Como minorias podem criar limites saudáveis nas redações

Jul 13, 2021 em Diversidade e Inclusão
mãos sobre um laptop

Durante o Mês da Consciência da Diversidade (celebrado em abril nos Estados Unidos) — semelhante ao Mês do Orgulho LGBTQIA+ e ao Mês da História Negra (celebrado em fevereiro nos Estados Unidos) — os meios de comunicação normalmente fazem mais reportagens sobre grupos marginalizados. Profissionais de mídia que são parte desses grupos são frequentemente requisitados para ajudar as publicações a diversificar sua cobertura.

Embora a diversidade seja vital para mudar narrativas históricas que criam vieses na mídia, jornalistas devem se sentir no direito de estabelecer limites e compartilhar somente aquilo que os deixam confortáveis. 

Estereótipos nocivos sobre pessoas não brancas fizeram com que as mesmas adotassem um sentimento de que precisam fazer mais que os outros e uma relutância em dizer não no local de trabalho.

Devido às altas taxas de desemprego em grupos marginalizados e inúmeros fatores sociopolíticos, profissionais de mídia de minorias podem ter dificuldades em estabelecer limites no trabalho.

Compilamos abaixo dicas e recursos para ajudar a estabelecer fronteiras saudáveis no ambiente profissional.

Aborde os gatilhos assim que eles surgirem

Em muitos casos, pessoas que são marginalizadas vivenciam gatilhos no trabalho. Exemplos disso incluem comentários misóginos e anti-queer, silenciamento de pessoas não brancas e exclusão de pessoas com deficiência. Porém, muitas dessas pessoas afetadas permanecem em silêncio ou fazem uma queixa tardiamente, quando a situação fica mais grave.

Quando vivenciarem preconceito, discriminação e insensibilidade no trabalho, repórteres devem procurar validar suas próprias experiências. Também devem resolver o problema de maneira calma e assertiva. Em uma entrevista para o PsychCentral, a psicoterapeuta Linda Esposito disse que "quando você responde a uma situação em tempo hábil, você demonstra confiança na sua mensagem e também respeito pelo destinatário".

 

[Leia mais: Melhorando a diversidade e inclusão nas notícias]

 

Dependendo do ambiente de trabalho e do impacto potencial da reação naqueles que vão recebê-la, as pessoas devem considerar se preferem estabelecer limites de forma verbal ou usar um caminho alternativo para que eles sejam respeitados. Embora tratar verbalmente o problema possa ser uma alternativa mais gentil do que reportar a situação ao departamento de RH, as pessoas devem refletir consigo mesmas para tomar a decisão.

Alguns locais de trabalho podem ser mais favoráveis e tolerantes a uma comunicação aberta, enquanto outros podem não ser. Os profissionais devem estabelecer limites de uma maneira que seja segura para eles, como recorrer a um superior.

Valide a sua experiência e pratique dizer "não"

Estabelecer limites é um desafio na vida pessoal e ainda mais no trabalho. Implementar essas mudanças é frequentemente mais difícil para minorias.

Profissionais de mídia devem consultar os termos de seus contratos para ter a confiança de dizer não quando forem requisitados a fazerem algo além do que se sentem confortáveis. 

Por exemplo, um contrato pode estipular que você precisa entregar cinco textos por mês e um editor pode te pedir para escrever uma matéria sobre sua identidade de gênero. Se o contrato não especifica que você vai escrever sobre um assunto determinado, você tem autonomia para expressar seu desconforto com a tarefa e sugerir uma alternativa. Mesmo se decidir compartilhar sua história, você tem o poder de incluir somente aquilo que te deixa confortável em dividir.

Em ambientes onde os editores não estão devidamente treinados sobre diversidade e sensibilidade para estarem cientes sobre representatividade superficial, saúde mental e viés histórico, profissionais de grupos marginalizados podem exercitar o hábito de dizer não para perspectivas e assuntos que não desejam cobrir.

 

[Leia mais: Saúde mental e jornalismo, parte 1: Uma conversa com Anna Mortimer]

 

Em 2017, o New York Times fez uma reportagem sobre razões para dizer não com mais frequência. Dentre as razões, a consultora de carreira Dara Blaine acredita que a prática abre portas. "Vivemos numa cultura do 'sim', na qual se espera que a pessoa que vai avançar é a batalhadora que diz sim para tudo que passa no caminho dela. Foi quando as pessoas aprenderam a dizer não que eu realmente vi suas carreiras decolarem", ela diz no artigo.

Seja dizer não para um pedido de última hora de trabalho extra ou estabelecer limites para qual tipo de cobertura você vai participar, a prática de dizer não no trabalho é saudável. 

Considere consultar um terapeuta

Estabelecer limites é especialmente importante para manter o bem-estar mental durante um momento tão tumultuado como a pandemia. Mesmo assim, pode ser difícil manter os limites. Uma solução benéfica é recorrer a redes de suporte, como profissionais de saúde mental ou conselheiros, que podem ser testemunhas dos desafios que você está enfrentando e te apoiar no esforço por um ambiente de trabalho mais saudável.

Em um artigo de 2020 sobre auto-cuidado e definição de limites, a revista Them, publicação LGBTQIA+ da Condé Nast, forneceu uma lista de recursos para pessoas de grupos marginalizados:

Estabelecer e manter limites é uma prática para a vida toda que se prolonga por todas as áreas da vida. Para profissionais de mídia marginalizados, pode ser um jeito empoderador de forçar a mudança e inclusão no trabalho. Essas mudanças podem gerar menos burnout e sentimento de exploração. Ao validar experiências pessoais e apoiar-se em termos do contrato, profissionais podem desenvolver confiança para dizer não, inclusive para seus empregadores.


Nazlee Arbee é uma artista multimídia e jornalista baseada na Cidade do Cabo, África do Sul.

Foto por Christina @ wocintechchat.com no Unsplash