Novo kit de ferramentas ajuda jornalistas a cobrir desastres naturais com mais eficácia

por Neel Dhanesha
Jul 28, 2025 em Reportagem de meio ambiente
A large tornado coming out of the sky.

O clima extremo ao mesmo tempo tem uma vastidão incomensurável e é intensamente pessoal. De longe, a forma de um desastre é relativamente clara, mesmo que os detalhes não o sejam: enchentes repentinas, como as que atingiram o Texas, a Carolina do Norte e o Novo México no fim de semana de 4 de julho, furacões que devem ocorrer no fim do verão, ondas de calor atingindo grandes porções do país ou incêndios e tornados que parecem surgir como ervas daninhas.

No local, os detalhes ficam mais aguçados: casas destruídas, pessoas conhecidas perdem suas vidas (até 15 de julho, havia pelo menos 132 vítimas fatais das enchentes no Texas e cerca de 170 pessoas estavam desaparecidas). A forma do desastre é a forma de uma casa, de um bairro ou comunidade.

Enfrentar um desastre — antes, durante e depois de sua ocorrência — pode ser avassalador, e na maioria das vezes envolve um emaranhado de órgãos e regulamentações no nível municipal, estadual e federal que você nunca ouviu falar antes. E em meio ao golpe duplo de deterioração do jornalismo local e aumento da desinformação nas redes sociais, até mesmo achar informações precisas sobre o desastre pode ser difícil.

É por isso que o Grist, publicação sem fins lucrativos especializada na cobertura climática, criou um kit para ajudar nessa tarefa. Ele se chama Disaster 101 e conduz os leitores por todas as etapas de um desastre, desde os preparativos antes do mesmo até sua superação e o caminho pelo labirinto de recursos disponíveis após sua ocorrência. Ele foi feito para ser compartilhado e adaptado por líderes comunitários, governos locais e veículos jornalísticos, bem como foi criado para que pessoas com acesso limitado à internet possam acessar os recursos mais importantes. 

"O público-alvo do kit são pessoas que podem vivenciar um desastre, o que é bastante amplo. É basicamente qualquer pessoa nos dias de hoje", diz Lyndsey Gilpin, gerente sênior de engajamento de comunidade no Grist e líder do projeto. Gilpin criou um material similar quando comandava o Southerly, que encerrou as atividades em 2023, e o Grist também chegou a colaborar com a Blue Ridge Public Radio, na Carolina do Norte, na criação de um guia específico do Furacão Helene após a tempestade atingir o estado em setembro do ano passado.

Poucos meses depois da publicação do guia sobre o furacão Helene, Katie Myers, que cobre a mudança climática em Appalachia como parte de uma parceria entre o Grist e a Blue Ridge Public Radio, disse a Gilpin que muitas pessoas da região estavam em busca de informações sobre moradia e despejo. "Eu percebi que deveríamos fazer uma versão maior do guia, já que teríamos que recriar a mesma coisa repetidamente para outros desastres", diz. 

O Disaster 101 é igualmente um guia e um material explicativo. Os primeiros nove artigos (um dos quais é em espanhol) são focados nas informações mais relevantes na iminência de um desastre ou quando ele acabou de ocorrer. Isso inclui guias de preparação para desastres e acesso a recursos de socorro e recuperação, bem como guias focados em direitos de imigrantes e direitos eleitorais após catástrofes. Os últimos dois são uma resposta direta a ações no nível federal; o artigo sobre direitos dos imigrantes, que também foi traduzido para o espanhol, tem dicas sobre o que fazer se você se deparar com o Serviço de Imigração (ICE), por exemplo.

Estes nove guias estão todos formatados em texto simples para que possam ser acessados até em situações de dados móveis limitados, algo que Gilpin e seus colegas no Grist aprenderam com a Blue Ridge Public Radio durante a produção do guia sobre o Furacão Helene. O material também está disponível em PDF para que possa ser salvo offline ou impresso e distribuído. Muitos dos guias também trazem dicas sobre como encontrar informações precisas, o que Gilpin diz ter sido inspirado na proliferação de teorias da conspiração sobre a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA) após o Furacão Helene. Segundo ela, a expectativa é que as pessoas, ao usarem o guia, entendam que ele é confiável porque foi verificado por uma organização jornalística.

Após os guias formatados em texto simples, há seis artigos que são majoritariamente sobre a conexão entre clima extremo e mudança climática. "Eu não queria que isso fosse a primeira coisa que as pessoas vissem. Quando você está vivenciando um desastre, você não pensa 'como a mudança climática está afetando isso?'", diz Gilpin. "Isso é algo que você pensa depois do fato, mais tarde. Mas eu também não quero afastar as pessoas do Grist, do kit de ferramentas ou de qualquer informação que venha a ser compartilhada porque a reação imediata de muita gente no nosso país é 'olha, ouvi num podcast que eu sigo que a mudança climática não é real'. Por isso, acho que é muito importante chegar até as pessoas onde elas estão, mesmo que isso signifique engolir o nosso orgulho e não usar o termo 'mudança climática'." 

O guia Disaster 101 foi projeto para ser compartilhado, republicado e, mais importante de tudo, adaptado para que pessoas que normalmente não acessam o trabalho do Grist possam ainda assim se beneficiar dos materiais oferecidos pela organização. O guia encoraja as pessoas explicitamente a adaptar os guias para contextos locais e até inclui um modelo para jornalistas de redações locais com sugestões de como adequar os textos para suas regiões, indicando parágrafos para ajustar ou eliminar, além dos espaços para incluir informações sobre órgãos municipais e estaduais. É um documento vivo para ser atualizado à medida que as circunstâncias mudem na esfera nacional. Se, por exemplo, o governo Trump seguir adiante com o plano para desmantelar a FEMA ou se o ICE começar a fazer patrulhas de imigração em áreas atingidas por catástrofes, as informações do guia sobre ajuda federal vão ter que mudar.

"Eu queria criar algo que todo mundo copiasse e melhorasse", diz Gilpin. Ela espera que qualquer um interessado em divulgar mais informações sobre desastres — sejam governos locais, grupos de ajuda mútua e justiça climática ou veículos jornalísticos — pegue o que o Grist fez e vá além, tornando o material o mais relevante possível localmente. "Estamos apenas lançando as bases. Acho que, como um veículo nacional, é um grande serviço que podemos oferecer."   

Gilpin também espera que o guia ajude a criar conexões mais fortes entre organizações de ajuda mútua e justiça ambiental no nível estadual — ela conversou com muitas delas durante a produção do Disaster 101. Essas organizações tendem a disponibilizar documentos massivos logo após a ocorrência de um desastre. O guia foi feito para facilitar esse trabalho. Pode ser difícil para um jornalista de uma redação que talvez esteja literalmente debaixo d'água descobrir por onde começar a produzir um guia desses. O material também pode aumentar a confiança entre jornalistas e líderes comunitários. 

"Espero que isso ajude a construir uma rede mais forte em torno de catástrofes em geral, não só após a ocorrência em si, mas também fora da temporada de desastres; e que também fortaleça o ecossistema de informações sobre desastres", diz Gilpin. "No momento, essa é meio que a função dele, já que não tem muita orientação por parte do governo federal. Quanto mais nós, jornalistas, pudermos nos juntar e colaborar com as pessoas que já fazem o trabalho de campo, mais forte esse ecossistema informativo pode ser."


Foto por Greg Johnson via Unsplash.

Este artigo foi originalmente publicado no Nieman Lab e republicado na IJNet sob a licença Creative Commons CC BY-NC-SA 3.0.