As principais lições do Festival Internacional de Jornalismo 2025

por Anna Turns
May 7, 2025 em Temas especializados
Perugia skyline

Em abril, eu viajei para a cidade histórica de Perúgia, em Umbria, na Itália. Com um céu azul limpo, trepadeiras sobre muralhas do antigo império romano, bastante gelato e belas vistas do topo, o cenário era bastante especial. Porém, ainda mais inspiradoras foram as pessoas com quem eu conversei durante minha visita à cidade. Perúgia é a casa do festival internacional de jornalismo, encontro anual de profissionais de mídia influentes de todas as partes do mundo. A seguir estão as cinco principais lições que aprendi.

(1) Conexões em pessoa são insubstituíveis

Sim, eu vejo a ironia em pegar um avião para falar de jornalismo sobre o clima, mas, às vezes, conexões cara a cara, conversas improvisadas e discussões à mesa de jantar são simplesmente impossíveis de serem replicadas em uma chamada de vídeo. Eu conversei com jornalistas da minha turma da Oxford Climate Journalism Network. Comandado pelo Reuters Institute, este programa de seis meses de duração tem se mostrado inestimável, não só por causa dos seminários com palestrantes convidados que são destaque na área, mas por conta das colaborações que estão se desenvolvendo dentro da rede. Aprender com colegas que trabalham na Áustria, no Brasil, no Canadá e muito além abriu bastante os meus olhos para a diversidade de desafios que todos nós enfrentamos – e para as possibilidades criativas.

 

A man and two women taking a selfie
Kevin Burden (diretor do programa de líderes de mídia europeus), Nina Fasciaux (diretora da Solutions Journalism Network) e Anna Turns. Foto: Kevin Burden, CC BY-NC-ND

 

Durante minhas conversas com colegas da França, Itália e República Tcheca que fazem parte do meu programa de líderes de mídia europeus, eu os ouvi falar sobre os momentos de luz que eles tiveram e refleti sobre o meu próprio progresso – internamente, em termos do que a ideia de liderança significa pra mim e como eu posso gerar mudança efetiva, e também externamente, no modo como apoio minha própria equipe e como posso dar mais estímulo à colaboração.

Ao compartilhar alegrias e preocupações enquanto comíamos uma pizza margherita ou tomávamos um nocciola (sorvete de nozes – meu favorito), fiquei impressionado com o fato de a autenticidade ser o aspecto mais importante de tudo. Tudo o que veio depois e cada uma daquelas conexões cara a cara, reais, honestas e abertas só aprofundaram o meu apreço por isso.

(2) O jornalismo ambiental está crescendo

Muitos jornalistas em início de carreira vieram até mim, com muita vontade de conversar e de saber mais sobre como mergulhar nessa área. Quando comecei, ainda como estudante de biologia, eu trabalhava em programas de TV sobre vida selvagem e em revistas. Naquela época, a cobertura ambiental era um caso isolado, um adendo, na melhor das hipóteses. Jornalistas especializados no clima eram poucos e raros; era difícil encontrar mentores dispostos a ajudar.

 

Two women smiling and talking.
Anna Turns conversou com muitos jornalistas de meio ambiente após sua conferência. Foto: Monica Rizza #IJF25, CC BY-NC-ND

 

O cenário mudou bastante nos últimos 20 anos e eu tenho orgulho de ver essa área do jornalismo crescendo e se tornando mais rica. Hoje, as pessoas querem fazer pautas sobre o clima em vários formatos criativos e isso é revigorante.

(3) A ciência não precisa ficar isolada

Com a crescente desinformação online (tanto a interpretação equivocada inadvertida quanto a falha de comunicação deliberada) e a perda generalizada de engajamento do noticiário da grande mídia, as mídias sociais têm um grande papel a desempenhar na forma como nos envolvemos com o clima, ou não.

Eu realizei um evento com Adam Levy sobre como fazer a ciência do clima se destacar nas redes sociais. Com um PhD em física atmosférica da Universidade de Oxford, Levy atualmente trabalha como jornalista de ciência e ao mesmo tempo produz vídeos livres de jargões que transformam questões complexas sobre o clima em conteúdo empático e sucinto.

 

Two panelists talking
Anna Turns entrevista Adam Levy durante o Festival Internacional de Jornalismo. Foto: Monica Rizza #IJF25, CC BY-NC-ND

 

A comunicação sobre o clima, definitivamente, não se trata apenas de transmitir fatos. Há espaço para nuance e até mesmo para humor. Nós conversamos sobre como preencher a lacuna entre ciência e narrativa, como adotar uma abordagem jornalística rigorosa em todas as formas de conteúdo e como a integridade precisa ser prioridade máxima. Isso gera confiança preciosa e cria conexão.

(4) O tempo está passando

A próxima conferência da ONU sobre o clima (COP30) está chegando e nós estamos nos preparando. Uma das minhas sessões favoritas foi uma palestra de Daniel Nardin, jornalista de soluções membro da Oxford Climate Journalism Network. Ele mora em Belém, cidade que vai receber a COP30, em novembro, e onde os negociadores vão continuar debatendo a melhor forma de lidar e se adaptar à mudança climática. Mas essas estratégias, marcos e compromissos podem parecer secos, densos e difíceis de digerir.

A plataforma de Nardin, Amazonia Vox, dá espaço para as vozes de pessoas que vivem na Amazônia, em áreas de floresta, áreas desmatadas e urbanas. Ele explicou que as questões ambientais, sociais e políticas na Amazônia são complexas e cheias de nuance, por isso coloca as vozes locais no centro da narrativa.

Nada disso é um bicho de sete cabeças. Mas Nardin está trabalhando ativamente nisso porque não há tempo a perder.

 

Three panelists listening to another panelists speak.
Mark Hertsgard, da Covering Climate Now (esquerda), fala sobre como redações podem fazer uma capacitação efetiva em jornalismo sobre o clima. Foto: Alexa Cano #IJF25, CC BY-NC-ND

(5) A cultura de redação está se transformando

O The Conversation já é altamente respeitado. Vários especialistas em comunicação, acadêmicos e leitores falaram comigo sobre o quanto amam o que nós fazemos e aquilo que defendemos. Lidar com a desinformação de um jeito que gera engajamento é o que fazemos de melhor. Conectar você, nossa audiência e comunidade, com o conhecimento mais preciso e baseado em evidência é o nosso propósito. Nós já estamos criando pontes entre a pesquisa e o mundo real. E agora é um ótimo momento para evoluir e encarar um novo desafio. 

Olhando para o futuro, o The Conversation pode ajudar a mudar a forma como se faz matérias sobre o clima. A crise climática já foi bem além do problema ambiental. Ela está ligada a todos os aspectos das nossas vidas, da saúde e educação aos negócios e democracia, bem como conflitos e cultura. As redações já não têm mais a função que tiveram por décadas. Usando a nossa curiosidade jornalística, podemos fazer experimentos e reinventar as regras.

No New York Times, a editoria do clima fica fisicamente no centro da redação. Na Agence France-Presse, cargos como "editor global do futuro do planeta" refletem as grandes ambições para integrar o clima a tudo. Na CBC, a empresa pública de comunicação canadense, o departamento de ciência e clima tornou prioritário o treinamento em clima para toda a equipe – não porque vale a pena, mas porque preparar-se para o futuro faz sentido do ponto de vista dos negócios.

O diretor-executivo da Covering Climate Now, Mark Hertsgard, disse que "todo jornalista no século XXI precisa ser um jornalista do clima".

Agora, o meu trabalho é transformar a inspiração de Perúgia em ação. Fique de olho neste espaço.


Foto por Mauro Grazzi via Unsplash.

Nota: Daniel Nardin é bolsista do programa ICFJ Knight.

Este artigo foi publicado originalmente pelo The Conversation e republicado na IJNet com permissão.