Projeto amplifica vozes de migrantes africanos

Oct 17, 2024 em Temas especializados
Man holding a UK and a Nigerian flag

Centenas de milhares de refugiados e migrantes da África Subsaariana arriscam suas vidas todos os anos fugindo de condições econômicas precárias, perseguição ou conflito. Em direção à Europa, muitos buscam melhores oportunidades de educação e emprego.

Um relatório do Alto-comissariado da ONU para os Refugiados de abril de 2024 observou que, por exemplo, estimadas 3.045 pessoas morreram ou estão desaparecidas nas rotas de imigração do mar Mediterrâneo desde o último relatório sobre o tema, publicado em julho de 2022.

Embora a migração seja uma questão importante sobre a qual as redações frequentemente informam, as pessoas que fazem essas viagens raramente veem uma cobertura sobre suas experiências pessoais e os desafios enfrentados. 

Em junho de 2023, os jornalistas nigerianos Amaka Obioji e Chimme Adioha cofundaram o Diaspora Africa para empoderar imigrantes africanos para que eles contribuam, se envolvam e atuem na defesa de políticas inclusivas para protegê-los e amplificar suas vozes.

"Estamos conectando os migrantes com outros migrantes, ouvindo-os e contando as histórias deles usando a mídia e tecnologias digitais para amplificá-las, na esperança de que isso chegue às pessoas certas", diz Obioji.

Contando histórias de migrantes

O Diaspora Africa usa coleta de dados, jornalismo de soluções e pesquisa baseada em evidências para registrar "as nuances e dinâmicas da imigração" no continente, explica Obioji.

"Nosso objetivo é que, por meio do nosso trabalho, governos e instituições vão entender melhor os problemas que afetam os migrantes africanos e ajudá-los a criar políticas melhores", diz.

Desde sua criação, o Diaspora Africa já cobriu como a política de migração do Reino Unido nega a alguns migrantes o direito de levar suas famílias junto com eles e como a negligência infraestrutural por parte de autoridades estatais acelerou o deslocamento forçado no norte da Nigéria, entre outras pautas.

O veículo também tem uma base de dados chamada Migration Monitor que registra tendências e padrões de migração na África. A ferramenta coleta dados públicos e notícias, além de reunir informações sobre violações a direitos humanos e outros incidentes ligados à migração. A intenção é ser um recurso para pesquisa e reportagem. 

Capacitação de jornalistas para a cobertura de migração

No início do ano, o Diaspora Africa fez uma parceria com a International Organization for Migration para capacitar sua primeira turma de jornalistas em início e meados de carreira sobre migração ligada ao clima.

O treinamento de dois dias teve sessões sobre a arte da comunicação; coleta, análise e interpretação de dados; e redação sobre questões de migração.

Houve também um painel que tratou sobre organizações locais sem fins lucrativos que oferecem ajuda humanitária e apoio financeiro para pessoas deslocadas em função do clima na Tanzânia, em Uganda e no Quênia. 

 "Nosso argumento é: como as pessoas vão lidar com desastres climáticos se há uma cobertura limitada? As pessoas estão cientes de sua contribuição para a degradação ambiental? As comunidades que atualmente enfrentam esses desafios estão sendo adequadamente acompanhadas pela mídia, e como esse acompanhamento é usado para obter soluções?", diz Obioji.

Após participar do primeiro curso do Diaspora Africa, Chiamaka Dike, editora da Marie Claire Nigéria, inspirou-se a contar mais histórias sobre o deslocamento climático. "As pessoas (ou mesmo a mídia) só veem os desastres climáticos acontecendo com a população de baixa renda, quando na verdade eles podem acontecer com qualquer um", diz. 

O curso ajudou Yahuza Bawage, jornalista freelance no estado de Borno, a entender a importância de se colaborar com ativistas do clima ao cobrir migração. Ele diz que a capacitação o inspirou a estudar como a desertificação está forçando pessoas no norte da Nigéria a migrar e como a seca e o desmatamento estão alimentando a migração de criadores de gado do povo fula na África Subsaariana.

"Nos últimos anos, devido às repetidas secas, alguns corpos hídricos, principalmente em algumas partes do norte do país, estão secando", explica Bawage. "Este é um grande desafio para os criadores de gado que dependem disso para cuidar do rebanho, forçando-os a migrar para lugares onde eles acham que o rebanho consegue pastar sem problemas."

Desafio

Um obstáculo crítico para a equipe do Diaspora Africa é o número limitado de jornalistas com a especialização necessária para cobrir migração.

"O debate sobre migração, meio ambiente e políticas demanda especialização. Às vezes, temos dificuldade para encontrar jornalistas que trabalham com essas pautas, principalmente para conectar repórteres da África Oriental e Central", diz Obioji.

A falta de financiamento e recursos é outro impedimento para abordar assuntos sobre migração no noticiário. 

"Os recursos e financiamento limitados são um desafio para muitos veículos independentes", diz Adioha. "Isso limita as pautas que fazemos, nosso alcance e nosso impacto. Uma coisa é perceber um problema, entendê-lo e se debater com ele, mas outra coisa é ter acesso aos recursos certos que vão te ajudar a encontrar as respostas mais adequadas para esse problema."


Foto por Joe Darams via Unsplash.