O programa Disarming Disinformation do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) é uma iniciativa de três anos, com apoio do Scripps Howard Fund, com o objetivo de desacelerar a disseminação de desinformação por meio de estratégias como jornalismo investigativo, capacitação e educação voltada para o letramento de mídia. O ICFJ também fez uma parceria com o MediaWise do Poynter Institute para desenvolver e fornecer programas de letramento de mídia.
O programa para formar instrutores de letramento de mídia recebeu participantes do mundo todo em duas turmas. Os selecionados são líderes comunitários que vão educar as pessoas sobre a importância do letramento de mídia e como aplicar essas habilidades na vida real. O artigo abaixo é uma de cinco histórias de impacto da primeiro turma, em comemoração à semana de letramento de mídia.
Há três anos, Mariama Danso e a organização liderada por ela, Fact Check Center - The Gambia, vem promovendo o letramento de mídia entre jovens adultos para combater a desinformação em Banjul, na Gâmbia. Mas uma dificuldade que ela tinha era chegar aos estudantes mais jovens, devido a limitações financeiras e falta de acesso às escolas da região.
Em 2023, Danso participou da capacitação de instrutores em letramento de mídia do ICFJ, realizada em parceria com o MediaWise, em Nairobi, no Quênia. Durante a formação, ela aprendeu novas estratégias para chegar a novas audiências levando em consideração seus próprios contextos e interesses. "O programa me ensinou como desenvolver um curso do zero", diz Danso. "Ele me ensinou a pensar primeiro em quem é minha audiência, quais problemas a afetam e quais questões a interessam."
Depois da oficina, Danso recebeu um subsídio para realizar os seus próprios cursos de letramento de mídia para alunos do Ensino Médio na Gâmbia.
Ela deu o primeiro curso em maio, na Escola Mayork Senior, na região da costa oeste, para 40 estudantes ao longo de dois dias. A escola deu acesso a um espaço para as aulas e ofereceu refeições para os estudantes e hospedagem para a equipe. Danso também usou o subsídio para cobrir os custos de transporte dos estudantes que participaram do curso. "Todas as aulas tiveram um símbolo de agradecimento", diz. "Eu fiz questão de não mencionar aos estudantes que havia vale transporte para garantir que eles não estavam participando só por causa disso."
No mesmo mês, Danso também fez um curso na rádio comunitária Soma FM 88.8. Na ocasião, ela discutiu golpes apresentados como oportunidade de financiamento para agricultores, falsos perfis de personalidades políticas e desinformação que as pessoas propagam sem saber. "Este programa deveria ter sempre", disse um ouvinte. "Com as discussões trazidas por Danso, eu descobri que estava espalhando desinformação esses últimos anos, mas eu não sabia."
Danso também ministrou oficinas para outros 60 estudantes no país nos meses seguintes. Atualmente, ela ensina letramento de mídia para pessoas de todas as idades, incluindo professores.
Em sintonia com as necessidades dos participantes
Danso começava as aulas pedindo que os estudantes preenchessem um questionário para que ela soubesse mais sobre as experiências deles com desinformação, verificação de fatos e avaliasse o conhecimento que eles tinham a respeito desses e outros assuntos. "Os termos 'desinformação' e 'letramento de mídia' eram novos para todos os alunos, apesar da maioria deles ter acesso à internet", diz Danso.
O questionário também a ajudou a identificar exemplos de conteúdo sobre desinformação que repercutem entre os estudantes. "Eles ficaram surpresos com o fato de que a maioria deles tinha se deparado com os primeiros exemplos que eu compartilhei. Quase 90% deles me disseram claramente 'compartilhamos isso com os nossos amigos'", conta.
As oficinas foram interativos, com a intenção de manter os estudantes constantemente engajados. Em um exercício, por exemplo, Danso compartilhou um conteúdo sobre a escola dos estudantes e pediu a eles que avaliassem a veracidade do mesmo e explicassem como chegaram às suas conclusões.
Desinformação offline
Aproximadamente mais da metade da população da Gâmbia usa a internet, de acordo com dados de 2022 do Banco Mundial. Portanto, tratar de rumores falsos que circulam offline é importante.
"Alguns estudantes se destacaram em uma aula – eles não tinham celular, não tinham acesso a redes sociais", diz Danso. Esta foi uma oportunidade para ensinar os estudantes sobre rumores de desinformação que se espalham por meio do "Kaa am na", o boca a boca. "O que você faz com as informações que o seu amigo te passa?", era o que Danso perguntava nas aulas. "Às vezes você não confia na fonte da informação", respondeu um estudante. Outro disse que "às vezes você confirma um pouco na informação, mas não na fonte".
As respostas levaram a conversas sobre a teoria do "fundo de verdade". "Em todo rumor há um indício de verdade", disse Danso aos estudantes. "Os participantes mostraram a mim o melhor que eles tinham nos momentos em que tivemos discussões sobre informações falsas e informações que se espalham no boca a boca."
Impactos e o futuro
Os esforços de Danso na Escola Davinci, em Sukuta, em particular, tiveram impactos encorajadores. "Imediatamente após o fim do treinamento, os estudantes e o diretor pediram ajuda para criar um clube de imprensa para que eles pudessem manter os colegas informados", diz. A equipe de Danso concordou em ajudar na criação da iniciativa, como forma dos estudantes melhorarem suas habilidades de escrita e reportagem.
Até hoje os estudantes mantêm contato com Danso por meio do WhatsApp. "Mesmo depois do curso eles me perguntam 'como nós viramos repórteres ou verificadores de fatos?', diz. Os estudantes também pedem conselhos sobre produção de reportagens e ajuda com a verificação de conteúdos específicos.
Danso enxerga um futuro no qual o letramento de mídia será uma parte integral da educação na Gâmbia. "Eu gosto da ideia dos cursos", diz. "O ciclo de capacitação continua para mim por meio da intenção de chegar a mais escolas para dar mais cursos."
A mensagem central que ela dá nos cursos é clara: verifique antes de compartilhar. "Todo mundo deveria ter certeza do que está compartilhando de alguma forma", diz. "Pra mim, isso é ser capaz de responder por qualquer informação que você compartilhe."
Crédito da imagem principal: Fact Check Center - The Gambia.
Brittani Kollar e Renata Salvini colaboraram com este artigo.
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