Em um país como o México — que o Repórteres Sem Fronteiras considera um dos países mais perigosos para o jornalismo — jornalistas enfrentam corrupção e impunidade em quase todos os lugares: de fundos públicos usados em projetos sociais de grande escala a um sistema judiciário falido que limita a capacidade dos crimes de serem investigados.
Hoje, muitos no país estão trabalhando para enfrentar esses desafios. Isso inclui jornalistas, que dedicam seu trabalho para manter o público informado. Para combater de forma mais eficaz essas questões, jornalistas são encorajados a usar seus colegas da sociedade civil, que utilizam abordagens e redes diferentes para abordar os mesmos problemas.
Essa é a missão do Border Hub, um projeto financiado pela USAID e administrado pelo Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), em parceria com o Border Center for Journalists and Bloggers e a Iniciativa Sinaloa.
O programa organizou painéis em três cidades fronteiriças dos EUA e México (Tijuana, Juarez e Saltillo) para discutir modelos de parceria para jornalistas e organizações da sociedade civil (OSCs). Aqui estão algumas dicas dos painelistas sobre a melhor forma de trabalhar em conjunto para exigir a prestação de contas:
1. Encontre semelhanças
Embora jornalistas e ativistas de direitos humanos tenham papéis diferentes na sociedade, seus objetivos gerais geralmente coincidem. Rocio Gallegos, presidente da Rede de Jornalistas de Juárez, observou que tanto os jornalistas quanto as organizações da sociedade civil têm como objetivo ser um contrapeso ao poder e podem, assim, desempenhar papéis complementares nessa busca.
"O jornalismo pode gerar mudanças, mas há condições em que o jornalismo precisa de alguma ajuda", disse Gallegos.
Jorge Luis Sierra, presidente do Border Center for Journalists and Bloggers, acrescentou que um repórter pode escrever um artigo sobre um funcionário público que viola uma lei, que um ativista da sociedade civil pode transformar em uma queixa legal formal. Trabalhando juntos dessa maneira, os jornalistas e as OSCs podem ajudar a resolver problemas que não conseguiriam resolver sozinhos.
2. Dados são fundamentais
Luis Fernandez, diretor executivo da plataforma de organização comunitária, Nosotrxs.org, define impunidade como uma ação que não tem uma consequência. Ele argumenta, portanto, que a impunidade precisa ser combatida com a criação de consequências sociais, legais ou administrativas.
Para criar essas consequências, tanto as organizações da sociedade civil quanto os jornalistas devem conhecer a escala e a extensão do problema, bem como informações concretas para respaldar suas reivindicações e suspeitas. A coleta desses dados, no entanto, é difícil e exige muito tempo. Para reduzir a carga, jornalistas e OSCs podem novamente juntar forças para coletar dados e compartilhar as informações que encontrarem.
3. Envolva a sociedade
Para gerar mudanças, os jornalistas e as OSC devem trabalhar juntos em tópicos que incentivem os cidadãos a se envolverem e pressionarem por mais transparência e responsabilidade. Essa abordagem pode levar a resultados concretos.
O Nosotrxs.org, por meio de seu projeto de organização comunitária que visa identificar clínicas de saúde e áreas com carência de assistência médica, por exemplo, conseguiu criar um banco de dados que documentou quase 350 deficiências. As OSCs e os jornalistas, por sua vez, têm usado as informações coletadas para demonstrar deficiências aos legisladores locais de uma maneira mais sistematizada.
Um outro CSO local, o Plan Estratégico de Juárez criou uma plataforma chamada "Onde está seu dinheiro?", que identificou empresas que mantinham contratos com o governo. Ao fornecer as informações sobre esses contratos de obras públicas, os comitês de vizinhança foram capazes de usar essas informações para responsabilizar seus representantes locais.
4. Aprenda os sistemas em vigor
Como parte do projeto do Border Hub, Silber Meza, o diretor executivo da Iniciativa Sinaloa, uma organização híbrida de jornalistas e ativistas de OSCs, está treinando jornalistas sobre como usar o recém-criado Sistema Anticorrupção do México. O sistema, que foi assinado em 2016 como parte de um complexo pacote de reformas nacionais, é terrivelmente burocrático. No entanto, também inclui componentes de envolvimento da comunidade e do cidadão, que têm um enorme potencial.
Para que o Sistema Anticorrupção funcione, é necessário que os jornalistas e as OSCs forneçam informações sem se desviar de seus objetivos: mais uma vez demonstrando o poder da colaboração entre os dois.
Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Jorge Aguilar