Um portal inspirado na tradição da imprensa negra norte-americana

por Liz Dwyer
Feb 15, 2022 em Notícias locais
Capital B founders Lauren Williams and Akoto Ofori-Atta standing next to each other and smiling.

Na minha casa, edições das revistas Ebony, Jet e Essence estavam sempre em algum lugar da casa, junto com uma edição do jornal negro local. Ler cada uma delas, de ponta a ponta, era essencial porque cada publicação oferecia uma perspectiva diferente sobre a experiência negra.

Juntas, essas publicações criaram uma imagem mais holística sobre o que estava acontecendo nos Estados Unidos negro. Mas as pessoas negras não são um monólito, por isso precisamos de mais que isso. Mais notícias, mais soluções e mais informações que reflitam e amplifiquem o que falamos na vizinhança, na barbearia e com a família e os amigos.

Felizmente, com o lançamento recente do Capital B, um novo veículo jornalístico local e nacional sem fins lucrativos, nós ganhamos outra fonte de notícias feitas por e para negros.

Mas apesar de o Capital B ser novo, suas raízes não são.

Em um conteúdo explicativo sobre a decisão de começar o site, as duas fundadoras, as jornalistas veteranas Lauren Williams e Akoto Ofori-Atta, escreveram que elas são diretamente influenciadas pela tradição da imprensa negra.

"O foco da audiência da imprensa negra — não apenas a narrativa, não apenas a amplificação de vozes, mas a troca de informação valiosa — é absolutamente essencial para sua tradição. E é essencial para a fundação do Capital B", escreveram Williams e Ofori-Atta.

Essa tradição também significa que o Capital B foca na "produção de jornalismo aprofundado sobre tópicos de importância crucial para a população negra no país, como educação, habitação, saúde, meio ambiente, justiça criminal e política", de acordo com o site.

Com esse objetivo, o site nacional do Capital B deu o pontapé inicial com uma agenda de artigos sobre a onda recente de contratação de chefes de política negros nos Estados Unidos e também um olhar sobre a educação — ou a falta dela — nas prisões norte-americanas. Há também um site hiperlocal do Capital B sobre Atlanta no qual os leitores da cidade se atualizam, por exemplo, sobre onde eles podem fazer testes de COVID-19.

Claro, notícias assim não ganham espaço na imprensa tradicional sem que editores vejam valor — e estejam dispostos a dar um sinal verde — em pautas centradas em torno do que pessoas negras precisam para viver suas vidas livre e plenamente.

Williams e Ofori-Atta conversaram com Andrew Ramsammy, chefe de conteúdo e colaboração na Local Media Association — que colabora com editores de 10 dos principais veículos de propriedade de negros nos Estados Unidos para produzir a Word in Black — sobre essa falta de representação.

"Todo mundo sabe que para a maioria dos jornalistas negros que trabalham na imprensa tradicional, é um trabalho de tempo integral ter que explicar por que deveriam estar cobrindo comunidades negras", diz Ramsammy. "E quando você se volta para a imprensa negra, essa conversa não precisa existir."

Com os direitos de voto em jogo, a pandemia devastando nossas comunidades e sendo só uma questão de tempo até que o próximo nome de uma pessoa negra morta pela polícia se transforme em hashtag e tendência nas redes sociais, precisamos desse debate — e dessas novas histórias — mais do que nunca. Nós precisamos que a mídia não veja as pessoas negras apenas como problemas e que também noticie as pessoas da comunidade negra que criam soluções e que "colocam a mão na massa". Simplesmente não é o bastante que veículos tradicionais diversifiquem sua cobertura ou criem uma editoria “Negra” de nicho em um site.

"A mídia negra ainda fornece informação com contexto cultural, uma perspectiva diferente, contexto histórico", disse ao Washington Post a diretora da Black Media Initiative, Cheryl Thompson-Morton. "Ela faz isso de um jeito que é exclusivamente negro, na falta de um termo melhor."

O Capital B agora faz parte de um ecossistema de mídia que busca honrar o legado de 185 anos da imprensa negra — e busca fazer o que é o certo por parte dos negros aqui e agora. Mesmo assim, nós precisamos de mais. Como disse a cofundadora do site Lauren Williams ao Post, "não estamos tentando ser os únicos e não pensamos que nós deveríamos ser. Nós achamos que uma comunidade merece ter opções."


Este artigo foi originalmente publicado pelo Word in Black e republicado na IJNet com permissão. 

Foto: divulgação Word in Black.