No início, o novo coronavírus parecia tão remoto quanto a distância entre a China e a Nigéria. Mas assim que a Nigéria registrou o primeiro caso do país no final de fevereiro de 2020, o pânico se instalou no país.
Não demorou muito depois que a pandemia chegou ao país para a desinformação disparar ― incluindo boatos como o de um motorista de táxi nigeriano que ameaçava espalhar o coronavírus pela Nigéria e a crença na cloroquina como uma cura para o vírus. No início, havia ceticismo sobre a presença do vírus em todo o país, assim como conspirações de que 5G causa mortes por COVID-19 e calor reduz a disseminação do vírus.
Após algumas semanas de pandemia, decidi criar uma organização de fact-checking para lutar contra a crescente infodemia no país. Como estudante de jornalismo de 19 anos na Universidade Estadual de Lagos, imaginei um meio de comunicação dirigido por estudantes. Para começar, informei os jornalistas do campus da universidade e fiz uma chamada para inscrições de alunos de instituições do ensino superior.
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Combatendo a infodemia
O People’s Check iniciou suas operações formalmente em meados de abril, com mais de 15 verificadores de fatos em sete instituições. Propusemos fornecer informações factuais sobre mitos e boatos que são especialmente mortais durante uma crise de saúde global sem precedentes. Para fazer isso, tivemos que reunir evidências digitais e físicas de fontes primárias.
Sou um verificador de fatos autodidata e fiz cursos introdutórios de fact-checking pelo First Draft e a News University do Poynter. Usando essas habilidades, apresentei a checagem de fatos aos meus colegas de equipe, que posteriormente fizeram os mesmos cursos. A plataforma é modelada a partir de sites de fact-checking estabelecidos, como Africa Check e Dubawa.
Apenas um mês após o lançamento, já havíamos publicado mais de 20 verificações de fatos e estávamos na linha de frente no combate à desinformação da COVID-19 na Nigéria.
Em junho, iniciamos o Verify Nigeria, um projeto para verificar desinformação viral sobre saúde na Nigéria em parceria com o Check Global. O Check Global é um projeto do Meedan que visa melhorar a educação digital, construção de comunidade e habilidades de engajamento político para jornalistas cidadãos, ativistas, estudantes de jornalismo, organizações da sociedade civil e defensores dos direitos humanos por meio de treinamento, programação e pesquisa.
Armados com diferentes formatos de conteúdo, como gráficos, vídeos, podcasts e postagens de blog, lidamos com a desinformação com checagens oportunas e produzimos folhetos informativos sobre lacunas de informações vulneráveis. Também criamos conteúdo com o objetivo de facilitar a educação midiática para garantir que o público saiba como localizar informações incorretas sobre saúde por conta própria e como encontrar informações corretas.
A plataforma começou sem orçamento e a equipe trabalhou como voluntária. Mas um mês depois de sua criação, em maio de 2020, o People’s Check recebeu uma micro-bolsa COVID-19 do Check Global para trabalhos de mídia em economias emergentes, no valor de US$2.000. Esta tem sido nossa única fonte de financiamento para desenvolver e manter nosso site, fornecer estipêndios para nossos voluntários e pagar pela produção de diferentes formatos de conteúdo.
Financiamento adicional será crítico para atingir um público maior e intensificar nossas operações enquanto permanecemos indiscutivelmente independentes, e estamos procurando financiamento de organizações e fundações que apoiam a mídia independente.
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Amplificando o nosso impacto
Até hoje, publicamos mais de 70 verificações de fatos e temos mais de 40 jovens verificadores trabalhando conosco remotamente em 15 universidades. Os verificadores de fatos foram treinados pela oficina de desinformação de saúde do Africa Check, um programa gratuito sobre a dinâmica da desinformação em saúde, mas esperamos continuar a desenvolver nossos esforços de verificação de fatos por meio de treinamento contínuo.
Ololade Olabiyi, uma estudante verificadora de fatos da Universidade Estadual de Lagos que está com a organização desde o início, diz que trabalhar com o People's Check a ensinou como detectar notícias falsas e desmascarar alegações usando diferentes ferramentas como Yandex e Tineye para pesquisa reversa de imagens, inVID para verificação de vídeo e Tweetdeck e Google Trends para monitoramento de mídia social. Ao continuar a treinar nossa equipe no People’s Check, esperamos promover uma cultura de verificação de fatos entre os jovens do país e construir uma nova geração de verificadores de fatos.
Também queremos promover a verificação de fatos e a educação midiática para um público maior. O People’s Check organizou três eventos públicos, que atraíram mais de 200 estudantes, jornalistas profissionais e cidadãos públicos. Treinamos os participantes sobre como lidar com a atual infodemia.
À medida que continuamos a expandir, procuramos novas maneiras de promover nosso trabalho, explica Nonso Ezebuiro, estrategista de crescimento da organização. Ele observou que alcançar um público único por meio de mídia social direcionada e publicidade na web é fundamental, mas que a organização atualmente não tem financiamento para isso.
O People’s Check é participante do programa de literacia de dados organizado pela Code for Africa em parceria com o Banco Mundial. Isso formará a base de nosso trabalho sobre declarações econômicas e estatísticas e o uso de dados para lidar com a desinformação.
“Também acreditamos firmemente que nosso crescimento até agora se deve aos altos padrões que estabelecemos para nós mesmos como equipe”, diz Nonso. “Portanto, queremos continuar entregando um trabalho de alta qualidade [e] encontrando o talento certo para nos ajudar a seguir adiante."
Sultan Quadri é um estudante nigeriano de jornalismo na Universidade Estadual de Lagos e fundador do People’s Check.
Imagem sob licença CC no Unsplash via United Nations COVID-19 Response. Imagem criado por Jack Adamson.