Uma das maiores redações tradicionais da Índia pode se tornar 100 por cento móvel?
Como novo editor móvel do Hindustan Times, Yusuf Omar é responsável pela formação e capacitação da equipe do jornal para todos se tornarem jornalistas móveis como parte de sua nova política de "digital first" (prioridade para o digital).
As primeiras incursões de Omar no jornalismo móvel começaram em 2010, quando ele pegou carona da África do Sul para a Síria com nada além de seu smartphone e uma pequena câmera na mão para contar sua história. Desde então, ele usa tecnologia móvel para informar das linhas de frente da guerra síria aos protestos #ZumaMustFall em Joanesburgo. Ele treinou jornalistas móveis da África do Sul, Índia e Reino Unido, muitas vezes usando recursos do ICFJ e IJNet para orientar suas lições. Atualmente ele está baseado em Londres para participar do curso Convergência da Mídia da Thomson Foundation, mas vai para Istambul este mês para falar no evento Social Good Summit.
Recentemente, ele fez sucesso por meio de seu uso do Snapchat para contar as histórias de sobreviventes de abusos sexuais na Índia -- ou melhor, permitindo-lhes contar suas próprias histórias através do jornalismo "selfie".
Atrás de um filtro do Snapchat, as vítimas puderam falar anonimamente para a câmera do smartphone. Ao mesmo tempo, os telespectadores ainda conseguiam ver as expressões faciais das vítimas e ouvir suas vozes. O resultado foi algo mais pessoal e íntimo do que uma entrevista tradicional poderia ter permitido, Omar explicou.
"A razão de eu conseguir tais filmagens íntimas é porque as pessoas esquecem que meu celular está lá", disse ele. "Quem quer contar uma história de ser estuprada com uma lente grande em sua cara? Eu realmente acredito que jornalismo móvel é a forma mais digna e autêntica para contar histórias."
Falamos com Omar sobre Snapchat, storytelling e a construção da maior redação móvel do mundo:
IJNet: Você encontrou limitações para levar Snapchat para o Hindustan Times?
Omar: Algumas pessoas acham Snapchat muito difícil porque é uma história linear. Isso é talvez o maior desafio: ensinar as pessoas a fazer um roteiro, porque como você sabe, uma tomada aparece depois da outra. Você tem que ter uma compreensão fundamental do seu início, meio e fim. É realmente muito irônico, porque na verdade você está voltando para técnicas de estilo de televisão de storytelling para conseguir uma história muito boa no Snapchat.
Conte-nos sobre as segunda-feiras "MoJos" do Hindustan Times. Como é que estas reuniões semanais levam todos na redação a bordo do celular?
O treinamento envolve três etapas: experiência, capacitação e engajamento. Nós deixamos as pessoas experimentarem novas tecnologias onde mostramos como funcionam os robôs de bate-papo e 360°. Capacitar significa realmente adicionar conjuntos de habilidades, em que você ensina como colocar legendas em seus vídeos, como montar storyboards, como injetar metadados em suas histórias. Esse tipo de coisa.
A maior parte é o engajamento. Chegando no Hindustan Times, havia muito pouca conversa nas reuniões além de quem, o quê, quando, onde, por que, como -- os princípios básicos do jornalismo. Agora, nós tentamos passar pelo menos 50 por cento da conversa falando sobre compartilhamento. Onde vai essa matéria? Com que grupos do Facebook vamos iniciar conversas; que Twitter influenciadores vamos identificar?
Como você engaja os leitores? Você os incentiva a participar do processo de jornalismo móvel?
De uma forma maciça. No Snapchat, por exemplo, trouxemos seis alunos para a sala de redação e ensinamos a eles como usá-lo. Falamos para eles saírem e criarem Snapchats das mais estressantes seis semanas de suas vidas: quando entraram na universidade. Esta foi uma oportunidade para falarem sobre vida sexual, tensões com suas famílias e mais.
Foi fácil para nós, porque a cada semana eles produziram uma história no Snapchat e depois enviaram. Nós, em seguida, produzimos o que é efetivamente um reality show sobre a vida dos jovens alunos. É rentável, é íntimo e nos dá uma perspectiva totalmente nova. Dessa forma, você está trazendo o público e eles estão se tornando os superstars virais de amanhã.
Que conselho você daria a aspirantes a jornalistas móveis?
Olhe para além dos truques. Se você olhar para o Snapchat pelo que é, o que tem? Tem um monte de línguas duvidosas, emoticons e todo esse tipo de coisa. Mas olhe mais profundamente, e você vai encontrar uma plataforma que tem muito mais tecnologia do que a maioria das outras plataformas. A capacidade de fazer o mapeamento de rosto é diabolicamente complicado. É uma brilhante peça de software. Hackeie. Temos uma palavra na Índia, em hindi, chamada jugaard -- a revista Economist define como "inovação frugal. E isso é exatamente o que é. Trata-se de usar a tecnologia que está dentro do Snapchat ou Facebook Live para contar histórias surpreendentes e ter os mais amplos mandatos criativos para fazer coisas significativas.
Com o Facebook Live, nós fizemos as coisas no estúdio com alças, tipo âncoras. Esses se revelaram totalmente ineficazes, porque o nosso público de mídia social não quer que a gente recrie televisão. Os mais bem sucedidos vídeos do Facebook Live foram feitos com uma câmera -- instável, de mão, com áudio ruim, mas criticamente, no campo. Eu acho que é preguiçoso não estar no campo. Se você está fazendo uma crítica de filme, esteja fora do cinema. Se você está falando sobre mercados [financeiros], esteja em um banco. Use o fato de que você tem o jornalismo móvel em sua plenitude.
Você pode adicionar Yusuf no Snapchat tirando uma foto do snapcode à esquerda e, em seguida, enviá-la de seu rolo da câmera, selecionando "Adicionar amigos", depois "Adicionar por Snapcode" no aplicativo.
Esta entrevista foi resumida e editada por claridade.
Imagem cortesia de Yusuf Omar