Dicas para melhorar a cobertura de comunidades negras

Apr 11, 2023 em Diversidade e Inclusão
People in neighborhood

Representações históricas de pessoas negras feitas pela mídia estão enraizadas em anos de violência colonial. A consequente deturpação no noticiário, que por séculos tem contado com estereótipos e arquétipos racistas, gerou um efeito dominó, impactando a percepção da audiência ao encorajar preconceitos raciais nos dias de hoje. 

Plataformas de mídia contemporâneas podem consciente ou inconscientemente reiterar estas representações. Jornalistas devem estudar sobre preconceitos históricos da mídia e aprender a enquadrar suas matérias de forma a humanizar suas fontes – em vez de fazer somente um esforço superficial.

No entanto, melhorar a representação de pessoas negras pode ser difícil para jornalistas. Desafiar o desequilíbrio institucional requer um compromisso com a pesquisa e o entendimento de números sobre representatividade.

Nos Estados Unidos, por exemplo, as famílias negras equivalem a 59% das pessoas pobres representadas na mídia, apesar de corresponderem a somente 27% dos americanos que estão na pobreza, de acordo com um estudo da organização de justiça racial Color of Change. Pessoas negras também têm quase três vezes mais chances de serem retratadas como dependentes de assistência social.

O estudo também descobriu que a mídia mostrou pais negros passando um tempo com seus filhos quase metade da frequência em comparação com pais negros. Além disso, embora pessoas negras representem 37% dos criminosos representados no noticiário, na verdade eles constituem 26% dos presos por acusações criminais.

Ao mesmo tempo, pessoas negras seguem sub-representadas nas redações: um estudo de 2019 do Pew Research Center identificou que embora 11% da força de trabalho dos Estados Unidos seja negra, 7% dos trabalhadores nas redações são negros. Há uma representatividade ligeiramente mais proporcional nos canais de TV locais, nos quais somente 12% dos trabalhadores são afro-americanos. Enquanto isso, somente 6% dos diretores de jornalismo – que compõem a liderança de tais redações – são negros, contra 2% em 1995, de acordo com o estudo. 

Freelancers e contratados têm o poder de melhorar aos poucos a representação positiva da diversidade. A seguir estão três dicas para jornalistas cobrirem de forma ética pessoas e comunidades negras.

Dê espaço para jornalistas negros

A consciência do lugar de fala de cada um é um aspecto fundamental da representatividade interseccional. As perspectivas de pessoas em posições de privilégio podem falhar em levar em consideração de forma completa as experiências de pessoas que não tiveram as mesmas vantagens históricas.

Consequentemente, jornalistas negros e de outros grupos marginalizados podem ser mais capazes de destacar questões sub-representadas e narrativas que, de outra forma, não seriam abordadas na cobertura de suas comunidades. 

Jornalistas podem compartilhar oportunidades de trabalho com jornalistas negros no boca a boca, nas redes sociais e se oferecendo como referência. Ainda que a redistribuição de recursos pareça ser uma tarefa de longo prazo, a melhor representatividade pode mudar jornalistas e matérias pouco a pouco.

Jornalistas que não puderem abrir espaço para profissionais negros devem ser honestos sobre seus preconceitos e lugar de fala. Isso pode ajudar a audiência a identificar as lentes através das quais esses jornalistas estão informando.

Nesse processo, os profissionais devem reconhecer sua própria capacidade de falhar. Por exemplo, mesmo um jornalista com objetivo de dar espaço para uma pessoa trans negra pode inadvertidamente dar um tratamento superficial a ela, ao tornar sua identidade racial e de gênero o foco da pauta, em vez de dar espaço para sua experiência humana como um todo. 

Esteja ciente do complexo do salvador

É importante que repórteres estejam cientes de potenciais complexos de salvador que eles podem desenvolver a partir de culpa branca geracional e outras formas de privilégio histórico. Às vezes, as perspectivas de aliados que não são negros podem superficializar e subjugar a representação de pessoas negras.

Um repórter, por exemplo, pode sem querer enviesar uma narrativa para dar valor a noções de sucesso e ideais capitalistas, como hiperprodutividade. De acordo com um estudo de 2020 do E-International Relations, "dentro do "complexo do branco salvador, o centro das relações Eu-Outro depende da subjugação de homens negros para reproduzir as relações de produção dentro do sistema capitalista". 

Outra forma pela qual esses estereótipos podem aparecer é quando um repórter molda uma narrativa em torno de um único indivíduo bem-sucedido – como um empresário em uma área habitada por uma população negra de baixa renda – em vez de representar as questões dinâmicas na comunidade. Isso enfraquece a complexidade das dinâmicas sociopolíticas em jogo.

Envolver-se de forma transparente com as fontes, e fazer perguntas sobre como elas gostariam de ser representadas, pode ajudar a combater preconceitos. Ao reportar sobre questões sensíveis em particular, jornalistas podem considerar oferecer às suas fontes uma visão geral da abordagem de seu artigo. Isso pode incluir um resumo de como suas fontes são representadas, assim elas podem ter um entendimento de como estão sendo retratadas e se prepararem para a percepção pública da matéria.

Também pode ser útil pedir feedback a outra pessoa da comunidade sobre a qual você está escrevendo (ou a um especialista sobre ela), desde que ela seja compensada de forma justa por seu trabalho e tenham a capacidade de fazê-lo. 

Diversifique suas fontes e narrativas ao longo do ano

Jornalistas devem sempre achar um jeito de incluir mais pessoas negras nas suas matérias cotidianas – fora daquelas "noticiáveis" sobre prisões ou celebridades negras – por meio da diversificação de suas fontes. Para fazer isso, jornalistas podem consultar uma grande variedade de referências em tópicos acadêmicos e científicos específicos. A  Associação de Bibliotecas Universitárias e de Pesquisa (ACRL na sigla em inglês), por exemplo, compartilha bases de dados abrangentes e materiais para melhorar a qualidade da pesquisa sobre a população negra nos Estados Unidos.

Melhorias na representatividade requerem um esforço de longo prazo conjunto de jornalistas e profissionais de mídia em todo o setor. Em contraste com narrativas do complexo de salvador que mostram pessoas negras como empresárias bem-sucedidas e hiperprodutivas, há oportunidades para focar em matérias sobre pessoas negras comuns, como professores, pais solteiros e recém-formados na faculdade.  

Representar pessoas negras eticamente nas suas matérias pode ocorrer por meio do comprometimento em aliar-se de inúmeras formas. Com o Mês da História Negra nos Estados Unidos este ano já no passado, e possivelmente uma redução em sugestões de pautas sobre a população negra, siga reconhecendo o seu privilégio e ajude a redistribuir o acesso aos recursos.


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