Por que a colaboração é vital na luta contra a desinformação

Aug 16, 2022 em Combate à desinformação
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Não é novidade que a desinformação é um problema global e que os conteúdos falsos e enganosos não conhecem fronteiras nacionais. Mas, para muitos, pode ser uma novidade saber por que a colaboração entre verificadores de fatos não é uma simples moda passageira e sim um elemento vital para combater com sucesso a desinformação.

Vou explicar isso a partir de um caso que aconteceu nos primeiros meses do Factchequeado, uma iniciativa contra a desinformação que afeta comunidades latinas nos Estados Unidos que lançamos na parceria do Chequeado - da Argentina - com a Maldita - da Espanha (e que nos enche de emoção!). Este exemplo coloca em evidência por que faz sentido compartilhar conteúdo verificado entre regiões, países e continentes. E também mostra o valor de construir comunidade e confiança. 

Em 11 de abril, nós publicamos no Factchequeado a história de Ana, uma leitora do Maldita, que deu um match no Tinder com Thomas Paul, supostamente um sargento dos Estados Unidos de 46 anos que dizia estar em missão de paz. "Começamos a conversar pelo WhatsApp e ele expressou um amor fora de toda lógica por toda sua imediatez", explicou Ana. Só havia um problema para que eles pudessem estar juntos: Thomas seria enviado para a Ucrânia e, para poder voltar para casa, deveria pagar mais 6.000 euros (cerca de R$ 30.000). Foi quando Ana se deu conta de que se tratava de um golpe. De fato, a foto de perfil de Thomas Paul no Tinder corresponde, na realidade, ao militar dos Estados Unidos Tyler Thomas, que tem mais de 40.000 seguidores no Instagram.

Não é a primeira vez que há relatos de perfis falsos no Tinder cujo único objetivo é dar golpes nas pessoas. Este método é chamado de catfish: o farsante finge ter uma identidade para se aproximar de uma pessoa, cria um vínculo emocional com ela e, depois, pede dinheiro para solucionar um problema econômico urgente. 

O Factchequeado busca ter o máximo alcance e impacto possíveis para combater a desinformação que afeta comunidades latinas nos Estados Unidos. Por isso, desde que foi criado, não só publica seu conteúdo em seu site, redes sociais e no canal do WhatsApp como também, graças às parcerias que tem com dezenas de organizações de verificação de fatos e veículos que servem comunidades latinas, reproduz suas verificações e conteúdo explicativo em outros canais. Dessa forma, a história de Ana foi publicada no dia 23 de abril no Enlace Latino, um veículo parceiro da Carolina do Norte.

Depois dessa publicação, outra leitora, Alejandra, entrou em contato direto da Venezuela com a equipe do Enlace Latino porque a leitura sobre o golpe sofrido por Ana serviu para que evitasse um golpe contra ela mesma. O caso era muito parecido. O homem disse que morava longe, na Síria, para onde havia sido enviado em missão militar. Mas a distância não era um problema: os vínculos que começam pela internet podem resistir quilômetros. O problema era outro. Havia algo no relato do homem, que também dizia se chamar Thomas e ser um sargento dos Estados Unidos, que não se encaixava para Alejandra. Ainda que àquela altura da história ela ainda não soubesse, seu instinto estava certo: seu match no aplicativo de encontros MeetMe não era quem dizia ser.

"Como tinha suspeitas, comecei a buscar informação na internet sobre este suposto sargento. Foi assim que liguei o artigo que explicava sobre como já haviam tentado enganar uma mulher usando o mesmo perfil do homem que falava naquele momento comigo", disse Alejandra ao Enlace Latino, direto da Venezuela, com um misto de alívio por ter evitado ser vítima de um golpe e preocupação pelo que pode acontecer com outras mulheres. A história também foi publicada em junho no El Detector de Univision, outro veículo parceiro do Factchequeado, e em outros mais, e possivelmente ajudou muitas outras mulheres a não caírem nesse mesmo golpe.

Pesquisas acadêmicas, como esta e esta, provaram que a checagem de fatos funciona. Que as pessoas compartilham menos o conteúdo quando uma verificação o sinaliza como falso ou enganoso. Estes estudos também mostraram que o tempo importa. E muito. Quanto antes se reage a um conteúdo falso ou enganoso, mais chances há de cessar o seu efeito nocivo. E aí? E aí é quando se entende que a colaboração não é uma alternativa e sim uma necessidade imperativa para lutar contra a desinformação. Se queremos chegar primeiro, precisamos aproveitar o trabalho dos outros para servir e atender com imediatez as nossas comunidades. 


Se você é repórter, editor ou proprietário de um veículo que serve a comunidade latina nos Estados Unidos, entre em contato com o Factchequeado e seja um parceiro. 

Imagem cedida pelo Factchequeado.