Como no resto do mundo, a indústria da mídia na América Latina enfrenta hoje sua cota de desafios. Desertos de notícias, censura e ameaças à segurança dos jornalistas impedem que as informações cheguem ao público. Nesse cenário, o jornalismo empreendedor continua firme na região e agora vai receber um impulso.
Na quarta-feira passada, dez startups digitais de nove países da América Latina receberam um anúncio muito esperado: elas serão beneficiárias de financiamento e consultoria especializada por meio da aceleradora Velocidad. O programa do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), realizado em conjunto com a SembraMedia e financiado pela Luminate, visa promover a sustentabilidade das respectivas iniciativas de mídia.
As redações selecionadas refletem a diversidade do cenário da mídia atual na América Latina, tanto em termos de abordagens editoriais quanto dos empreendedores e jornalistas que lideram os esforços. Sete dos meios foram fundados por mulheres e reportam sobre questões que vão desde direitos humanos e meio ambiente a corrupção, cultura e economia, entre outros temas.
O que podemos esperar desses empreendimentos de mídia? Aqui está um panorama das dez redações selecionadas:
Cerosetenta
Colômbia
Cerosetenta foi criada pela Universidade dos Andes em Bogotá, na Colômbia, há oito anos. Dirigida principalmente por estudantes, os leitores recorrem à publicação para obter notícias sociais e culturais, incluindo a cobertura dos direitos humanos no país. Cerosetenta possui uma crescente rede de podcasts, um dos quais colaborou com a Radio Ambulante da NPR no passado.
CIPER
Chile
Este canal de jornalismo investigativo é o mais antigo do grupo, fundado em 2007. Desde o início, a redação sem fins lucrativos foi reconhecida internacionalmente por suas investigações. A base do seu sucesso está o compromisso do CIPER de usar o jornalismo investigativo para examinar os poderes públicos e privados para ajudar a manter normas e valores democráticos no Chile.
Convoca
Peru
Convoca foi lançado em 2015 com seu envolvimento na investigação transfronteiriça SwissLeaks, realizada com o Centro Internacional de Jornalismo Investigativo. Desde essa primeira investigação, Convoca continuou a colaborar com agências de notícias no Peru, América Latina e além. Produziram séries de investigação e promoções em multimídia e experimentaram com diferentes formatos, como histórias em quadrinhos e videogames, para envolver o público.
El Pitazo
Venezuela
Na Venezuela, onde 32 estações de rádio e jornais fecharam nos últimos 20 anos, El Pitazo nasceu em 2014 para oferecer uma cobertura independente de notícias. A publicação foi reconhecida internacionalmente por, entre outros esforços, seu papel nas reportagens colaborativas sobre tráfico de pessoas na Venezuela em meio à crise econômica do país. Em novembro, El Pitazo ajudou a lançar a Alianza Rebelde Investiga, juntamente com outros dois meios de comunicação independentes na Venezuela: Runrun.es e Tal Cual.
El Surtidor
Paraguai
Você já ouviu falar de “scrollytelling”, a arte de transformar uma história longa em uma experiência interativa para envolver os leitores? Bem, agora você sabe. Essa startup paraguaia alcança públicos jovens, muitas vezes ignorados pelos principais meios de comunicação, por meio de abordagens visuais e otimizadas para dispositivos móveis, como scrollytelling. Cobrem questões que vão da saúde e meio ambiente à educação, tecnologia e direitos humanos.
El Toque
Cuba
Ao focar em direitos humanos, participação política e empoderamento dos cidadãos, El Toque visa aumentar o espaço para o diálogo sobre questões sociais em Cuba. Desde o seu lançamento em 2012, a plataforma digital oferece conteúdo balanceado, com reportagens detalhadas, análises e cobertura de opiniões direcionadas a jovens leitores, entre 20 e 35 anos.
Lado B
México
Lado B se esforça para “contar o outro lado da história”. Essa redação mexicana pode informar sobre questões prementes como meio ambiente, corrupção e imigração, além de investigar histórias que recebem menos atenção, como sobre os DJs do Cumbia chamados sonideros, motoristas de ônibus e luta livre, por exemplo.
Ponte Jornalismo
Brasil
O único veículo de língua portuguesa nesta lista, a Ponte Jornalismo foi criada em 2014. A publicação digital reporta sobre direitos humanos, justiça e segurança pública no Brasil, em um esforço para fortalecer a democracia no país. A Ponte Jornalismo se esforça especialmente para ampliar as vozes dos grupos mais vulneráveis da sociedade.
Posta
Argentina
Desde o seu lançamento em 2014, Posta se tornou a principal produtora de podcasts da Argentina, apresentando mais de 50 séries originais. Os podcasts cobrem tópicos como inovação, tecnologia e cultura pop, em uma variedade de formatos e estilos — conversas e entrevistas, documentários e séries de ficção.
Red/Acción
Argentina
A segunda iniciativa de mídia argentina na lista, Red/Acción foca na implementação do que denomina "jornalismo humano" — uma abordagem única que empresta elementos do jornalismo de soluções, pois visa não apenas entender a realidade, mas mudá-la. O meio foi fundado em 2018 e oferece cobertura para muitas das questões mais urgentes de hoje, incluindo pobreza, encarceramento, sustentabilidade e saúde, entre outras.
Velocidad foi estabelecida com financiamento da Luminate e desenvolvida pelo ICFJ e pela SembraMedia para apoiar o importante trabalho dos meios de comunicação independentes.
A SembraMedia foi cofundada pela bolsista ICFJ Knight Janine Warner.