Mídia na Finlândia usa criatividade para funcionar

Jan 9, 2024 em Sustentabilidade da mídia
Helsinki from an aerial view in the snow

O sueco é a segunda língua oficial da Finlândia, porém menos de 6% da população é composta por falantes nativos. Esse percentual caiu pela metade ao longo do último século, restando atualmente apenas 300.000 finlandeses que falam sueco.

A mídia em sueco na Finlândia diminuiu junto com esse declínio. Mas vários veículos em sueco estão mantendo viva sua tradição literária e encontrando formas inovadoras de sobreviver.

Saiba como eles estão fazendo isso:

Mudança no foco das prioridades

Hufvudstadsbladet, que pode ser traduzido como "Jornal da Capital", é o maior jornal em sueco da Finlândia.

"Somos um jornal nacional, um jornal para a comunidade de língua sueca na Finlândia e um jornal local para a região da capital", diz o novo editor-chefe do Hufvudstadsbladet, Kalle Silfverberg.

De acordo com Silfverberg, os principais desafios que o Hufvudstadsbladet enfrenta hoje incluem competir pela atenção e dinheiro das pessoas, e ser atrativo para as prioridades dos mais jovens. Para manter o público interessado, o Hufvudstadsbladet decidiu focar seu conteúdo em tópicos "que motivam uma pessoa a pagar pela assinatura", diz Silfverberg. Dentre eles estão política, economia, cultura, a comunidade sueca na Finlândia e textos de opinião.

Cobrir a comunidade sueca é especialmente fundamental, diz Silfverberg. O Hufvudstadsbladet é o único jornal na Finlândia que cobre a comunidade em nível nacional. Para assegurar que o jornal mantenha essa posição, a diretoria do jornal começou a pesquisar maneiras de assegurar um futuro financeiro saudável.

O Hufvudstadsbladet foi comprado recentemente pela empresa de mídia sueca Bonnier News, que agora é detentora de 51% do jornal. A maior vantagem resultante da mudança de propriedade, diz Silfverberg, é o aumento na capacidade técnica: agora o jornal pode usar a equipe da Bonnier para ter acesso a mais habilidades e experiência. 

"É uma garantia de que o Hufvudstadsbladet vai ser publicado no futuro. É ótimo ter acesso ao conhecimento da maior organização de mídia dos países nórdicos", diz. O jornal deixou de ser um peixe pequeno para ser agora um nome maior na mídia finlandesa, com mais recursos para fazer experimentações e ampliar seu alcance.

Equipe multitalentos 

O jornal finlandês mais antigo ainda em circulação é o Åbo Underrättelser. É um jornal regional em sueco que cobre a parte ocidental da Finlândia.

"Há dias em que é muito estimulante ver como conseguimos fazer tudo isso", diz Tom Simola, editor do Åbo Underrättelser, ao falar sobre manter o jornal em funcionamento.

Os recursos para tornar isso viável são limitados. Por exemplo, o Åbo Underrättelser não tem nenhuma equipe técnica e os repórteres mantêm o site por conta própria. O jornal é distribuído em formato impresso cinco dias por semana e o site é atualizado diariamente, explica Simola.

"Nós temos uma equipe versátil com conhecimento considerável sobre muitas coisas: conteúdo editorial, aspectos técnicos e diferentes ferramentas. Eles também estão prontos pra ajudar se necessário. É disso que vivemos. Temos funcionários experientes que são muito motivados", diz.

O fim do Åbo Underrättelser seria uma grande perda para a região e para a língua sueca. Existem hoje poucas instituições na área que reúnem falantes de sueco, e seria "devastador" para o idioma perder uma plataforma que levanta essas questões, cobre o que está acontecendo e dá às pessoas a oportunidade de destacar suas preocupações e necessidades, explica Simola.

"Um jornal nacional nunca vai conseguir substituir um jornal local", diz. "Estamos presentes no local." Mas é uma solução cara, ele acrescenta, e a situação financeira é desafiadora.

O jornal testou várias soluções para se sustentar. No momento, dois terços da receita da publicação vem de assinaturas e um terço vem de anúncios. O jornal também usou subsídios do governo voltados para veículos de mídia que cobrem minorias. 

No ano passado, o Åbo Underrättelser fez um teste de seis meses publicando em sua versão impressa diária artigos online da emissora pública nacional, e a redação também troca conteúdo com um jornal regional das ilhas Åland islands. Com sede em uma cidade universitária, o jornal também testou assinaturas gratuitas para estudantes, porém obtiveram menos sucesso, já que os estudantes não estavam tão interessados.

Também no ano passado, o jornal se mudou para a área de Raasepori, que já era dominada pelo jornal em sueco Västra Nyland. A comunidade sueca na Finlândia é pequena e a maior parte das pessoas conhece umas às outras. Pode ser estranho entrar em um mercado e desafiar diretamente um jornal estabelecido.

Mesmo assim, a competição não é ruim: há espaço para vários produtos, diz Simola. "No fim, são os leitores que gostam disso, que exista vários veículos monitorando seus problemas."

O hiperlocal é um sucesso

Opções hiperlocais apontam para um potencial caminho a ser seguido. O Nya Östis é um jornal do tipo na região de Loviisa, fundado em 2015 depois que outros jornais locais se fundiram. A fusão fez com que muitos moradores sentissem que estavam recebendo menos notícias sobre o que estava acontecendo em sua vizinhança.

O Nya Östis foi fundado como uma resposta, e quase uma década depois o jornal ainda é publicado em formato impresso uma vez por semana, chegando a 2.500 assinantes.

Em contraste com a maioria da mídia hoje, o Nya Östis se afastou do digital. Não há versão online do jornal que possa ser adquirida, e somente algumas poucas matérias menores são publicadas online. A redação trabalha exclusivamente com freelancers, e até mesmo a editora-chefe, Carita Liljendahl, é terceirizada. A equipe entrega pessoalmente o jornal em algumas lojas locais que vendem a publicação.

Embora o Nya Östis tenha uma base de assinantes leais e consiga gerar receita por meio de assinaturas e anúncios, a redação também foi atingida pela atual situação econômica. O jornal teve que aumentar o preço de sua assinatura em 10 euros. Não foi muito, diz Liljendahl, mas foi o primeiro aumento em muitos anos.

Para gerar ideias de pauta, o jornal recebe sugestões por meio de seu grupo no Facebook, que tem mais de 5.000 membros. O jornal também usa o grupo no Facebook para engajar com os assinantes: o grupo evoluiu para se transformar em uma praça virtual onde as pessoas da região se reúnem. Muitos membros do grupo não são assinantes, mas todo mundo tem interesse na região. Eles compartilham postagens sobre a cidade que consideram interessantes e postam sobre suas próprias vidas, subindo fotos sobre o tempo ou a primeira neve, dentre outros assuntos. 

Liljendahl acredita que o hiperlocal é a chave para um futuro próspero. "Jornais desse tipo têm o futuro diante deles", diz. "Eu gostaria que mais pessoas enxergassem isso."


Foto por Julius Jansson via Unsplash.