O podcast Serial inova no nosso campo. Trata-se de uma exploração de uma jornalista sobre se um jovem foi injustamente condenado por um assassinato.
Há milhares de artigos e programas deTV que expõem assassinos de gente famosa --e não tão famosa-- em detalhe macabro. O que torna a série tão especial e tão significativa para o jornalismo é a transparência da repórter Sarah Koenig. Ela leva seus ouvintes junto com ela enquanto pondera sobre a inocência ou culpa de Adnan Syed. Como ela diz, isso para ela não faz diferença realmente. Ela está simplesmente olhando para uma história sobre um estudante promissor do ensino médio de origem paquistanesa acusado de matar sua ex-namorada, Hae Min Lee, um adolescente exuberante e talentoso de ascendência coreana.
Para os jornalistas ouvindo a série, Koenig faz o que todos nós fazemos o tempo todo. Nós encontramos um tema interessante e perseguimos com grande ceticismo. Nosso objetivo é trazer para o público as percepções e compreensões que as pessoas não teriam de outra maneira. Em alguns casos, o nosso trabalho tem potencial para um grande impacto, como acontece neste caso. Se ela descobrir que Syed é realmente inocente (depois de passar 15 anos na prisão), sua vida poderá mudar drasticamente.
O que Koenig faz que não fazemos normalmente é compartilhar seus pensamentos e pontos de vista enquanto pesquisa uma história. Normalmente nós fazemos todo o trabalho antes de publicar. Nós damos ao nosso público a avaliação mais inteligente que podemos. Nós passamos pelo mesmo trabalho árduo de entrevistas e pesquisa como Koenig e sofremos das mesmas ansiedades e angústias.
A diferença é que nós nunca tornamos esse trabalho público. Ela inova porque torna o jornalismo mais transparente e, na minha opinião, acrescenta tremenda credibilidade ao nosso campo.
Há outras iniciativas para fazer o jornalismo mais transparente, não porque as pessoas desconfiam da profissão, mas porque abertura acrescenta à sua credibilidade. Organizações jornalísticas estabelecidas têm políticas de ética, editores veteranos e, quando necessário, advogados de mídia experientes.
Nosso público tem pouca ideia do trabalho de verificação que se passa antes de uma história ser publicada ou transmitida. É por isso que Richard Gingras, chefe do Google News e diretor-membro do Centro Internacional para Jornalistas, juntamente com Sally Lehrman do Centro Markkula de Ética Aplicada da Universidade de Santa Clara, estão lançando o Projeto Trust. Eles querem encontrar sinais de que os leitores sabem o que se passa nos bastidores como uma forma de distinguir o bom jornalismo do tsunami de detrito editorial que afirma ser jornalismo de alta qualidade.
Gingras e Lehrman estão explorando como capturar o processo básico de jornalismo. O repórter ou fotógrafo realmente estava em cena para uma história? Um editor experiente procurou por brechas, enxugou a escrita e cavucou nos buracos? Um advogado examinou um artigo controverso para garantir que é à prova de balas? E como, Gingras e Lehrman perguntam, vamos transmitir esse profissionalismo por trás das cenas para os leitores? Seu projeto só está começando.
Eu sou uma defensora desse tipo de transparência. A nossa missão de servir como defensores do interesse público nos leva a lançar luz sobre os outros. Mas, ao lançar a luz em nós mesmos, expor como chegamos a conclusões (como no caso da série) ou como simplesmente produzimos um bom jornalismo, aumenta a confiança do nosso público em nosso trabalho.
Deixe o sol brilhar.
Joyce Barnathan é presidente do Centro Internacional para Jornalistas.
Este post foi publicado originalmente no Columbia Journalism Review e é reproduzido na IJNet com permissão. A missão do Columbia Journalism Review é encorajar a excelência no jornalismo no serviço de uma sociedade livre.
Imagem principal sob licença CC no Flickr via Craig Cloutier