Quer diversificar suas fontes? Busque variadas associações

Apr 10, 2024 em Diversidade e Inclusão
Three women at a table  in a well-lit office

Fontes não-brancas são sub-representadas no noticiário. Embora não seja bem estudado, já que muitas das pesquisas sobre diversidade na mídia focam em redações, o problema surge quando monitorado.

Quando a NPR começou a monitorar a diversidade de suas fontes em 2013, descobriu que 77% delas eram brancas. Desde que passou a chamar atenção para o problema, a NPR aumentou a quantidade de fontes não-brancas para 39%, de acordo o relatório mais recente, de 2021, ainda abaixo dos 43% de pessoas nos EUA que se identificam como não-brancas.

Hoje, mesmo com a internet tendo facilitado para os jornalistas o trabalho de encontrar fontes, nos EUA elas permanecem predominantemente brancas. Os algoritmos têm uma parcela de culpa, pois eles empurram os jornalistas para pessoas que já foram citadas em diferentes tópicos, mas também é hábito dos jornalistas voltar a falar repetidamente com fontes que eles já conhecem. Na minha carreira como jornalista, produtora de programas jornalísticos e produtora de TV, sou a própria culpada por esse padrão. 

Quando a mídia faz a cobertura de grupos marginalizados, mas falha em incluir pessoas desses grupos nas matérias, a confiança na mídia diminui, de acordo com uma pesquisa de 2023 da Pew Research sobre a experiência de pessoas negras nos EUA com as notícias. Mais da metade dos respondentes citou a inclusão de mais fontes negras como uma forma de tornar mais justa as reportagens sobre pessoas negras.

Jornalistas devem entrar em contato de forma ativa com fontes indígenas, negras e de diferentes grupos raciais e étnicos ao fazer matérias sobre esses grupos. Também devem buscar essas mesmas fontes ao cobrir assuntos que vão além da raça.

Felizmente, há um jeito fácil de diversificar as fontes: para praticamente qualquer área de especialidade, há uma associação profissional – um grupo criado para fazer contatos, defender interesses, educar e informar sobre a profissão.

Em muitos casos, há associações profissionais especificamente para profissionais negros, indígenas e de diversas etnias. Os conselhos diretores dessas associações são compostos por especialistas desses grupos e muitas vezes realizam convenções, simpósios e outros eventos que reúnem especialistas em suas respectivas áreas. Como bônus adicional, muitas dessas associações também têm contatos dedicados à mídia.

Entrar em contato com essas associações pode ajudar os jornalistas a diversificar as fontes entrevistadas. A seguir estão algumas delas pertencentes a áreas comumente cobertas por jornalistas:

Saúde e assistência à saúde

Médicos têm várias organizações profissionais com as quais se pode entrar em contato, incluindo a conhecida e muito citada Associação Médica Americana. Mas por que não fazer contato também com a Associação Médica Nacional (NMA na sigla em inglês)?

A NMA, um "coletivo de vozes de médicos afro-americanos e a força motriz em nome da paridade e justiça na medicina e pela eliminação de disparidades na saúde", oferece uma oportunidade para entrar em contato com fontes negras da área médica. Assim como a maioria das organizações de saúde, a NMA publica releases sobre questões de saúde importantes, e neles há contatos para a mídia.

A Associação de Médicos Indígenas Americanos, o Conselho Nacional de Médicos da Ásia-Pacífico e a Associação Médica Nacional Hispânica têm missões similares para suas respectivas comunidades. Essas organizações têm uma presença robusta nas redes sociais, onde destacam vozes fundamentais sobre temas importantes que muitas vezes são excluídos do debate.

Outras associações da área de saúde para considerar fazer contato incluem a Associação de Mulheres Negras Médicas, a Sociedade Neuropsicológica Hispânica e a Sociedade de Cirurgiões Acadêmicos Asiáticos

Negócios

Na cobertura de negócios, encontrar uma diversidade de fontes, principalmente no nível executivo, pode ser desafiador, devido à falta de executivos de grupos sub-representados. Um estudo de Harvard de 2023 descobriu que, das 100 empresas no índice S&P 500, somente 23% dos executivos se identificaram como asiáticos, negros ou hispânicos/latinos. Do mesmo modo, das primeiras 50 empresas na Fortune 500, apenas sete CEOs eram de grupos não-brancos, em agosto de 2023.

Organizações como o Conselho Executivo de Liderança, que está trabalhando para aumentar o número de executivos negros de sucesso, pode ajudar repórteres a encontrarem especialistas de grupos diversos no setor de negócios.

A maioria dos negócios nos EUA não é composta por empresas de capital aberto que aparecem no S&P 500 ou em listas como a Fortune 500. A Câmara de Comércio dos EUA representa mais de três milhões de negócios em todo o país (incluindo muitas que estão no S&P 500), mesmo assim um estudo realizado pelo Public Citizen descobriu que quase 50% do financiamento do órgão vem de 46 doares. Isso resultou em posicionamentos políticos que defendem mais as grandes empresas tradicionais, às vezes em detrimento de pequenos negócios.

Para jornalistas que cobrem empresas menores, entrar em contato com organizações como a Câmara Negra dos EUA, a Câmara de Comércio Pan-Asiática dos EUA ou a Câmara de Comércio Hispânica dos EUA pode ser mais produtivo. Eu recomendaria analisar o conselho diretor ou o conselho consultivo em busca de lideranças a fim de entrar em contato com eles por meio de suas respectivas empresas.

Isso pode ser especialmente útil quando se está buscando por fontes mais nichadas ou locais. Em uma pauta sobre construção, a Associação Hispânica Nacional de Construção pode levar a sites e informações de contato para seções regionais. Para pautas sobre imóveis, a Associação Asiática de Imóveis dos EUA representa profissionais de origem asiática que trabalham no setor e produz estudos e documentos que analisam como a área impacta esse segmento da população, o que pode levar a fontes diretas. A Associação de Consultores Financeiros Afro-americanos lista os membros do seu conselho junto com seus cargos e empresas. Repórteres podem usar essa informação para entrar em contato com empresas como CitiBank e JP Morgan diretamente com um nome em mente.

Ciência e tecnologia

A área de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, que historicamente é dominada por homens brancos, está gradualmente se tornando diversa, de acordo com a Fundação Nacional de Ciência. Há várias associações de profissionais de grupos diversos com especialistas à disposição.

Com uma gama ampla de programas para cientistas jovens, colegiados e profissionais, a Associação Nacional de Engenheiros Negros pode te guiar por fontes em um espectro amplo de assuntos. Fique de olho na conferência anual da associação, que tem uma lista impressionante de palestrantes.

Sociedade para o Avanço de Mexicanos/Hispânicos e Povos Nativos na Ciência também oferece em seu site informações sobre conferências próximas e anteriores. Este pode ser um recurso excelente para identificar fontes hispânicas e de povos nativos na área de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Educação

Embora a população estudantil seja significativamente mais diversa, o ensino ainda é dominado por educadores brancos e não-hispânicos  – são quase 80% nas escolas públicas. Reportagens que não incluem vozes marginalizadas deixam de fora do debate uma faceta importante da política educacional, por exemplo, como estresse e trauma podem impactar principalmente a escolarização de estudantes negros. 

Organizações como a Aliança Nacional de Educadores Negros e Latinos pela Educação estão trabalhando para lidar com a disparidade na educação primária e secundária. Na educação superior, a Associação Americana de Negros no Ensino Superior e a Associação Americana de Hispânicos no Ensino Superior se dedicam a aumentar o número de professores de diferentes origens raciais e étnicas em faculdades e universidades.

De forma alguma essa é uma lista completa de organizações. É um ponto de partida para considerar como diversificar as fontes na hora de produzir matérias ou convidar especialistas para programas jornalísticos ou eventos. Ao fazerem isso, jornalistas podem ir além das fontes óbvias, aprofundar e encontrar especialistas que podem dar perspectivas mais amplas e inclusivas sobre os temas em questão. 


Foto por Christina Morillo via Pexels.