Este artigo foi publicado originalmente como um recurso no nosso Kit de Ferramentas para a Mídia no Exílio, produzido em parceria com a Network of Exiled Media Outlets (NEMO) e com o apoio generoso do Joyce Barnathan Emergency Fund for Journalists.
Os programas de membros — que são diferentes das "assinaturas tradicionais" — e campanhas de arrecadação de fundos estão se tornando cada vez mais relevantes para a mídia independente nos dias de hoje, principalmente para os veículos sem fins lucrativos.
A lógica por trás desses modelos é simples, mas poderosa: se você cultivar uma comunidade leal, engajada e grata, você pode convidá-la a apoiar financeiramente o seu trabalho.
Os veículos latino-americanos exilados Confidencial (Nicarágua) e El Pitazo (Venezuela) testaram essas abordagens e obtiveram resultados diferentes. O Confidencial mantém atualmente um programa de membros, enquanto o El Pitazo encerrou seu programa após dois anos, devido a um retorno ruim sobre o investimento.
O caso do El Pitazo: muita expectativa, realidade difícil
Em 2022, o El Pitazo tinha razão para estar otimista. Uma pesquisa preliminar havia revelado que 60% dos respondentes estavam dispostos a contribuir financeiramente. A equipe desenvolveu níveis diferentes de membros, criou conteúdo exclusivo e lançou o programa.
Mas a realidade não correspondeu às expectativas. O número de membros nunca ultrapassou cem pessoas. Além disso, muitos dos que aderiram ao programa não estavam interessados em receber recompensas ou participar da comunidade.
"Eles respondiam nossos convites falando 'ok, eu apoio vocês, mas não quero me envolver. Estou muito ocupado'", lembra o diretor César Batiz.
O programa também tinha custos ocultos — tempo, infraestrutura, comunicação constante — que apertaram uma equipe que já era limitada. No contexto de uma Venezuela empobrecida e digitalmente fragmentada, o esforço foi muito maior que o retorno.
Em abril de 2023, o El Pitazo tomou a decisão estratégica de encerrar o programa. Não como uma derrota, mas como uma opção financeiramente sensata. "Não podíamos continuar depositando energia em algo com tão pouco retorno", diz Batiz. "Mas não trocaria por nada o que aprendemos."
O caso do Confidencial: foco cívico e mudança cultural
Um dos desafios mais sutis porém críticos enfrentados pelo Confidencial foi educar sua audiência sobre o que de fato significa um programa de membros. Em um ambiente no qual a maioria das pessoas associa conteúdo pago a assinaturas comerciais (como Netflix ou Spotify), o veículo tinha que distinguir claramente seu programa.
A equipe do Confidencial fez uma comunicação consistente: o programa de membros não era só um paywall ou serviço transacional. O conteúdo continuaria gratuito e aberto. A adesão ao programa de membros era um ato voluntário de comprometimento cívico — uma forma de defender o direito coletivo à informação e apoiar o jornalismo independente sob cerco.
"O Confidencial é um veículo de acesso aberto. Não temos um paywall porque acreditamos que o jornalismo independente é um bem público. Mas ele tem um custo. É por isso que convidamos nossos leitores a ajudar a sustentar o veículo, como forma de defender o direito de saber", diz a mensagem usada para o programa de membros.
Embora os membros tenham acesso a newsletters, ebooks e ao arquivo digital como uma forma de valor agregado, a mensagem central é clara: "você não está pagando para receber nada; você está contribuindo para que algo que é vital possa continuar existindo".
Apesar dos obstáculos, o modelo está colhendo os frutos. O Confidencial criou uma comunidade de apoio ativa, principalmente entre a diáspora nicaraguense. O programa de membros ainda não é a principal fonte de receita do veículo, mas se tornou um pilar simbólico e prático de sua independência.
O exílio também forçou adaptações técnicas — processamento de pagamentos internacionais, atendimento ao público em diferentes fusos horários e níveis variados de acesso digital.
Mas o maior desafio talvez seja o cultural: reforçar, repetidamente, que um programa de membros não tem a ver com exclusividade. Tem a ver com solidariedade. Com mostrar que o valor não está naquilo que você recebe, mas no que você ajuda a tornar possível para os outros. É uma forma de educação cívica de longo prazo que requer paciência, clareza e consistência.
Foto por Christian Dubovan via Unsplash.
Nieves criou este recurso como parte de suas atividades no programa ICFJ Knight Fellowship.