Publicação amplifica as vozes femininas na Nigéria

Apr 5, 2022 em Diversidade e Inclusão
A woman working in her office.

Estudantes na Nigéria aprendem na escola que Funmilayo Ransome-Kuti foi a primeira mulher a dirigir um carro. Porém, seu ativismo político raramente é mencionado em sala de aula. Nwanyeruwa comandou milhares de mulheres de Aba em protestos em 1929, quando elas foram taxadas com impostos, apesar de terem uma renda quase escassa. Mas os esforços dela também são frequentemente subestimados.

Embora os historiadores destaquem as contribuições de homens na política para a independência do país, como Obafemi Awolowo e Nnamdi Azikiwe, eles reduzem os esforços de mulheres a uma menção superficial nos livros.

A discriminação de gênero está enraizada na história da Nigéria. O país ocupa a posição 128 de um ranking com 153 nações que mede a disparidade de gênero, segundo relatório de 2020 do Fórum Econômico Mundial. As mulheres contribuem em casa e no mercado de trabalho, apesar de todos os setores serem dominados por homens. Elas se empenham para que haja mudanças, mas precisam aceitar a possibilidade de seus esforços não serem reconhecidos. O apagamento das mulheres é efetivamente uma forma de discriminação.

"Somente quando os impactos das mulheres forem reconhecidos, a Nigéria será vista como uma nação progressista e um país que leva em conta os direitos, impactos e futuro das mulheres", diz Sarah Egbo, chefe de políticas na Vender Mobile Initiative.

Mudando a narrativa

Criada no país mais populoso da África, a jornalista investigativa Kiki Mordi testemunhou o quanto as contribuições das mulheres para a sociedade vinham sendo desprezadas. Diante da gravidade do atual apagamento do impacto das mulheres, Mordi se perguntou o quão pior isso foi no passado, especialmente na época pré-internet. Tendo isso em mente, Mordi se sentiu inspirada a criar a Document Women, uma iniciativa de mídia que fornece aos leitores o conhecimento necessário para lutar pela igualdade de gênero.

"Eu sou uma contadora de histórias e queria criar o meu próprio veículo de mídia. Eu sei que essa é uma história que sou sempre inclinada a contar — histórias de mulheres e a minha paixão por batalhar contra o apagamento delas", diz.

A publicação online combate o apagamento das contribuições de mulheres para a sociedade no passado e no presente. Ela amplifica as vozes femininas, informa sobre os desafios que elas enfrentam e reconhece os impactos que elas têm na sociedade. O veículo também defende mulheres vítimas de abuso, conectando-as a recursos. A plataforma ainda ajuda mulheres a conseguirem oportunidades de emprego.

A Document Women se empenha para destacar histórias que não estão na grande mídia. A editoria "Arewa Voices", por exemplo, apresenta histórias de mulheres do norte da Nigéria, com matérias que já trataram da realidade da mutilação genital feminina e como é o Natal para mulheres cristãs da região.

A editoria "Working Womxn" lança luz sobre conquistas de mulheres da classe trabalhadora do país, e a cobertura vai além das fronteiras da Nigéria com a editoria "Iconic Women", que tem matérias que reconhecem as conquistas de mulheres em diferentes áreas. A editoria DW Pride promove diversidade de gênero ao contar histórias de pessoas LGBTQ+. Essas matérias são difíceis de se encontrar em uma sociedade conservadora como a nigeriana e frequentemente geram reações violentas.

Desafios

Mordi e sua equipe tiveram que superar obstáculos, como corrupção e dificuldades no fornecimento de energia elétrica, no lançamento da Document Women. A carência de dados representativos sobre os nigerianos, especialmente sobre as mulheres, também é um desafio para a redação.

"Queremos números para sustentar nossas investigações e afirmações. Descobrimos que os dados são escassos e não são representativos [das mulheres nigerianas]", diz Morid.

Planos de Mordi para a Document Women

Mordi espera transformar a Document Women em uma publicação grande e lucrativa, capaz de competir no ecossistema de mídia da Nigéria. Porém, o veículo às vezes é ignorado porque a produção midiática no país é amplamente centrada nos homens.

"É possível documentar as mulheres e fazer dinheiro. O que existe sobre as mulheres que as pessoas não querem ler?"

O futuro é feminino

Mordi e sua equipe têm planos ambiciosos para expandir a missão da Document Women. Elas esperam converter a plataforma em uma incubadora para outras startups que destacam e dão apoio a mulheres na tecnologia, política e outras áreas. Ela também espera aumentar a quantidade de estatísticas e informações disponíveis sobre mulheres africanas.

"Acreditamos que os dados são um aspecto importante da narrativa e um grande motor de mudança. Queremos construir a maior biblioteca digital dedicada a mulheres", diz Mordi. "Todo produto que lançamos é para trazer equilíbrio no ecossistema e ajudar a combater o apagamento estrutural enfrentado pelas mulheres."


Foto por Brandy Kennedy no Unsplash.