O jornalismo ético e independente desempenha um papel-chave em informar as pessoas e pressionar a prestação de contas. Para cumprir com isso em tempos de guerra, jornalistas precisam lidar com quantidades significativas de desinformação e garantir sua própria segurança.
Fazer reportagens nesse contexto é tão desafiador quanto perigoso. Por isso, suporte internacional através de financiamento e equipamentos de proteção pode ser crucial para os jornalistas que estão trabalhando para diferenciar verdade de panfletagem.
A Declaração de Perugia para a Ucrânia — apresentada por membros e parceiros do Fórum Global para o Desenvolvimento da Mídia no Festival Internacional de Jornalismo em Perugia, na Itália — apela justamente para isso: dar assistência aos jornalistas enquanto eles trabalham em meio à invasão da Rússia à Ucrânia. Focada na necessidade de apoiar o jornalismo independente na Ucrânia, a declaração condena "os ataques da Rússia à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão na Ucrânia da forma mais veemente possível."
"A perseguição, tortura e morte de jornalistas é repugnante e precisa parar. Os responsáveis precisam prestar contas e serem levados à Justiça sob a lei nacional e internacional", diz o texto.
Desde que a Rússia começou a invasão à Ucrânia no fim de fevereiro, sete jornalistas foram mortos enquanto trabalhavam em campo. Ao menos outros dois foram feridos e mais um está detido pelas forças russas, de acordo com o Comitê de Proteção aos Jornalistas. "Em nome do futuro imediato e segurança de nossos colegas ucranianos e a viabilidade de longo prazo do jornalismo independente de interesse público em todos os lugares, todos precisamos tomar uma atitude neste momento", clama a declaração.
Assinada por mais de 160 organizações e 130 indivíduos até o momento, a declaração está disponível em inglês, belorusso, francês, ucraniano, russo e italiano. Ela pede que as seguintes medidas sejam tomadas:
- Primeiramente, ela apela para que jornalistas e mídia internacional forneçam equipamentos adicionais de proteção à Ucrânia, chamando atenção para a insegurança social de produtores e tradutores que estão trabalhando em campo na Ucrânia com a mídia internacional. "Abram suas portas para jornalistas e redações desalojados. Dê a eles um lugar de onde possam trabalhar. Contrate-os se você puder", diz a declaração.
- Em segundo lugar, o texto faz um chamado para doadores públicos e privados e financiadores do jornalismo profissional para "aumentar e fornecer suporte financeiro flexível para a mídia que produz jornalismo ético e independente" sobre a invasão russa à Ucrânia.
- Em terceiro lugar, a declaração pede que a União Europeia, seus estados membros e os membros da Coalizão de Liberdade da Mídia, e todos os estados que se importam com o direito à liberdade de expressão e acesso à informação, "usem todos os fóruns multilaterais para defender os direitos dos jornalistas e avançar na proteção dos mesmos na condição de civis sob a lei humanitária internacional, principalmente no contexto da guerra da Rússia contra a Ucrânia."
- Finalmente, a declaração apela para que intermediários de tecnologia, telecomunicações e internet, bem como anunciantes, "trabalhem com a mídia e o jornalismo para identificar, proteger e fomentar o jornalismo independente e ético, a verificação de fatos e os esforços de letramento de mídia", ao mesmo tempo em que também trabalham para evitar "a remoção automatizada de conteúdo jornalístico que documenta evidências de crimes internacionais de agressão, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e outras sérias violações dos direitos humanos."
A importância do jornalismo de rua na Ucrânia
A Declaração de Perugia foi lançada no dia 9 de abril durante uma sessão do Festival Internacional de Jornalismo, no qual profissionais de mídia que cobrem a guerra na Ucrânia discutiram como jornalistas locais estão desempenhando um papel crítico em contar as histórias de suas comunidades. Eles também abordaram alguns dos desafios únicos enfrentados por jornalistas que cobrem a invasão.
Perguntada sobre a situação da desinformação nos primeiros dias da invasão, Daryna Shevchenko, CEO do The Kyiv Independent, disse que havia uma quantidade descomunal de mensagens que causavam pânico e ansiedade. "No começo era tudo uma bagunça. Todo mundo lia qualquer coisa sem filtros — sem saber o quê e como filtrar."
Nesse contexto, era importante manter as pessoas calmas. "Este é provavelmente o trabalho mais importante que os jornalistas locais assumiram desde o primeiro dia — apenas parar, acalmar todo mundo e conter a disseminação de notícias que na verdade não são notícias, são apenas emoções e medo."
Garantir que as pessoas no leste da Ucrânia recebessem informação digna de confiança se provou especialmente difícil, de acordo com Olha Kyrylova, jornalista que cobre Donetsk e Luhansk. "Infelizmente, muitas pessoas na região têm acesso a canais de TV e rádios russas, por isso elas deveriam ter uma fonte de informação verdadeira e real sobre o que está acontecendo", disse.
Os painelistas destacaram o papel crítico que jornalistas e redações desempenham hoje na Ucrânia, principalmente quando se trata de produzir matérias com apelo que atinjam uma audiência global. Os jornalistas locais na Ucrânia são os que estão em melhor posição não só para apurar fatos na rua, "mas também para capturar uma realidade visceral", diz Tamara Qiblawi, produtora sênior da CNN Digital.
Shevchencko acrescenta: "precisamos mostrar para o mundo que essas pessoas na verdade são como você."