Mulheres pagam preço psicológico alto com notícias sobre crise climática

Mar 17, 2022 em Diversidade e Inclusão
Women climate activists

Uma das questões que afligem a cobertura climática é o seu impacto. Não há mais debate no noticiário sobre se a mudança climática é real ou se é de fato danosa. Mas a maneira como o assunto é noticiado ajuda ou impede as ações que ele demanda? E como isso afeta a audiência feminina, que tem mais chances de ser impactada pela crise climática?

As pessoas se sentem desestimuladas e desesperançosas quando pensam na mudança climática. Essa é uma barreira importante para engajar audiências na hora de noticiar a questão, particularmente no norte global. Por exemplo, 14% das pessoas no Reino Unido e 15% nos Estados Unidos disseram se sentirem tristes quando questionadas a respeito da mudança climática em pesquisas do Google encomendadas pela AKAS entre outubro de 2021 e janeiro de 2022. Uma proporção notavelmente mais alta, porém — 29% no Reino Unido e 19% nos Estados Unidos — afirmou sentir tristeza diante da cobertura jornalística sobre a crise climática. Parece que o noticiário está colocando uma camada adicional de negatividade em uma audiência que já está sofrendo.

Eu perguntei à Ana [cujo nome foi modificado para proteger o anonimato] — europeia com nacionalidade britânica e do leste do continente interessada na mudança climática — sobre suas percepções em relação ao noticiário. Ela me disse que não acompanha mais notícias na grande mídia. Excessivamente negativa, melancólica e caça-clique, a mídia não a envolve. Ela considera a mídia particularmente culpada por gerar medo e desespero sem oferecer soluções o bastante.    

A pesquisa mais recente realizada pela AKAS em fevereiro de 2022 também destacou uma divisão emocional entre o norte e o sul nas reações à crise climática. Enquanto audiências no Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Austrália sentiram mais frequentemente emoções de tristeza seguida de frustração, na Nigéria, África do Sul e Índia foi frustração seguida de medo.

O custo psicológico de se envolver com o noticiário climático é particularmente alto para mulheres

Em uma série de pesquisas online encomendadas pela AKAS em fevereiro de 2022, perguntamos a adultos sobre suas emoções em relação à mudança climática. Em todo o norte e sul globais, mulheres se mostraram consistentemente mais propensas a relatar tristeza (22% das mulheres contra 19% dos homens na Nigéria, África do Sul e Índia; e 24% das mulheres contra 22% dos homens no Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Austrália). Estes resultados estão alinhados com o Digital News Report 2020 da Reuters: apesar de ainda ser uma minoria, no norte global mulheres e jovens adultos entre 18-24 anos são mais propensos que homens a enxergarem a mudança climática como um "problema extremamente sério". Por outro lado, em países do sul global, a maioria tanto de homens quanto de mulheres consideram que o problema é extremamente sério.

Linn Martinsen, conselheira psicoterapeuta e autora, sugere que a razão para mais mulheres se sentirem tristes pode estar ligada a sentimentos de impotência que muitas mulheres vivenciam. "Eu fico imaginando se algo familiar é desencadeado quando se depara com o conceito opressor de mudança climática. É grande demais, muito abrangente; não podemos lutar contra ele e não tem como fugir, nos deixando com a melancolia de uma perda aparentemente inevitável", diz.

Bipasha van der Zijde, consultora de comunicação na Words for Everything, argumenta que tristeza abarca angústia, desespero, desesperança e desamparo. "Acho que os dois últimos são cruciais. Não estamos preparados para esta crise que ameaça romper bruscamente com o mundo como o conhecemos", diz. Para ela, o papel preeminente das mulheres na criação dos filhos e no desenvolvimento de comunidades torna desproporcionalmente triste ver seus futuros serem ameaçados.

Quando perguntei à ativista do clima filipina Mitzi Jonelle Tan, que frequentemente analisa dados sobre o clima, o que ela pensa sobre a cobertura da crise climática, a resposta dela me preocupou. "Eu na verdade tendo a não ler notícias sobre o clima logo de cara", ela refletiu atenciosamente. "Eu me dou tempo e espaço para dar uma olhada. Eu só vejo quando eu sei que dou conta de lidar, porque é algo que me deixa consternada muito facilmente."

Eu fiquei com uma percepção clara de que o noticiário sobre a mudança climática está falhando com a audiência feminina porque gera emoções poderosas, frequentemente desestimulantes; ele falha em construir ligações entre o problema e a vida da audiência; e falha em refletir adequadamente as perspectivas de mulheres protagonistas ou ativistas. Jornalistas e redações tendem a priorizar os aspectos macro da crise climática em detrimento de uma abordagem micro. Isso resulta em uma cobertura que é menos focada no impacto e nas soluções da crise climática em nível pessoal e comunitário.

Abaixo estão três maneiras de o jornalismo estimular o engajamento universal com as matérias sobre o clima:

Reequilibrar o problema da crise climática com matérias micro e macro sobre progressos no sul e norte globais

Nas palavras de Ana: "O que eu adoraria ver é uma cobertura objetiva, na qual soluções são oferecidas e em que há mais intercâmbio de fatos sobre o que diferentes países ou mesmo pequenas comunidades estão fazendo para ajudar a resolver o problema da mudança climática. Eu adoraria ver sendo cultivadas reportagens positivas que mostrem que há pessoas que estão fazendo tudo que podem para fazer a diferença."

Aceitar o dever do jornalismo de cuidar da audiência

Deixar o público desanimado ou agudamente ansioso com manchetes calamitosas e ao mesmo tempo sem oferecer soluções é não só moralmente questionável como também prejudica o esforço de engajar a audiência. O noticiário deve considerar quais emoções evoca e buscar ativar raiva e frustração ao mesmo tempo em que age contra emoções desestimulantes de tristeza, desespero e ansiedade. Embora a tristeza seja uma reação apropriada às consequências da mudança climática, como sugere Martinsen, "essa tristeza precisa se converter em algo novo e diferente se quisermos nos sentir energizados e mobilizados para realizar mudanças."

Construir uma visão do futuro inspirada em evidência para que o público tenha esperança e tome uma atitude

Eu perguntei a Tan o que a faz seguir em frente e quais benefícios compensam os custos psicológicos do seu trabalho como ativista. A resposta dela me marcou: "Sempre que pratico meu ativismo, eu tento levá-lo para um lugar de amor, um lugar que não te exaure, de amor pelas pessoas e amor por viver, pela vida e pela alegria. Não ser apenas anti-alguma coisa, mas ser pro-alguma coisa — construir aquele mundo melhor que estamos tentando criar."

E se, em vez de escrever sobre a crise climática somente de um lugar de medo e afronta, nós também tratássemos dos bravos atos de esperança e amor que exemplificam a preocupação com nosso planeta? Será que esse tipo de jornalismo pode engajar mais a audiência?


Pesquisa para o artigo fornecida por Richard Addy & AKAS.

Foto por N Jilderda no Pexels.