O incrível "jornalismo lento" que cresceu na pandemia

por Milly Martin
Aug 24, 2021 em Sustentabilidade da mídia
quatro tartarugas caminhando

Você poderia pensar que uma pandemia global seria fatal para qualquer novo negócio de mídia. Mas, ao longo dos últimos 18 meses, a startup de jornalismo lento Tortoise criou uma comunidade com mais de 110.000 membros e um alcance mensal de 12 milhões de pessoas nas redes sociais. Esse crescimento é impulsionado amplamente pelo boca a boca — metade dos novos membros são indicações dos membros já existentes.

A Tortoise surgiu em 2019 com o objetivo de oferecer uma cura para o excesso de notícias ao disponibilizar para as pessoas um lugar onde elas pudessem ir quando se sentissem sobrecarregadas pelo incessante ciclo de notícias.

Dado o senso de incerteza e isolamento desencadeados pela pandemia, a diretora de comunicação da Tortoise, Tessa Murray, diz que não foi uma surpresa os leitores se voltarem para o jornalismo lento.

"As pessoas querem fazer parte de uma conversa; elas querem entender melhor as coisas", acrescenta.

 

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O Digital News Report do Reuters Institute mostra que as preocupações em torno da disseminação de desinformação por políticos e pelas redes sociais deixam muitos usuários em dúvida sobre em quais veículos jornalísticos eles podem confiar.

Em contraste, o jornalismo lento evita aumentar a massa de informação já existente. Em vez disso, ele considera quais forças estão orientando a pauta do noticiário.

"O e-mail diário Tortoise Daily Sensemaker tem sido incrivelmente popular porque vai direto ao ponto nas coisas que importam no dia", diz Murray. 

A pandemia também desencadeou um senso coletivo de perda da capacidade de ação. Com o Reino Unido em lockdown, e cerca de 11 milhões de pessoas dispensadas temporariamente do trabalho, muitos se sentiram impotentes diante da situação. Foi dentro desse contexto que o modelo de jornalismo lento da Tortoise de fato se destacou, ao convidar todos os seus membros a "pegarem um lugar para se sentar à mesa".

Algo central para o modelo de negócios da Tortoise são as sessões "Think In". Elas criam um fórum de "redação aberta" no qual os membros podem compartilhar suas ideias e opiniões com a equipe editorial. Abrangendo tanto temas locais como globais, as sessões dão poder aos leitores para influenciar a maneira como a publicação faz sua cobertura, assim como o futuro da empresa. Por exemplo, a sessão recente "Como a Tortoise pode se tornar local?" convidou os membros a analisarem a ideia de criar um hub local da empresa no nordeste da Inglaterra.

 

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No ano passado, mais de 120 mil pessoas participaram das sessões Think In, comprovando o valor dado pelos leitores em poder contribuir com seu ponto de vista para a pauta noticiosa da empresa. Mas Murray diz que esses debates foram mutuamente benéficos. 

"É um processo iterativo mesmo", ela diz. "São nas sessões que coletamos informação crucial que molda o que fazemos."

Ao convidar seus membros para o diálogo, as sessões Think In permitem à Tortoise aprender a partir de muitos pontos de vista, assegurando que seu jornalismo seja verdadeiramente inclusivo.

Durante a pandemia, a abordagem da Tortoise centrada nos membros ofereceu acesso a uma comunidade quando muitas pessoas não tinham uma.

"A Tortoise fornece um lugar onde os membros podem trazer suas ideias e preocupações, podem ser ouvidos e fazer parte de uma conversa ativa."


Este artigo foi originalmente publicado pelo Journalism.co.uk e republicado pela IJNet com autorização.

Foto por Grant Durr no Unsplash.