O desenvolvimento do podcasting na África francófona

Nov 6, 2020 em Jornalismo básico
Fone de ouvido com áudio em fundo rosa e azul

"O que você gostaria que sua mãe lhe dissesse?"

Essa é a pergunta que Diane Audrey Ngako, a fundadora da Omenkart, uma agência de comunicação, faz a todos os seus convidados em seu podcast de sucesso intitulado Si maman m’avait ["Se a mamãe tivesse me contado"] nos Camarões. Duas vezes por mês, ela dá a palavra a uma mulher ou a um homem para falar sobre assuntos tabus como endometriose ou poligamia na África. O podcast funciona porque o formato de áudio protege a intimidade e a imagem dos convidados.

Apreciados pela facilidade de acesso, tanto em termos de produção quanto de distribuição, os podcasts são amplamente distribuídos ao redor do mundo e estão cada vez mais se desenvolvendo na África francófona.

No entanto, é muito difícil obter números sobre o consumo de podcasts na África. Não existe um método de medição padrão e, muitas vezes, o público não tem uma definição clara do que constitui um podcast.

De acordo com o Reuters Digital News Report, na África do Sul e no Quênia, cerca de 40% das pessoas mais educadas nas áreas urbanas são ouvintes mensais de podcast. "Na África, o uso de smartphones é mais dominante do que no resto do mundo, o que incentiva o desenvolvimento de novos usos. No entanto, as restrições em torno da largura de banda afetam o crescimento", diz o relatório.

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Lançado em abril de 2020, o Conversation Privée ["Conversa Privada"] é um dos programas mais recentes a emergir do ecossistema de podcasts na África francófona. Duas vezes por mês, empreendedores, gerentes executivos, jornalistas e atores importantes do mundo da moda e da cultura compartilham histórias dos bastidores sobre suas profissões e suas vidas em Abidjan, na Costa do Marfim. Eles também discutem suas visões de mundo e de sucesso com a apresentadora Jessica Brou.

“Para começar, sou uma grande consumidora de podcasts. Escuto três a quatro horas por dia, sejam de notícias, história ou de desenvolvimento pessoal e profissional”, explica Brou. "Mas descobri que os podcasts de desenvolvimento não ressoavam realmente com a minha vida diária na Costa do Marfim ou correspondiam às realidades da África francófona". Em vez disso, ela queria descobrir e mostrar pessoas que estavam construindo carreiras profissionais prósperas na África francófona, o que a levou à criação do seu programa.

Encontrando o público

No mundo do podcasting, fazer com que o público descubra e ouça produções de áudio continua a ser um desafio chave para muitos criadores em todo o mundo. Para ter sucesso, criatividade e desenvoltura são essenciais.

"Eu conto para muitas pessoas sobre o podcast e quando um episódio é capaz de interessar alguém próximo a mim, eu o mando — não gosto de receber mensagens enviadas a dezenas de pessoas, então evito fazer a mesma coisa”, diz Brou. “As redes sociais são obrigatórias. O Conversation Privée tem uma página no Instagram e uma conta no LinkedIn. O LinkedIn é um grande aliado e ajuda na 'descoberta' do podcast.”

Outro podcast também está indo bem no Mali: o Tounka, que significa "aventura" em bambara, dirigido por Hadèye Fofana e Mohamed Sissoko.

“Escolhemos este nome porque consideramos a literatura uma aventura”, afirmam os jovens produtores. “O nosso objetivo é fazer com que quem ouve viaje através da nossa voz, mas também levá-los para o mundo dos livros que partilhamos com eles todas as sextas-feiras no nosso canal no YouTube. "

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Segundo eles, os jovens malineses não leem o suficiente, devido à falta de acesso à cultura e a ferramentas para estimular o interesse pela literatura.

“O Tounka nasceu do desejo de fazer com que os jovens malineses e africanos descobrissem (ou redescobrissem) a literatura. Mais do que nunca, devem abraçar a literatura, tanto do continente como de fora, bem como as suas figuras literárias, para compreender e enfrentar a mundo", diz Fofana. "Tornamos nossa missão trazer de volta os autores esquecidos de nosso continente."

Um dos episódios mais recentes do podcast conta a vida e obra de Yambo Ouologuem, escritor malinês, autor de “Le devoir de violent” (“O dever da violência”) e vencedor do prestigioso prêmio literário Renaudot em 1968.

Criar e compartilhar o podcast continua difícil porque a equipe tem recursos limitados. Fofana e Sissoko só têm seus smartphones como dispositivos de gravação. Seu podcast é transmitido exclusivamente no YouTube e anunciado através do WhatsApp.

Modelos de negócios de podcasts 

Uma indústria de podcast está começando a tomar forma nos países de língua inglesa do continente africano: o Quênia é sede de um festival de podcast, que infelizmente foi cancelado este ano por causa da crise global de saúde, e plataformas de hospedagem como Afripods estão começando a surgir. No entanto, na África francófona, ninguém está ganhando a vida como podcaster ainda, e aqueles que desejam ser podcasters enfrentam muitos desafios.

O alto custo da conexão com a internet e o desconhecimento do formato, principalmente devido ao baixo interesse das plataformas de streaming por esses países, dificultam o desenvolvimento do setor.


Abèdjè Sinatou Saka é jornalista e gerente de projeto editorial na RFI e na França 24. Ela é responsável pelo desenvolvimento da oferta de podcast dos canais. Ela é beninense e criadora do Afrofuturismes, um podcast transmitido pela RFI em agosto de 2019. É uma criação original que investiga a história de um movimento nascido nos Estados Unidos, mas que questiona o futuro africano. 

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