Mídia na Indonésia usa quadrinhos para engajar leitores

Nov 14, 2022 em Temas especializados
Different superhero comics piled together.

Tradicionalmente, os veículos usam histórias em quadrinhos somente para complementar seu conteúdo existente. O Jurnaliskomik, uma iniciativa de mídia da Indonésia, está fazendo o oposto disso, usando os quadrinhos como seu formato primário de informação.

"Os quadrinhos normalmente são usados apenas como um complemento, e mesmo assim eles só ocupam o pé de algumas páginas do jornal", diz o fundador do Jurnaliskomik, Hasbi Ilman Hakim.

O Jurnaliskomik foi criado em 2016, quando a indústria de HQs na Indonésia vivia um renascimento depois de ser suplantada pelos quadrinhos do Japão, dos Estados Unidos e da Europa nos anos 1980. Não havia nenhum veículo na Indonésia, porém, que usava histórias em quadrinhos como sua forma principal de reportagem.

Um artista habilidoso e apaixonado pelo mundo das HQs desde a adolescência, Hakim começou a produzir já no início da sua carreira quadrinhos inspirados por histórias reais que aconteciam perto dele. Elas eram distribuídas no formato de zines em universidades na cidade de Bandung, em Java Ocidental. "Foi só em 2018 que começamos a subir os trabalhos para um site e redes sociais", diz.

Hakim considerou que a resposta do público às histórias em quadrinhos foi positiva. Atraídos pelas imagens cativantes com uma escolha de cores marcantes e enredos focados em questões humanas, os leitores — principalmente jovens versados em tecnologia — espalharam o conteúdo do Jurnaliskomik em sites, no Instagram e Twitter.    

"Basicamente, nós queremos criar trabalhos que tenham um impacto no público, que possam ser consumidos por vários grupos e apresentados de um modo criativo", diz Hakim.

Reportagens com foco humano

Hakim acredita que as histórias em quadrinhos oferecem um jeito atrativo de engajar os leitores, ajudando-os a entender melhor questões e eventos complexos. Matérias longas, por exemplo, podem ser resumidas com ilustrações e textos curtos sem remover a mensagem que o repórter está tentando transmitir. 

O Jurnaliskomik frequentemente destaca matérias sobre pessoas e grupos marginalizados. Um dos quadrinhos, "Protegendo o cemitério", ressalta o papel de trabalhadores de saúde durante o agravamento da pandemia de COVID-19. Outra matéria, intitulada "Compaixão na vastidão de Jacarta" conta a história dos esforços de uma mulher para salvar uma criança vítima de violência doméstica. Em "Uma vida nova na ilha das prisões", os quadrinhos retratam a vida de uma família em Nusakambangan, uma ilha onde fica localizado o complexo presidiário de segurança máxima da Indonésia.   

As reportagens do veículo lançam luz sobre questões humanitárias, históricas e aspectos da sociedade que são sub-reportados no noticiário ou têm significado especial para a população da Indonésia, explica Hakim. Ele espera que o trabalho do Jurnaliskomik não só entretenha mas também gere emoções e melhore o entendimento dos leitores sobre questões e eventos. "Por trás dos números e dos dados, há uma história. O que queremos destacar com o nosso trabalho é o lado humanista da vida das pessoas", diz.

Adesão ao código de ética do jornalismo

Atualmente o Jurnalikomik é formado por uma pequena equipe de cinco pessoas, incluindo quadrinista, designer gráfico, editor e dois repórteres. O veículo colabora frequentemente com outros jornalistas e redações. "A colaboração é também um esforço para introduzir o jornalismo em quadrinhos para uma audiência mais ampla", diz Hakim.

Assim como outras iniciativas jornalísticas, a reportagem em quadrinhos também deve aderir aos princípios éticos do jornalismo. Também pode levar tempo para gerar HQs baseadas em eventos reais, devido à pesquisa aprofundada necessária. "O que nós desenhamos nos quadrinhos deve ser o mais próximo possível da situação real. Por exemplo, a aparência dos personagens e outros detalhes", diz.

Para assegurar a credibilidade e precisão de seu trabalho, a equipe verifica todos os fatos e dados usados, bem como quaisquer fotos ou arquivos que venham a ser incorporados. "Mantemos nosso trabalho distante de opiniões pessoais", diz Hakim.

Desafios e oportunidades

O Jurnaliskomik representa um gênero com o qual muitas pessoas não estão familiarizadas, diz Ravi Ahmad Fauzan, chefe de marketing do veículo. As HQs também são frequentemente vistas como um conteúdo voltado principalmente para crianças, com foco somente em ficção e humor. "Esse é o entendimento que queremos mudar. Os quadrinhos são uma forma de transmitir [informação] como outros gêneros midiáticos, como texto e vídeo", diz Fauzan. 

Mas há oportunidade significativa para o Jurnaliskomik deixar sua marca na Indonésia. Afinal, poucos veículos no país fazem jornalismo em quadrinhos. "O retorno dos leitores em relação ao nosso conteúdo é bom até o momento, por isso estamos confiantes o bastante para seguir em frente", diz.  

Depois de pausar as operações em 2021 por causa da COVID-19 e fontes de financiamento incertas, o Jurnaliskomik retomou as publicações neste ano com os surtos do vírus agora sob controle. A equipe do veículo tem planos ambiciosos no horizonte, diz Fauzan. "No futuro, queremos fazer projetos offline seja na forma de exposições, revistas impressas ou merchandise", diz. 

Com isso em mente, o Jurnaliskomik está em busca de um modelo de negócios sustentável — um que o permita manter sua independência de patrocinadores e investidores. "Embora nós ainda não tenhamos lucrado financeiramente, há uma certa satisfação quando o nosso trabalho é admirado e útil para tantas pessoas", diz Hakim.


Foto por Erik Mclean via Unsplash.