O ano de 2018 foi marcante em termos de inovação e colaborações em larga escala para jornalistas de dados em todo o mundo.
Aprendizado de máquina, sensores, automação e novas fontes de dados estão se tornando mais populares. Exploramos as últimas tendências do campo, graças aos nossos especialistas:
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Simon Rogers (Google, EUA),
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Reginald Chua (Reuters, EUA),
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Yudivian Almeida Cruz (Postdata.club, Cuba),
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Kuek Ser Kuang Keng (representante do Prêmios de Jornalismo de Dados, Malásia),
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Cheryl Phillips (Universidade Stanford, EUA),
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Giannina Segnini (Universidade Columbia University, EUA).
Todos concordaram que as equipes de dados em todo o mundo se superaram no ano passado. "Houve muito trabalho interessante, desde os Paradise Papers e Cambridge Analytica, até um bom trabalho com imagens de satélite em Myanmar, e assim por diante", diz Chua.
Jornalismo de dados é um campo em crescimento
Simon Rogers, editor de dados do Google e diretor dos Prêmios de Jornalismo de Dados (prazo final: 7 de abril), diz que houve um grande avanço:
"Não estamos mais brincando. Houve uma fase em que o que fazíamos era responder a perguntas sem importância, mas COM DADOS". Acho que isso acabou agora, há muita coisa acontecendo. Eu acho que finalmente se tornou 'mainstream' e espalhado pelo mundo."
Qual foi a principal inovação desse ano? O uso de técnicas de aprendizado de máquina se tornou mais frequente em muitos países. Outras técnicas inovadoras de narrativa também surgiram. Automação, ou a arte de usar robôs para facilitar projetos de grande escala, é uma delas. Segnini acredita que a automação e novas fontes de dados estão se tornando mais populares.
Um ótimo exemplo da Bayerischer Rundfunk e da Spiegel na Alemanha:
Para provar a existência de discriminação no mercado de aluguéis de imóveis na Alemanha, jornalistas de dados enviaram mais de 20.000 inscrições para aproximadamente 7.000 anúncios de apartamentos em um processo automatizado e avaliaram as respostas recebidas. O resultado é um impressionante jornalismo baseado em dados. Você pode ler sobre o projeto neste artigo.
Projetos de dados colaborativos estão em ascensão
A segunda coisa que nossos especialistas observaram foi que há cada vez mais colaborações em larga escala. Isso não se aplica apenas a países ocidentais, mas também envolve equipes na Ásia, América do Sul e África.
Os Implant Files, do ICIJ, em parceria com 250 jornalistas de 36 países, investigaram os danos causados por dispositivos médicos que foram testados inadequadamente ou nem foram testados.
Também houve os West Africa Leaks, que investigaram como a elite da África esconde bilhões no exterior.
O Projeto de Reportagem de Crime Organizado e Corrupção (OCCRP, em inglês) continua fazendo um trabalho incrível na Europa, África, Ásia, Oriente Médio e América Latina e Estados Unidos. A ProPublica publica regularmente trabalhos colaborativos através de sua rede de parceiros de publicação.
Também nos Estados Unidos, o projeto Big Local News --parte da Iniciativa de Jornalismo e Democracia de Stanford-- tem como objetivo coletar, processar e compartilhar dados governamentais que são difíceis de obter e analisar. A iniciativa é um ótimo exemplo de colaboração dentro da indústria de jornalismo de dados e fará parceria com redações locais e nacionais para usar esses dados para examinar uma ampla gama de questões, incluindo justiça criminal, habitação, saúde e educação para o jornalismo de prestação de contas.
Jornalismo de dados é um campo que ainda cresce em todo o mundo
Para quem ainda pensa que o jornalismo de dados é uma coisa do Ocidente, aqui está algo para provar que você está errado.
Kuek Ser Kuang Keng compartilhou exemplos de jornalistas em Taiwan, onde dados foram usados quase sistematicamente durante suas recentes eleições de meados de mandato. Quase todos os sites de notícias online usaram dados e mapas eleitorais para aprimorar suas reportagens e análises.
O artigo “Como a mídia taiwanesa participa das eleições locais de 2018?”, da Hacks/Hackers Taipei, compila reportagens baseadas em dados de diferentes organizações em Taiwan.
O uso de dados por equipes de notícias também está crescendo em Cuba. "A liberação de dados está a caminho", disse Yudivian Almeida Cruz. "É interessante [porque] estamos trabalhando em uma nova constituição e muitas mídias diferentes usaram uma abordagem baseada em dados para cobrir esse processo. Estamos mais ou menos [experimentando] a liberação de dados, as pessoas estão mais interessadas em dados e têm melhor acesso à internet. Pessoas do governo estão tendo mais presença nas redes sociais.”
O Postdata.club foi uma força motriz na disseminação do jornalismo de dados em Cuba no ano passado, com sua cobertura da nova constituição cubana, casamento entre pessoas do mesmo sexo e mulheres no poder.
Este artigo é baseado em uma discussão no Slack e foi publicado originalmente pela Rede de Editores Globais (GEN, em inglês), editado e reproduzido na IJNet com permissão. Leia o chat original aqui (em inglês).
Saiba mais sobre sobre os Prêmios de Jornalismo de Dados 2019.
Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Pietro Jeng