Há duas décadas, a Fundação Metamorphosis desempenha um papel de destaque no combate a falsas narrativas e no comando de campanhas de letramento digital na Macedônia do Norte, país onde a desinformação está desenfreada.
Com sede na capital Escópia, a Metamorphosis tem uma atuação ampla. A organização abriga três veículos, incluindo o primeiro serviço de verificação de fatos do país. A fundação trabalha como uma vigilante da transparência do governo, realiza oficinas de capacitação para jornalistas e combate narrativas falsas no ecossistema de mídia do país.
Parceira do ICFJ, a Fundação Metamorphosis tem sido o alvo de uma campanha difamatória contínua que começou quando pessoas antivacina postaram no Facebook informações contra o Truthmeter, o veículo de verificação de fatos da fundação, alegando que ele estava censurando conteúdo na plataforma em questão. A campanha escalou rapidamente para ataques pessoais contra os funcionários da Metamorphosis.
Nós conversamos com o jornalista investigativo Goran Rizaov, gerente de programas da Metamorphosis, primeiro para saber mais sobre o trabalho da organização e o ambiente de mídia na Macedônia do Norte. Em uma segunda parte desta entrevista, que será publicada em outro momento, Rizaov discute a natureza dos ataques online que ele e sua equipe estão vivenciando.
Além de seu trabalho com os programas da fundação, Rizaov tem mais de dez anos de experiência como jornalista, sendo especializado em reportagem investigativa. Em 2015 ele fez parte de uma equipe que recebeu o Prêmio Nikola Mladenov de reportagem investigativa.
A seguir está a primeira parte da entrevista:
Como você descreveria o atual ambiente de mídia na Macedônia do Norte?
Infelizmente, nos últimos anos, o ambiente de mídia na Macedônia do Norte tem se tornado cada vez mais desprazeroso e hostil para o jornalismo profissional. Para ser totalmente honesto, embora, no geral, os níveis de liberdade de expressão tenham aumentado, o nível de profissionalismo na mídia despencou.
Há centenas de pequenas redações com duas, três ou quatro pessoas no total que falham no serviço à verdade e ao interesse público. Os veículos estão fragmentados e economicamente fracos, então se por um lado cresce o número de veículos, a quantidade de jornalistas profissionais jovens diminui ano a ano. Para muitas pessoas, o jornalismo se tornou uma profissão indesejável, e os jornalistas não são uma parte respeitável da sociedade. Para muitos, a imagem do jornalista na Macedônia do Norte é a imagem de alguém que é corrupto, facilmente comprado e pronto para sucumbir à pressão de qualquer centro de poder.
Isso levou a uma situação em que a mídia online está preparada para publicar qualquer coisa para ter mais visualizações de página. Por isso, há um espaço grande para a desinformação entrar na grande mídia, um baixo nível de profissionalismo e descaso com os padrões jornalísticos. Alguns assuntos importantes como políticas para jovens, educação superior, igualdade de gênero, violência de gênero, combate à desinformação, educação financeira, saúde mental, raramente entram na grande mídia. Sobretudo, o que você consegue ler na mídia são notícias sem qualquer contexto sobre questões políticas diárias.
Quais são os exemplos comuns de desinformação?
Quando falamos das narrativas de desinformação mais comuns difundidas na Macedônia do Norte, incluem-se difusão de narrativas antivacina, bem como desinformação segundo a qual vacinas causam diferentes doenças, principalmente em crianças. Tudo isso acontece durante um período em que o país e toda a região estão sofrendo com uma epidemia de coqueluche – uma doença que era praticamente inexistente nas últimas décadas devido à imunização regular.
Outras narrativas de desinformação que são amplamente compartilhadas estão relacionadas à invasão em larga escala da Rússia à Ucrânia que teve início há dois anos. A principal narrativa diz que a Rússia está lutando contra o nazismo na Ucrânia e que a guerra não é entre a Rússia e a Ucrânia, mas sim entre a Rússia e a OTAN ou os EUA.
Se olharmos para a desinformação doméstica, ela é predominantemente compartilhada por fazendas de trolls políticos em redes sociais como o Facebook e o X, mas também no Instagram e no TikTok. Dentre elas estão narrativas de desinformação que sugerem que, ao seguir o objetivo estratégico da integração euro-atlântica, os macedônios estão perdendo sua identidade, idioma e tradições, o que levaria ao desaparecimento da nação. A Macedônia do Norte é membro da OTAN desde 2020, mas ainda não começou totalmente as negociações para se integrar à União Europeia.
O que todo mundo precisa saber sobre o trabalho da Fundação Metamorphosis?
A Fundação Metamorphosis está em atividade há 20 anos. É uma das maiores organizações da sociedade civil nos Balcãs Ocidentais. Nossa visão é ajudar a criar uma sociedade em que os cidadãos exerçam os seus direitos e responsabilidades cívicos e cobrem a prestação de contas do governo.
Nós temos quatro programas ou linhas de trabalho: direitos humanos online, educação para a inovação, prestação de contas social e mídia para a democracia, o que inclui três veículos de mídia.
Há quanto tempo a organização vem trabalhando no combate à desinformação? Você tem alguns destaques para compartilhar?
Há mais de uma década, a Metamorphosis começou o programa de mídia para a democracia para criar uma cultura de respeito pela liberdade de mídia e jornalismo profissional, e criou o primeiro veículo de mídia do programa, o Truthmeter. De fato, este é o primeiro serviço de verificação de fatos da Macedônia do Norte. Naquela época, a Metamorphosis reconheceu a ameaça em potencial que a desinformação representava para o desenvolvimento de democracias nos Balcãs, na Europa e no mundo.
Em 2019, a Metamorphosis e o Truthmeter se tornaram signatárias do código de princípios da Rede Internacional de Verificação de Fatos (IFCN na sigla em inglês). Esses princípios incluem o compromisso com o não-partidarismo e a imparcialidade, transparência de fontes, financiamento, metodologia e uma política de correção aberta e honesta. Desde então, ambas se tornaram membros da rede. A Metamorphosis também foi uma das fundadoras da Rede Europeia de Padrões de Verificação de Fatos em 2022.
O programa de democracia para a mídia da Metamorphosis inclui outros dois veículos de mídia – "Meta", no idioma macedônio, e "Portalb", em albanês. Todos os três veículos da fundação ganharam juntos o prestigioso Prêmio Roberto Beličanec em 2019 pela promoção do jornalismo como um bem público. Os três veículos se comprometeram em conjunto a desmascarar desinformação não só na Macedônia do Norte como também na região dos Balcãs Ocidentais. Nós também criamos uma rede regional de organizações que trabalham juntas no combate à desinformação nos Balcãs Ocidentais. Em abril de 2020, a Metamorphosis e outras oito organizações formaram a Rede Antidesinformação dos Balcãs (ADN-Balkans na sigla em inglês).
Os membros fundadores divulgaram uma declaração que reafirma a liberdade de expressão em suas várias formas, ressaltando que a situação nos Balcãs requer um foco adicional no combate ao problema da desinformação em um nível regional. Nós também observamos que a mídia na região deve priorizar o empoderamento dos cidadãos por meio da educação.
Este artigo é o primeiro de uma série de duas partes. A entrevista foi editada para mais clareza.
Foto por Tamas Marton via Pexels.
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