Assim como o cenário da mídia segue mudando, também muda a forma como jornalistas e organizações da sociedade civil interagem. Colaborações em diferentes áreas, nas quais jornalistas trabalham ao lado de organizações sem fins lucrativos e da sociedade civil, estão rapidamente se tornando um recurso para contar histórias de impacto.
"Parte do jornalismo investigativo mais importante e mais impactante que se faz, assim como campanhas de reivindicação de direitos, estão surgindo hoje de colaborações entre diferentes áreas", diz Sarah Stonbely, diretora de pesquisa do Center for Cooperative Media na Universidade Estadual de Montclair e coautora de uma pesquisa sobre 155 projetos colaborativos.
Durante um webinar do Fórum Global de Reportagem de Crise do ICFJ, intitulado "Como e por que jornalistas e organizações da sociedade civil trabalham juntos", a diretora sênior de programas do ICFJ, Aliza Appelbaum, conversou com Stonbely e com os jornalistas Monturayo Alaka e Pankaj Mishra para dar insights sobre o impacto de colaborações desse tipo.
Para entender como e por que essas colaborações acontecem, é importante apontar o que motiva os veículos jornalísticos acima de tudo:
Impulsionar engajamento e impacto
As redações estão em busca de formas inovadoras de disseminar reportagens, atrair audiências maiores e ter mais impacto, e colaborar com organizações da sociedade civil pode tornar isso possível.
"Grupos que atuam na defesa de causas podem levar o seu trabalho para as ruas e para as pessoas", disse Motunrayo Alaka, diretora executiva e CEO do Wole Soyinka Centre for Investigative Journalism em Lagos, na Nigéria.
Organizações da sociedade civil podem ajudar veículos jornalísticos com assistência na carga de trabalho. Elas também podem ajudar as redações a melhorarem suas habilidades e conhecimentos em tópicos específicos, como lixo eletrônico na Índia e extração de petróleo na região do Delta do Níger.
"Quando você faz parceria com outras pessoas, você pode detalhar [a informação] de formas que as pessoas vão entender e nós podemos ativar a participação delas e elas podem se apropriar das histórias", acrescentou Alaka.
Projetos de jornalismo bem produzidos exigem um desejo crescente de impacto. Jornalistas querem ver e saber que seu trabalho está fazendo a diferença.
Mais do que focar em métricas e produzir matérias convencionais, jornalistas estão se perguntando: "quantas delas estão de fato alcançando as bases?", disse Pankaj Mishra, cofundador do Factor Daily.
De acordo com os participantes, o impacto de um artigo pode ser visto não só através de métricas, mas também quando ele é traduzido para diferentes idiomas, transformado em vídeos interativos, músicas e integrado a políticas públicas.
Desafios da colaboração entre diferentes organizações
Colaborações entre organizações de diferentes áreas trazem desafios, como assegurar que as matérias mantenham o teor jornalístico, em vez de um tom de reivindicação. É importante que jornalistas pesquisem sobre as organizações antes de tomar uma decisão sobre se e como colaborar com elas, aconselhou Mishra.
Mishra também destacou que criadores de conteúdo em plataformas como o YouTube são boas opções para se trabalhar em parceria, já que permitem que jornalistas alcancem comunidades de nicho. Esses influenciadores podem servir como uma ponte para gerar interesse e impacto entre grupos específicos, especialmente a população jovem.
Apesar de nenhuma colaboração ser como a outra, Stonbely recomenda esclarecer o papel de cada organização em cada projeto jornalístico ou de pesquisa: seja transparente sobre o que cada lado espera obter com a parceria, incluindo conhecimento, atribuições, dinheiro e alcance; discuta o impacto futuro e os riscos que ele pode trazer.
Redigir propostas e realizar reuniões informativas com as organizações parceiras pode ajudar a determinar uma base comum e evitar fadiga, acrescentou Alaka. Desse modo, jornalistas também podem ouvir os problemas enfrentados pelas pessoas e descobrir pautas que têm pouca cobertura.
Decidir trabalhar com organizações da sociedade civil pode ajudar jornalistas a ter acesso mais fácil a comunidades e colaborar para suprir lacunas de conhecimento. Mas a tensão entre neutralidade ou objetividade e defesa de causas é real.
“Jornalistas podem ser amigos de todo mundo”, disse Alaka. “Mas jornalistas não podem estar atrelados a ninguém.”
Enquanto o trabalho de grupos que defendem causas envolve mobilizar pessoas e demandar mudança, o jeito de os jornalistas protestarem é informando de forma justa sobre questões que afetam a sociedade.
O jornalismo não é a mesma coisa que defesa de causas, enfatizou Alaka, mas também não é totalmente imparcial. "O jornalismo não é uma profissão totalmente objetiva. Ele tem um viés para a verdade. Tem um viés para a justiça. Tem um viés para os direitos humanos."
Foto por Charles Forerunner via Unsplash.
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