Muhammad Rizki olha atentamente para o seu celular enquanto assiste a uma reportagem do veículo indonésio KamiBijak sobre Edy Susanto, jogador de badminton surdo. Rizki, que também é surdo, sorri de vez em quando à medida que acompanha a matéria: Susanto perdeu a audição quando tinha dois anos, depois de uma febre alta. A condição não o desencorajou de praticar esportes e hoje ele se destaca na modalidade.
"Conteúdo sobre pessoas com deficiência bem-sucedidas é o meu favorito", diz Rizki, na linguagem de sinais.
Em 2015, a Agência Central de Estatística da Indonésia identificou que mais de nove milhões de pessoas com mais de 10 anos no país têm deficiência auditiva. Em outra pesquisa, a agência estimou que existiam mais de 22 milhões de pessoas com deficiência na Indonésia em 2020, cerca de 5% da população total. Um estudo do Instituto de Pesquisa SMERU, com sede em Jakarta, mostrou que indonésios com deficiência sofrem discriminação significativa, o que pode comprometer seu desenvolvimento. Eles tendem a ter menos qualidade de vida que as pessoas sem deficiência, incluindo níveis mais baixos de educação e saúde, oportunidades de trabalho mais limitadas e menos acesso a serviços públicos.
Devido ao acesso limitado à informação enfrentado pelas pessoas surdas e com deficiência auditiva na Indonésia, Paulus Ganesha Aryo Prakoso criou o KamiBijak — uma forma abreviada para "Nós falamos a língua de sinais Jakarta" — em setembro de 2018. O veículo tem sua cobertura voltada para pessoas com deficiência, principalmente aquelas com deficiência auditiva.
"Somos o primeiro veículo de mídia na linguagem de sinais na Indonésia", diz Prakoso. "Nossa esperança é que o KamiBijak seja não só uma fonte de informação como também um estímulo para que pessoas com deficiência continuem trabalhando". Através do site, do canal no YouTube e perfil no Instagram, o KamiBijak veicula notícias sobre pessoas com deficiência, como seu trabalho e conquistas profissionais, bem como cursos e serviços de saúde disponíveis para essa população.
A maior parte do conteúdo do site oferece reportagens mais positivas sobre os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência e como elas lidam para superá-los. Este conteúdo no Instagram, por exemplo, mostrou como um estudante surdo completou os estudos, enquanto este vídeo mostrou atletas com deficiência. O KamiBijak também divulga informações sobre políticas do governo voltadas para pessoas com deficiência.
"Cerca de 70% do nosso conteúdo é relacionado a deficiência e os 30% restantes são assuntos gerais", diz Prakoso.
Fazendo a diferença
Há dois anos, o KamiBijak é uma fonte de informação para Rizki. O conteúdo deu a ele um contraste muito bem-vindo em relação à cobertura da grande mídia: poucos programas têm intérpretes da linguagem de sinais e aqueles que têm frequentemente contam com intérpretes cuja tradução é tão rápida que Rizki mal consegue entender.
Dina Handayani, que nasceu surda, encontra obstáculos parecidos quando tenta acompanhar o noticiário. Ela explica como o espaço para tradutores no noticiário é frequentemente pequeno e como é difícil ver os movimentos que eles fazem com as mãos. "É diferente do KamiBijak, em que o intérprete da linguagem de sinais ocupa um espaço maior na tela e se movimenta mais devagar, fazendo com que eu entenda a informação mais facilmente", diz.
Os obstáculos que Rizki e Handayani mencionaram não são incomuns para pessoas surdas, diz Prakoso.
"Nossas transmissões são feitas não só com linguagem de sinais como também têm legendas e áudio, facilitando o acesso não só de pessoas surdas como também de pessoas com outras deficiências", diz Prakoso.
A equipe do KamiBijak
Quatro dos seis funcionários de tempo integral do KamiBijak são surdos. Isso inclui o apresentador, cinegrafista e criadores de conteúdo.
Prakoso contrata pessoas surdas e com deficiência auditiva principalmente para que elas aprimorem suas habilidades e para dar a elas uma oportunidade de carreira no jornalismo. Isso ainda permite que o veículo crie conteúdo com o qual seu público-alvo possa se identificar. Os funcionários que não são surdos e sabem se comunicar na linguagem de sinais são usados para facilitar as entrevistas entre os repórteres surdos e fontes que não são.
Um ambiente de mídia adaptado para a deficiência
Rizki espera que mais veículos adaptados para a deficiência surjam no futuro. "Eu acho que não só eu, mas também outras pessoas com deficiência ficam bem satisfeitas com os veículos que entendem nossas necessidades", diz.
Handayani acredita que pessoas surdas deveriam ter mais oportunidades para melhorar suas habilidades e conhecimento. "Comunicar-se de um jeito diferente não significa que as pessoas surdas não têm liberdade para interagir, trabalhar ou receber informação como as pessoas que conseguem ouvir", diz.