Startups africanas levantaram mais de US$ 4 bilhões em 2021 — cerca do dobro do que elas arrecadaram no ano anterior, de acordo com o Big Deal. O continente também registrou um aumento de 25% no número de acordos anunciados no ano passado em comparação com 2020.
À medida que o ecossistema de tecnologia continua a crescer na África, é importante prestar atenção nos esforços de veículos de tecnologia locais que cobrem o que acontece no setor.
"Antes da internet, algumas poucas empresas de mídia monopolizavam as conversas e moldavam as opiniões e percepções de milhões de pessoas em direção ou para longe de algo em particular", disse Benjamin Dada, editor do Benjamin Dada Blog, durante uma entrevista. “Esse poder desenfreado afetou a África e a Nigéria, consequentemente."
De acordo com Dada, "muitas dessas instituições de mídia [que] não sabem a diferença entre a Nigéria e a África estavam publicando matérias unilaterais sobre nós, nosso país e o continente. Por muito tempo, isso era tudo que um cidadão médio, que poderia ser um investidor nigeriano em potencial, empregador ou turista, sabia sobre a África."
Contando histórias sobre startups de tecnologia africanas
Com mais de 40 veículos no continente focados em tecnologia atualmente, jornalistas africanos agora podem efetivamente produzir sua própria cobertura sobre o setor. "Eu comecei a fazer matérias em 2017 sobre tecnologia especificamente em Gana antes de escrever sobre tecnologia em outros países africanos", diz Joseph-Albert Kuuire, editor do Tech Nova.
A maioria desses veículos distribui seu conteúdo digitalmente através de blogs, podcasts, redes sociais e newsletters. Isso teve um impacto significativo no crescimento do ecossistema de tecnologia da África, e atraiu o resto do mundo para o continente. Grandes executivos do Vale do Silício, incluindo Mark Zuckerberg e Jack Dorsey, visitaram a África por esse motivo.
Koromone Koroye, editora-chefe do TechCabal, outro veículo nigeriano de tecnologia, lançou o site com o objetivo de ajudar o mundo a entender o ecossistema tecnológico na África. "Na maioria dos casos, nossas matérias sobre fundadores estreantes chamaram a atenção de investidores estrangeiros e fundos de venture", diz Koroye.
De acordo com a newsletter Communiqué, de 13 startups de tecnologia nigerianas, 12 apareceram na mídia local antes de atraírem a atenção de veículos internacionais. Publicações internacionais como TechCrunch, Rest of World e Quartz também chegaram a contratar repórteres locais.
Ressaltando o papel dessas empresas de mídia focadas em tecnologia, Oluwatomi Solanke, fundador e CEO da Trove, fintech pan-africana, diz que "os veículos de tecnologia estão dando exposição àquilo que os inovadores do setor tecnológico estão construindo no continente, e com isso tornando possível que investidores estrangeiros invistam em tecnologia no continente. Essa cobertura também fornece dados que possibilitam a tomada de decisão."
Em outubro do ano passado, por exemplo, o Google anunciou um fundo de US$ 50 milhões para apoiar startups de tecnologia africanas. Naquele mesmo mês, a empresa de investimento nova-iorquina Tiger Global investiu R$ 15 milhões na nigeriana Mono e US$ 3 milhões na Union54, da Zâmbia. Recentemente, a fintech Flutterwave levantou R$ 250 milhões em uma rodada de investimentos realizada pelas investidoras estrangeiras Tiger Global e Avenir. Esse investimento triplicou o valor de mercado da Flutterwave para mais de US$ 3 bilhões, tornando-a a mais valiosa startup de tecnologia africana atualmente.
Desafios da cobertura de tecnologia na África
Cobrir tecnologia na África inclui uma série de desafios também. "Muitos fundadores de primeira viagem não confiam em empresas de mídia e jornalistas. Nós existimos para amplificar os inovadores africanos, não para criticá-los", diz Koroye.
"Tentar encontrar informações financeiras e de participação no mercado sobre startups de tecnologia em Gana pode ser difícil", diz Kuuire. "Estou trabalhando em alguns projetos de dados que vão ser de fonte aberta para colaboradores e que vão permitir que o público os acesse também. Espero lançar esses projetos neste ano e também usar os dados para fazer matérias. Também tenho uma boa rede de contatos para acionar para tópicos relacionados a conteúdos específicos."
A maioria dos veículos é financiada por um pouco de publicidade e assinaturas. Enquanto isso, outros se benefiam de venture capital. "Financiar operações de mídia pode ajudar a contratar repórteres mais qualificados e obter recursos para criar mais conteúdo sobre a África", diz Kuuire, que atualmente é o único repórter em tempo integral da Tech Nova.
O futuro da mídia especializada em tecnologia na África
Carinhosamente chamadas de "quatro grandes", Nigéria, Quênia, África do Sul e Egito dominam a cobertura de tecnologia no continente. Outras regiões, porém, também estão gerando impactos memoráveis que merecem ser noticiados. As empresas de mídia africanas especializadas em tecnologia também vão ter que prestar atenção ao desenvolvimento de suas receitas para custear repórteres em todo o continente.
A maioria dos veículos digitais na África oferece conteúdo gratuito; apenas uns poucos conseguiram monetizar seu conteúdo. "Deixe as pessoas entenderem que informação é algo pelo qual vale a pena pagar. Há um desafio em ajudar as pessoas a entenderem que onde está o valor é onde é possível gerar receita", diz Fadekemi Abiru, editor-chefe da Stears Business, veículo de tecnologia e negócios que funciona com assinaturas.
Além disso, apesar de boa parte da cobertura de tecnologia ser orientada a soluções, as notícias sobre o setor de tecnologia na África também vão assumir uma perspectiva investigativa para explorar as atividades no continente, assim como foi feito no Vale do Silício.