O ChatGPT, um modelo de linguagem de inteligência artificial (AI) criado pela OpenAI, tem dado o que falar na internet, gerando questionamentos sobre como a AI vai mudar a forma como trabalhamos e escrevemos.
Em um webinar recente do Fórum Pamela Howard de Reportagem de Crises Globais do ICFJ, Jenna Burrell, diretora de pesquisa do Data & Society, mergulhou nos pros do ChatGPT e como ele pode ser uma ferramenta para jornalistas, bem como em suas limitações e os cuidados que jornalistas devem ter.
Abaixo estão dicas para jornalistas fazerem o melhor uso do ChatGPT:
O ChatGPT pode simplificar conceitos
Uma das tarefas mais importantes para jornalistas é simplificar assuntos complexos para uma audiência geral. O ChatGPT facilita isso, disse Burrell. O uso de modelos de linguagem permite que jornalistas insiram o resumo ou parte de um artigo acadêmico no ChatGPT e peçam ao software para simplificá-lo. Um jornalista pode usar a ferramenta para entender melhor o artigo ou ideia antes de entrevistar o autor do trabalho.
O ChatGPT também é útil para quem não é falante nativo de inglês. O recurso de simplificação permite que não-nativos que conseguem entender um inglês básico "traduzam" qualquer trabalho para um formato mais básico. Isso é especialmente útil para tópicos que usam linguagem complexa ou especializada como ciência ou economia. Até o momento, esse recurso só funciona em inglês.
Ele pode te ajudar com as perguntas da sua entrevista
Jornalistas podem usar o ChatGPT para se prepararem para uma entrevista. Você pode listar perguntas que tem em mente sobre um tema da entrevista e o software vai criar mais perguntas modeladas a partir das primeiras. O software também pode se basear em uma entrevista anterior ou artigo escrito pelo entrevistado e desenvolver perguntas sobre o tema.
O ChatGPT também pode ser usado como um subeditor. Jornalistas podem enviar os textos para uma última revisão antes de encaminhá-los para o editor, por exemplo pedindo ao ChatGPT que edite o texto segundo um formato específico, como o manual de estilo da AP. No entanto, jornalistas ainda devem revisar e verificar as mudanças feitas pelo ChatGPT para garantir que nenhuma informação adicionada seja falsa.
Nem sempre você pode confiar nos resultados do ChatGPT
Jornalistas devem estar cientes do grande defeito do ChatGPT: não se pode confiar nele. O ChatGPT foi treinado com a totalidade dos dados da internet e ele responde a solicitações fazendo previsões sobre as respostas mais prováveis à pergunta. Ao usar esse modelo, ele às vezes gera respostas a uma pergunta que não é factualmente correta.
Por exemplo, quando Burrell pediu ao ChatGPT nomes de especialistas na área de ciência de dados, ele produziu uma lista de acadêmicos muito conhecidos que estudam o assunto. Porém, quando a pergunta foi modificada para pedir por especialistas ganenses em ciência de dados, nenhum dos nomes apresentados existiam realmente quando foram checados.
Burrell alertou jornalistas a estarem cientes da tendência do ChatGPT de "preencher vácuos de dados". Ele não responde a uma pergunta dizendo que não sabe a resposta; em vez disso, se os dados que ele tem não fornecem uma resposta, ele vai simplesmente inventar algo. Isso pode ser problemático principalmente em regiões onde a internet historicamente é desprovida de dados. "Como ele tira um pouco de informação daqui e dali, ele frequentemente simplesmente produz resultados absolutamente incorretos e é difícil descobrir quando está errado", disse Burrell.
O ChatGPT também tem o problema de replicar o viés a partir do qual foi criado. O software foi construído com o uso de uma grande quantidade de dados, mas a ferramenta não consegue "aprender" – ela só consegue reproduzir e regurgitar os dados que já tem.
Como o ChatGPT foi construído com base na coleta de quantidades massivas de informação da internet, a informação que ele retorna vai ser tão enviesada quanto a informação com a qual ele foi treinado. Quando jornalistas usarem o ChatGPT, eles devem não só verificar duas vezes o conteúdo gerado, mas também consultar outras pessoas que tenham diferentes perspectivas, incluindo aquelas que contestam o viés inerente do ChatGPT.
"O ChatGPT suga tudo na internet; o que você recebe de volta é um reflexo da distorção da internet como um todo", disse Burrell.
O futuro do ChatGPT no jornalismo
O ChatGPT ainda é uma ferramenta nova, e há questionamentos sobre como sua empresa detentora, a OpenAI, vai moldar seu modelo de negócios. Ainda não é claro como a OpenAI vai fazer dinheiro, se ela vai ou não fazer parceria com a Microsoft e seu motor de busca, o Bing, ou se ela vai criar seu próprio modelo de publicidade como aqueles usados atualmente pelo Google e o Bing. Embora no momento a ferramenta seja gratuita (com uma versão premium paga anunciada recentemente) e aberta para todos, qualquer mudança na monetização pode levantar questões adicionais sobre leis de direitos autorais. Por exemplo, embora o ChatGPT tenha sido treinado com todos os artigos já escritos por jornalistas, os autores não são compensados ou reconhecidos por sua contribuição.
Burrell observou que isso pode ser um problema maior para ferramentas como o DALL-E, outra ferramenta da OpenAI, que cria imagens a partir de texto. Atualmente, artistas que ganham a vida com a arte que criam estão vendo seus estilos serem copiados pelo DALL-E sem nenhum crédito ou compensação. "Tudo que você já escreveu como jornalista e que é público é despejado na ferramenta da OpenAI", disse Burrell. "Você tem esse trabalho com direitos autorais que publicou como jornalista que informa o modelo, e você não é compensado por isso. Eu não acho que a lei de direitos autorais está à altura dessa tarefa no momento."
Considerando o formato atual do ChatGPT, Burrell recomenda que os jornalistas o utilizem como uma ferramenta ao mesmo tempo em que reconheçam suas limitações. Embora o modelo possa ajudar os jornalistas a escreverem mais rápido quando têm um prazo a cumprir, inspirá-los quando estiverem com dificuldade de serem criativos e servir como um passo extra para assegurar que o trabalho esteja bem escrito e estilizado, ele deve sempre ser usado com um humano ao seu lado. Tudo que ele diz ainda precisa ser checado duas vezes no que diz respeito à precisão e fontes.
Para os jornalistas preocupados que a escrita do ChatGPT se passe por jornalismo, Burrell observa que a redação da ferramenta carece de qualidade e criatividade jornalísticas — um editor pode normalmente perceber a diferença. "Os humanos vão continuar sendo muito mais inventivos e criativos, e capazes de produzir formas realmente incomuns de falar sobre as coisas", disse.