1880, é tudo muito distante e muito vago. Quando você está reportando sobre mudança climática, é útil para o seu público se pode achar o impacto local e oportunidades locais para reduzir a poluição e assim por diante. "

O mesmo vale para a cobertura de questões ambientais multinacionais, tais como a indústria transatlântica de aglomerados de madeira que John investigou para sua recente matéria Pulp Fiction. Enquanto a queima de grânulos de madeira para energia tem um impacto global, John fez questão de incluir histórias de comunidades das indústrias de madeira em todo o sudeste americano também.

"Eu diria que a coisa mais importante a nível internacional é ter certeza de que você está prestando tanta atenção a quaisquer aspectos externos quanto nacionais da sua reportagem", disse ele. "Eu tive que trabalhar muito e ler muito para entender as leis e políticas em dois países diferentes; pode ser difícil, mas também pode ser muito gratificante, e é realmente importante."

Clique aqui  para ler mais sobre as dicas de John para jornalistas investigativos de ciências.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via jean-pierre chambard

Foto de John Upton por Rajan Zaveri