Stefan Candea é co-fundador do Centro Romeno para o Jornalismo Investigativo e um Nieman Fellow em 2011 Na Universidade de Harvard.
Como parte de uma série em curso para o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (WPFD, em inglês), IJNet conversou com ele sobre jornalismo investigativo no leste europeu.
Candea irá participar da sessão 21st Century Muckraking no dia 3 de m aio.
IJNet: Quais habilidades especiais o jornalista investigativo deve ter que difere dos demais jornalistas?
Candea: As habilidades são praticamente as mesmas. Ambos devem ser capazes de revelar fatos, apurar informações e compilar uma estória honesta para informar ao público sobre abusos ou, manter um olhar crítico nas estruturas do poder. Todavia, os jornalistas investigativos lidam com estórias mais complexas e precisam de muito mais recursos e tempo.
IJNet: Qual o tamanho em escopo das suas investigações? Elas são feitas apenas na Romênia ou há alguma investigação trans fronteiriça?
Candea: Os meus colegas do Centro Romeno para o Jornalismo Investigativo e eu fizemos estórias cobrindo principalmente a Romênia, os Bálcãs e a região do Mar Negro, a maioria, trans fronteiriça. Nós participamos de projetos internacionais da América do Sul à África.
Nós desenvolvemos a nossa própria plataforma de publicação para evitar a censura, e cobrimos o crime organizado tanto local quanto internacional, mídia, abusos dos direitos humanos, redes de poder, o meio ambiente, recursos e energia, esportes e estórias de forma clandestina.
IJNet: Você utiliza técnicas de reportagem assistidas por computador nos seus projetos? Se sim, que tipos de databases estão disponíveis e você cria também as suas próprias? Qual a dificuldade de se conseguir uma database?
Candea: Sim, utilizamos. Todavia, o acesso às databases é complicado no leste europeu. As coisas evoluíram nos últimos 10 anos e há mais data disponível. Nós apenas temos que acessá-las e reorganizá-las de uma maneira mais útil.
Nós somos forçados a desenvolver databases a partir do zero, extraindo informações de vários documentos e formatos de databases e os agregando. Nós extraímos e coletamos qualquer tipo de database nós encontramos enquanto pesquisamos e trabalhamos na região.
IJNet: Você compartilha os resultados das suas investigações com oficiais na Romênia?
Candea: Nós publicamos nossas estórias e nossos achados, essa é a única maneira que compartilhamos os resultados das nossas investigações com qualquer oficial, a não ser que achemos que precisamos trocar informações, uma situação que é bastante rara.
IJNet: Vocês cooperam com outras organizações de jornalismo investigativo?
Candea: Nós nos tornamos parte do Global Investigative Network, IRE, ICIJ e somos a coluna vertebral de redes regionais como Scoop e OCCRP.
IJNet: Vocês treinam jornalistas investigativos? Como vocês encontram um jornalista investigativo?
Candea: Nós temos experiência em treinar jornalistas investigativos e estudantes. Eu acho as sessões de treinamento com os estudantes as mais gratificantes. O treinamento com os jornalistas só tem sucesso se incluírem uma estratégia de parceria, uma estratégia de trabalho em equipe.
O treinamento é um negócio na indústria de assistência midiática. A estratégia de treinamento tem que ser acessada e reconsiderada. Dezenas de milhares de jornalistas foram treinados no leste europeu e centenas de milhares foram gastos, mas se você observar a industria midiática, você verá uma industria quebrada e profundamente corrupta, onde os bons jornalistas não fazem a menor diferença. O nosso cenário midiático é similar ao da Europa Ocidental e dos Estados Unidos há 100 anos.
IJNet: Quem é a sua audiência?
Candea: Nós temos acesso a uma audiência bem diversificada, pois não publicamos apenas no nosso site de Internet, mas também em parceria com outras plataformas de notícias online e jornais em vários níveis: local, nacional, regional e internacional.
Cerca de 70 por cento dos que visitam o nosso site são da Romênia e de Moldova, e os demais são visitantes internacionais (os nossos projetos mais importantes são traduzidos para o Inglês e alguns para o Russo).
IJNet: A Internet modificou o cenário das reportagens na Romênia? Como?
Candea: Hoje, graças à Internet, é muito mais fácil achar informações e publicá-las – mas poucos jornalistas estão realmente fazendo isso.
Há 30 por cento de penetração da Internet no leste europeu, mas a mídia online está crescendo. È uma mudança drástica nos últimos 10 anos, primeiramente em termos de plataforma de notícias online e acesso à informação pública. Pelo menos na Romênia a questão de uma censura drástica não existe no momento. Aqui eu me refiro a forte censura política teve o seu auge entre 2002-2004 e foi possível quando algumas estações de TV e jornais estavam sob uma grande pressão do governo e o online não era uma alternativa séria.
Todavia, o jornalismo investigativo é mais do que apenas o acesso a plataformas de publicação. È também sobre recursos e tempo para fazer reportagens em profundidade. O atual cenário de propriedades leva a uma autocensura e a falta de recursos para as investigações, e a Internet não faz a menor diferença.
IJNet: Houve alguma dificuldade ou investigações perigosas no seu jornal?
Candea: Qualquer estória que lida com o crime organizado tem certo grau de perigo. Quanto mais a estória cobrir grupos internacionais complexos, maior o grau.
Algumas das estórias possuem uma fase de reportagem bastante sensível, especialmente as que envolvem técnicas de disfarces ou reportagens em lugares como Trandniester ou Ucrânia e Rússia. A cobertura de zonas de conflito ou oligarquias também podem colocar o repórter em perigo.
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