As estruturas tradicionais que há muito dominam a mídia estão desaparecendo à medida que as novas tecnologias alteram rapidamente o cenário do jornalismo. Enquanto isso, profissionais de mídia de todo o mundo correm para acompanhar as mudanças, empregando uma ampla variedade de abordagens e obtendo diferentes graus de sucesso.
Uma nova pesquisa do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ, em inglês), organização-mãe da IJNet, lança luz sobre essas tendências.
O ICFJ fez uma enquete com mais de 4.100 gerentes de redação e jornalistas de 149 países, sobre equipes e estruturas da redação, integração de novas tecnologias e muito mais. A pesquisa de 2019 "O estado da tecnologia nas redações globais" foi atualizada e ampliada com base na pesquisa de 2017, permitindo que os leitores façam comparações e avaliem as mudanças ao longo do tempo.
Entre as descobertas, a pesquisa mostra que mais redações estão adotando tecnologias digitais, enquanto questões de segurança apareceram no centro das preocupações.
"Há uma grande mudança em andamento, pois os meios de comunicação são atacados digital e fisicamente", disse a presidente do ICFJ, Joyce Barnathan.
Em 2017, menos da metade dos jornalistas usava técnicas de cibersegurança. Esse número saltou para mais de dois terços em 2019. As ferramentas de segurança online mais populares são, de longe, aplicativos de mensagens seguras, seguidos significativamente pela criptografia de e-mail e VPNs.
Jornalistas também estão adotando ferramentas digitais para uso em suas reportagens. Mais que o dobro do número de jornalistas (25%) usa ferramentas de verificação de mídia social em 2019 em comparação com 2017, e significativamente mais jornalistas hoje, 61%, usam habilidades de dados semanalmente, contra 36% há dois anos.
No entanto, os esforços de treinamento e contratação não acompanharam as crescentes demandas digitais. Em todas as categorias — incluindo redes sociais, jornalismo de dados e habilidades gerais em tecnologia, como treinamento em audiovisual — as redações não est˜åo atendendo às necessidades e pedidos dos jornalistas por treinamento.
Ao mesmo tempo, as redações não estão investindo mais em equipe de tecnologia ou digital do que há dois anos, apesar da crescente prevalência da tecnologia.
A adoção da tecnologia no cenário jornalístico também significa que menos agências de notícias podem contar com fontes tradicionais de receita. A publicidade, por exemplo, não é a maior fonte de receita para a maioria (54%) das redações, que trabalham para diversificar suas fontes de financiamento. As grandes redações (mais de 26 funcionários) são notavelmente mais dependentes da publicidade do que as menores.
As redações na Europa são as mais otimistas sobre atrair diversos fluxos de receita no próximo ano, esperando contar com uma combinação relativamente igual de contribuições/subsídios filantrópicos (30%), conteúdo patrocinado (30%) e publicidade tradicional (25%).
Mais de um quarto (27%) das redações prevê que as assinaturas e memberships online sejam sua principal fonte de receita no próximo ano, embora apenas 4% agora diz que essa é a fonte de financiamento mais importante.
A maioria das redações em todo o mundo aponta a mudança de modelos de receita como sua principal preocupação, seguida pela introdução de inteligência artificial na redação e pela atração de anunciantes.
A pesquisa de 2019 do ICFJ destaca outras tendências importantes:
- O crescimento da redação digital é baixo ou estagnado em todos os lugares, exceto no leste/sudeste da Ásia, indicando que menos startups online estão sendo lançadas. O maior declínio nos meios de comunicação digitais ocorreu na América do Norte e na Eurásia/ex-URSS.
- As mulheres estão fazendo progressos significativos na redação. Elas ocupam metade ou mais dos cargos de gerência de redação em quatro das oito regiões pesquisadas: Eurásia/ex-URSS, América do Norte, Europa e América Latina/Caribe.
- Mais de 50% dos jornalistas pesquisados dizem que usam regularmente ferramentas digitais para verificar informações.
- Um total de 38% das organizações de notícias tem verificadores dedicados à equipe. Além disso, 44% das redações e 37% dos jornalistas se envolveram em mais atividades de fact-checking durante o ano passado.
- As redações menores têm duas vezes mais chances de cobrir notícias locais/comunitárias do que as maiores. Ao redor do mundo, apenas 15% das redações e 13% dos jornalistas cobrem notícias locais.
Leia o relatório completo e veja os destaques da pesquisa.
O programa de Comunicação, Cultura e Tecnologia da Universidade de Georgetown ajudou a administrar a pesquisa, apoiada pela Google News Initiative e Fusion.