Os jornalistas estão entre os trabalhadores na linha de frente que têm saído para garantir que o público receba suas notícias, apesar dos riscos do novo coronavírus. Em muitos casos, devem enfrentar não apenas os riscos da COVID-19 à saúde, mas também os perigos de cobrir agitações civis, como os protestos que varreram os Estados Unidos nas últimas duas semanas. Enquanto todos os jornalistas e suas equipes enfrentam essas ameaças, os freelancers estão entre os mais vulneráveis.
Em resposta à pandemia, uma aliança de organizações de notícias, grupos do setor e organizações de liberdade de imprensa divulgou um conjunto de protocolos de segurança para organizações de notícias, especialmente as que trabalham com freelancers, que estão enfrentando desafios sem precedentes para reportar com segurança durante a pandemia de COVID-19.
"Quando a COVID explodiu, percebemos que afetaria a todos, é uma história delicada e, mesmo no ambiente mais seguro, você precisará de medidas de segurança", disse Elisabet Cantenys, diretora executiva da ACOS Alliance, cuja organização desenvolveu os protocolos e ajudou a organizar o acesso seguro para freelancers. "Estou chocada com as conversas que tive com editores, onde tive que convencê-los sobre a importância da segurança ou dos protocolos de segurança."
Ela espera que a COVID-19 possa mudar isso.
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"A COVID-19 tornou a conversa sobre segurança inevitável, e isso representa uma oportunidade", disse Cantenys. A ACOS representa uma cultura de segurança, e ela espera que o “lado positivo” do coronavírus seja levar as conversas sobre segurança além do jornalismo de conflito e as incorpore nas rotinas da redação.
Ser capaz de discutir as necessidades de segurança e suas implicações associadas ao custo de cobrir uma notícia é fundamental para permitir que jornalistas freelancers trabalhem com segurança, de acordo com especialistas do setor. O novo coronavírus levou ao fechamento de fronteiras, quarentenas e restrições ao movimento, sem mencionar as preocupações de saúde associadas a um vírus contagioso, que afeta a maneira como os jornalistas podem trabalhar com segurança.
"A diferença é que isso afeta 100% de nossos projetos e muda a maneira como trabalhamos fundamentalmente como produtores freelancers", disse Jaron Gilinsky, fundador da plataforma Storyhunter que conecta freelancers com os trabalhos de reportagem. "Não há nada assim que eu vi desde que fundei a empresa [em 2012]", incluindo o surto de ebola e o sequestro do ISIS de um de seus freelancers. Eles fornecem orientações para gravar vídeos em campo depois de receber perguntas de editores e produtores sobre como proceder.
Todos os jornalistas que saem em reportagem agora devem considerar as implicações para a saúde e se preparar adequadamente: o que significa que fazer uma avaliação de risco é mais crítica do que nunca.
Anna Therese Day, jornalista freelance e cofundadora do Frontline Freelance Register (FFR), uma organização associativa para freelancers internacionais, disse que nos primeiros dias havia uma corrida para empregar freelancers para cobrir os primeiros surtos. Alguns editores correram para designar matérias e colocar as pessoas em aviões sem pensar nas implicações de segurança ou fornecer contratos com contingências como contrair a doença ou ficar preso em algum lugar.
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“Quando a pandemia começou, eu sei que muitos outros membros da FFR receberam muitos telefonemas para cobrir isso por causa de nosso treinamento em ambiente hostil, mas o que foi frustrante foi que não havia protocolos para servir como exemplo para a pandemia e nosso treinamento não se traduz necessariamente em coronavírus ou em um risco à saúde como esse”, explicou ela.
Até organizações de mídia que têm especialistas em segurança na equipe descobriram que precisavam se familiarizar rapidamente com o que a pandemia significa para sua equipe e freelancers. Eles tiveram que atualizar seus conselhos e ajudar freelancers a descobrir como desenvolver uma consciência situacional quando as informações disponíveis sobre o novo vírus de fontes confiáveis como a Organização Mundial da Saúde (OMS) evoluem à medida que os especialistas aprendem mais.
"Como profissionais de segurança, vocês precisam se adaptar", disse Janelle Miller, chefe global de segurança da TIME, que começou lá apenas algumas semanas antes da OMS declarar a pandemia de coronavírus e que não tinha experiência em saúde. "Vocês precisam fazer pesquisas para se sentir à vontade para proteger sua equipe [incluindo freelancers]."
Garantir que um repórter tenha o equipamento de proteção individual (EPI), o planejamento e o suporte pré-reportagem necessários para trabalhar com segurança tornou-se crítico para qualquer editor considerar. Os freelancers correm um risco particular porque geralmente não têm acesso a EPI e seguro de saúde adequado e podem não ser pagos por uma matéria até bem depois do fato. E o que acontece se eles ficarem doentes com o vírus como resultado da apuração? Como isso será tratado e pago?
Os protocolos de segurança da ACOS Alliance fornecem um guia passo a passo para refletir e considerar os problemas de segurança da reportagem de COVID-19, durante e depois. Desde a elaboração de um plano de comunicação até uma lista básica de EPIs, os protocolos são projetados para fazer com que editores e jornalistas falem sobre segurança e pensem em quanto custa cobrir a história com segurança.
Os editores e produtores que não trabalharam com jornalistas que operam em um ambiente hostil ou zona de conflito podem não estar familiarizados com o uso de protocolos de segurança.
"Na maioria das vezes, os editores são muito responsáveis e se preocupam com as pessoas, os fotógrafos, que estão trabalhando para eles, mas eles podem ter recursos limitados e podem não conseguir fazer tudo o que querem", disse Glenna Gordon, fotojornalista freelance que cobriu o surto de ebola. Qualquer líder de redação gostaria de ter um conjunto de protocolos de segurança para ajudar editores e freelancers a descobrir como assumir riscos calculados, disse ela.
Como observam os protocolos de segurança, garantir a saúde e a segurança dos jornalistas de uma empresa não é apenas um imperativo moral, mas também ajuda a proteger um dos ativos mais importantes da organização: os jornalistas.
“A segurança está protegendo seu produto, seus jornalistas. É melhor garantir que todos esses ativos estejam funcionando”, disse Catenys.
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Courtney C. Radsch, Ph.D., é diretora de advocacia do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, membro fundador da ACOS Alliance e publicou vários avisos de segurança para jornalistas que trabalham durante a COVID-19.
O Centro Internacional para Jornalistas — organização-matriz da IJNet — está trabalhando com o Tow Center for Digital Journalism da Universidade de Columbia para entender melhor como a pandemia está afetando o jornalismo, incluindo a segurança. O Comitê para a Proteção dos Jornalistas firmou parceria nos aspectos de liberdade de imprensa do projeto "Jornalismo e Pandemia". Se você é um líder em uma organização de notícias, um jornalista ou outro profissional da mídia, o ICFJ convida você a participar da pesquisa (disponível em vários idiomas, incluindo em português).
A imagem principal foi criada pela ACOS Alliance para promover os novos protocolos de segurança.