Elementos da lei de crimes cibernéticos aprovada na Nigéria em 2015 violam o direito dos cidadãos à imprensa livre.
Embora a Constituição nigeriana garanta o direito da mídia de "sempre ser livre para defender a responsabilidade e prestação do governo ao povo", jornalistas no país seguem sendo presos e atacados por fazerem seu trabalho.
Em um esforço para evitar a repressão, o site Punocracy recorreu à reportagem satírica para tentar responsabilizar funcionários do governo.
A fundação do Punocracy
O jornalista investigativo e verificador de fatos Kunle Adebajo fundou o Punocracy em 2018, inspirado pela necessidade de preencher lacunas da cobertura jornalística identificadas por ele enquanto cobria ataques policiais contra a imprensa.
"Eu vi a sátira como uma forma de protesto escrito que não estava sendo muito explorado e não havia naquela época uma plataforma de destaque exclusivamente dedicada à promoção e publicação desse formato", diz Adebajo.
A equipe do Punocracy usa trocadilhos e humor sagaz para tratar de questões sociais. "Ser um facilitador da liberdade de expressão por meio da sátira é fundamental e central no meu trabalho", diz Adedimeji Quayyim, editor do site. "A sátira está se tornando um grande remédio para criar uma esfera facilitadora de expressão, especialmente em um ambiente no qual a liberdade de expressão é normalmente reprimida pelas instituições do governo."
Além das reportagens, a equipe de Adebajo organiza concursos de redação, oficinas e conferências. Frequentemente em busca de educar sobre as distinções entre sátira e desinformação, Adebajo vê o trabalho do Punocracy como parte de um esforço maior para combater a disseminação de informações falsas na Nigéria.
"Enquanto as notícias falsas são desinformação feita para enganar as pessoas, a sátira é humor usado para apontar para uma verdade social maior", diz. "Sempre tive interesse em construir um mundo onde a criação de conteúdo é equitativa e onde damos espaço para artigos e trabalhos artísticos que não são convencionais."
Destaque de injustiças e proteção dos colaboradores
O Punocracy tem o objetivo de popularizar a sátira na Nigéria e melhorar a alfabetização satírica do público, explica Adebajo. A sátira pode ainda ser usada para destacar injustiças, a exemplo do que buscou fazer este artigo sobre execuções extrajudiciais cometidas pela polícia nigeriana. Em outro artigo, o Punocracy chamou a atenção do público para as irregularidades que arruinaram as recentes eleições na Nigéria.
"Enquanto um grupo, nós também usamos humor para desencadear conscientização política e chamar atenção para os problemas das nossas comunidades. Uma das formas pelas quais fazemos isso é por meio de ilustrações e do nosso prêmio Pessoa do Ano", diz Adebajo. A premiação reconhece a resiliência de autores para ajudar a melhorar a popularidade da sátira entre os jovens, principalmente considerando a falta de oportunidades para quem faz sátiras.
Dada a natureza de suas reportagens, o Punocracy permite que seus colaboradores usem pseudônimos para protegê-los de possíveis retaliações.
"Nos casos em que tememos o surgimento de repercussões por conta de algum conteúdo, nós publicamos sob um pseudônimo e adicionamos mais humor para suavizar o impacto de uma possível repressão", diz Adebajo. "Dessa forma, protegemos identidades ao mesmo tempo em que mantemos a qualidade e essência do trabalho que publicamos."
Desafios e planos futuros
A sustentabilidade financeira é um grande desafio para o Punocracy. Embora a redação tenha feito parcerias para financiar projetos específicos e recebido alguns subsídios, a renda pessoal de Abebajo é o que financia em grande parte a iniciativa.
Olhando para o futuro, o Punocracy espera – e pretende – chegar a uma audiência maior e assumir projetos de reportagem mais ambiciosos. "Queremos criar uma comunidade. Queremos ter mais eventos presenciais. Queremos recompensar os autores regularmente. Queremos organizar mais projetos na interseção da sátira, jornalismo de prestação de contas e pensamento crítico. Queremos explorar formatos multimídia de narrativa humorística e queremos expandir para além da Nigéria", explica Adebajo.
Ele quer que o Punocracy atue contra problemas urgentes, como violência sexual e abuso de substâncias, e estimule inclusão e equidade de gênero. Por meio da sátira, Adebajo também espera promover o pensamento crítico, tolerância a visões opostas e receptividade – não só na Nigéria, mas em toda a África.
"Queremos ter mais projetos que demonstrem todas essas possibilidades por meio de colaborações com várias redações, grupos da sociedade civil e agências do governo", diz.
Foto por Emmanuel Ikwuegbu via Unsplash.