Jornalistas da África enfrentam cada vez mais cortes de internet

Oct 13, 2023 em Liberdade de imprensa
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Cada vez mais, durante crises, os governos africanos cortam ou restringem o acesso dos cidadãos à internet e às redes sociais. Desde 2015, os países do continente vivenciaram mais de 100 cortes em redes sociais, cortes parciais de internet ou apagões completos da internet, de acordo com o Surfshark, que monitora interrupções de conexões de rede e restrições a redes sociais impostas por governos. De 2020 a 2021, a África foi a região mais censurada do mundo.

Em abril, por exemplo, o Sudão impôs um apagão de internet quase que total em meio ao combate entre as Forças Armadas do Sudão e o grupo paramilitar Forças de Suporte Rápido. Este foi o 12º registro de interrupção de internet no Sudão desde 2015, e o maior em qualquer país africano, ao lado da Etiópia.  

Na Etiópia, as autoridades também interrompem repetidamente o acesso à internet, incluindo na região do Tigré, durante o conflito. Os cortes permitem que os governos escondam abusos de direitos humanos e prisões de jornalistas, de acordo com ativistas.

Por causa desses cortes, muitos africanos, incluindo jornalistas, podem ter pouco ou nenhum acesso a informações online.

"A falta de conexão à internet pode ter consequências vastas e potencialmente devastadoras para o cidadão comum, que não consegue se comunicar com entes queridos ou relatar a situação para o mundo exterior. Isso os deixa isolados e vulneráveis em momentos de crise", disse Gabrielė Račaitytė-Krasauskė, chefe de comunicação do Surfshark, em um pronunciamento.

Saiba a seguir como esses cortes estão afetando o trabalho de jornalistas:

Censura e falta de segurança

Limitar o acesso à internet atrapalha a habilidade dos jornalistas de chegar até suas audiências, já que muitos veículos existem predominantemente online. Enquanto alguns governos alegam que essas restrições ajudam a manter a segurança e combater a disseminação de desinformação, jornalistas dizem que esses cortes, na verdade, têm a intenção de restringir o fluxo de informação. 

"Os cortes de internet violam a liberdade de expressão e prejudicam o trabalho das redações. Eles são uma afronta à liberdade de imprensa e à liberdade das mídias em geral", diz Mujuni Raymond, jornalista investigativo de Uganda e editor do The Nation Media Group.

As restrições à internet impedem os jornalistas de informar e conduzir investigações. "Os cortes de internet afetam a capacidade dos jornalistas de pesquisar, colaborar e oferecer informação factual para suas audiências - e o mais importante, durante eleições, quando essa informação é mais necessária", diz Raymond.

Essas interrupções também podem expor repórteres e suas fontes ao perigo já que eles recorrem a métodos de comunicação menos seguros, acrescenta Raymond. "Quando cortam a internet, jornalistas precisam usar ligações telefônicas, que são normalmente inseguras e afetam a habilidade de investigar pautas que exigiriam muita comunicação privada e segura."

Lidando com cortes de internet

As redes virtuais privadas (VPNs na sigla em inglês) são a principal ferramenta que jornalistas usam para escapar dos cortes de internet. Durante uma suspensão de sete meses do X (antigo Twitter) na Nigéria, em 2022, o jornalista investigativo Kabir Adejumo usou VPNs para acessar as redes sociais e outros recursos online.

"É triste para mim na condição de jornalista porque eu dependia do X para acompanhar debates sociais e políticos fundamentais. Eu tive que usar uma VPN para acessar o site, diz Adejumo. Mas isso trouxe riscos. "Mesmo depois de mudar para a VPN, Abubakar Malami, o então procurador-geral da federação, ameaçou processar quem violasse a suspensão", diz. 

Mas as VPNs não são uma solução perfeita. "As VPNs sugam a bateria e os dados de vez em quando, mas foi o que eu usei para acompanhar fontes", diz Joseph Olaoluwa, repórter sênior do TechCabal. "Infelizmente, o corte do X forçou muitas pessoas, marcas e negócios a saírem da plataforma e usarem plataformas alternativas de redes sociais. Então tive que procurar por eles nesses lugares."

Mantendo-se informado

Com os jornalistas se esforçando para produzir reportagens precisas e manter canais de comunicação abertos diante de cortes de internet, é essencial que eles permaneçam informados e protejam sua presença digital. 

"A liberdade de imprensa é absolutamente vital para a democracia em toda parte. Jornalistas censurados, seja como for, presos, mortos, atacados ou censurados eletronicamente, comprometem a capacidade da sociedade de tomar decisões embasadas", diz Jonathan Rozen, pesquisador sênior do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ).

Para os jornalistas que estejam lidando com tais interrupções, há recursos e estratégias disponíveis para ajudar a diminuir o impacto das mesmas. Organizações como o CPJ e o Repórteres Sem Fronteiras oferecem apoio, orientação e defesa. Além disso, ferramentas de segurança digital e capacitação, como as oferecidas por organizações como a Fundação Fronteira Eletrônica, podem ajudar os jornalistas a protegerem suas atividades online e suas fontes.

Ao se manterem informados, usando recursos disponíveis e se adaptando, jornalistas podem continuar a lançar luz sobre pautas importantes e assegurar que a informação flua livremente, mesmo diante de restrições.


Foto por Leon Seibert via Unsplash.


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Repórter freelancer

Sikiru Obarayese

Sikiru Obarayese é um jornalista investigativo nigeriano habilidoso. Já foi aluno do Source Protection Programme, um curso de prestígio que oferece formação em segurança de informação e operacional oferecido pelo Centro de Jornalismo Investigativo.