No dia 25 de março, Tolu Temitope*, moradora do estado de Lagos, na Nigéria, recebeu um email alertando-a de um login suspeito em seu aplicativo bancário. Em poucos minutos, 65.000 nairas (cerca de R$ 400) foram retiradas de sua conta, e foram parar em uma plataforma duvidosa de apostas.
Quando Temitope tentou freneticamente entrar em sua conta, descobriu que a senha tinha sido comprometida. Ela tinha sido vítima de um caso de fraude bancária.
"Foi uma experiência horrível para mim. É doloroso tentar lembrar o trauma pelo qual passei naquele momento", diz Temitope.
Infelizmente, a experiência dela não é isolada na Nigéria atualmente. Muitas pessoas passaram por situações semelhantes com o problemático sistema bancário do país, por exemplo com falhas em transações, saques ilegais, dentre outros. Em 2018, os nigerianos perderam mais de 15,5 bilhões de nairas (cerca de R$ 200 milhões) devido a atividades bancárias fraudulentas. Em 2020, as perdas foram estimadas em cerca de 5 bilhões de nairas (aproximadamente R$ 31 milhões).
Incidentes de fraude muitas vezes ficam sem solução, pois os bancos nigerianos têm uma relutância desconcertante em lidar com as preocupações dos clientes. As queixas também raramente são tratadas com prontidão pela polícia.
Em meio a essa realidade preocupante, Fisayo Soyombo, jornalista investigativo apaixonado por expor injustiças sociais, criou em 2020 a Fundação de Jornalismo Investigativo (FIJ na sigla em inglês), que usa o jornalismo em esforços de promoção da prestação de contas na sociedade. Um foco importante desse trabalho é lutar por justiça em nome de vítimas do sistema bancário falho da Nigéria.
Responsabilização das instituições
Assim como muitos nigerianos, Temitope descobriu que o banco não estava disposto a devolver o dinheiro que havia sido roubado dela. "Eu denunciei o incidente em uma das filiais do banco dois dias depois, mas o banco alegou que não podia fazer nada no meu caso", diz. "Eles me falaram que era um caso de fraude muito difícil de rastrear."
Com outras possibilidades de receber seu dinheiro descartadas, Temitope contou seu caso à FIJ. O veículo publicou uma matéria sobre a situação dela e entrou em contato com representantes do serviço de atendimento ao cliente do banco para solicitar que Temitope fosse compensada pelo roubo. Em três semanas, ela foi reembolsada pela perda.
"Sou grata à intervenção da FIJ", diz. "Muitas pessoas perderam dinheiro de forma fraudulenta e nunca o recuperaram porque não tinham o canal certo para apresentar suas queixas."
Casos como o de Temitope são a razão pela qual Soyombo criou a FIJ. "Eu sempre quis que o meu jornalismo vivesse por mais tempo que eu para beneficiar as pessoas, resolver problemas", diz Somboyo. "Eu pensei que criar uma organização para focar em cobertura de justiça social e jornalismo investigativo ajudaria nisso."
Os perfis da FIJ nas redes sociais normalmente ficam cheios de mensagens de pessoas com problemas bancários. O veículo também tem um serviço em que as pessoas podem enviar diretamente queixas de fraude bancária ou má gestão. Em todos os casos, a FIJ solicita evidências de quem está fazendo a reclamação, faz análises detalhadas e entra em contato com os bancos para receber a versão deles, o que serve para orientar as matérias publicadas. O veículo trata de 10 a 20 casos mensalmente e já colaborou para a recuperação de mais de R$ 700.000 para vítimas de fraudes desde a sua fundação, de acordo com Soyombo.
Outro exemplo do trabalho da FIJ é o caso de Adetunde Peter*. Ele economizou 2.300 libras para a pós-graduação da esposa no Reino Unido. Porém, o banco negou a ele o acesso aos recursos, alegando que não conseguia entrar na conta de Peter para retirar o dinheiro. Mesmo depois de ser informado que o saque era urgente, o banco recusou o acesso de Peter à conta, e consequentemente sua esposa não conseguiu realizar seus estudos.
Peter entrou em contato com a FIJ no Twitter. O veículo investigou e fez uma matéria sobre a história de Peter e ele acabou conseguindo que o banco liberasse o saldo remanescente.
"Se não fosse pela FIJ, sei que meu dinheiro ainda estaria preso naquele banco", diz Peter. "Nosso sistema não funciona como deveria, e se você não tem ninguém com quem falar e lutar em seu nome, você vai ficar desamparado porque o governo faz vista grossa."
Desafios
Apesar dos desafios financeiros, a FIJ se recusa a veicular anúncios ou receber apoio de corporações. O objetivo é preservar sua integridade e proteger os jornalistas de influências externas. Soyombo conta como exemplo o caso de um banco que queria anunciar na FIJ, mas recuou ao saber que o site iria investigá-lo.
Embora as investigações do site possam ser recompensadoras, elas muitas vezes também são frustrantes, diz Damilola Ayeni, editora da FIJ. Os bancos na maioria das vezes falham em responder prontamente às reclamações, violando o prazo máximo de resposta de 24 horas definido por regulamentação governamental. Estes atrasos podem obstruir o processo de reportagem, já que a política da FIJ é obter o lado do banco antes de publicar uma matéria.
Membros da equipe da FIJ também foram vítimas de ameaças por causa de seu trabalho. "Nós recebemos ameaças", diz Ayeni. Por exemplo, uma pessoa anônima mandou um email para a redação expressando a intenção de decapitar os repórteres.
Contudo, o site segue comprometido com a busca pela justiça para nigerianos injustiçados.
"Os bancos conseguiram escapar do escrutínio devido às regulamentações negligentes do setor e à falta de matérias críticas na mídia", diz Soyombo. "No fim das contas, não estamos particularmente interessados nos bancos. O interesse real do FIJ é preservar os recursos dos clientes."
*Nota: Os nomes usados não são reais.
Foto por Jake Allen via Unsplash.