A inteligência artificial generativa (IA) decolou na velocidade da luz nos últimos dois anos, gerando disrupção em muitas áreas. As redações não são uma exceção.
Um novo estudo publicado neste mês mostra que tanto o público quanto os jornalistas estão preocupados com a forma como o jornalismo está usando – e pode vir a usar – a IA generativa, como o caso de chatbots, geradores de imagem, áudio e vídeo e ferramentas similares.
O estudo se baseia em três anos de entrevistas e pesquisas em grupos focais sobre IA generativa e jornalismo na Austrália, Estados Unidos, Noruega, Suíça, Alemanha e França.
Somente 25% dos participantes disseram estar seguros de que tinham se deparado com o uso de IA generativa no jornalismo. Cerca de 50% não tinham certeza ou suspeitavam que sim.
Isso sugere uma potencial falta de transparência por parte das redações sobre o uso de IA. Também pode refletir a falta de confiança entre veículos e audiências.
Quem ou o quê produz as notícias – e como – importa por uma série de razões.
Alguns veículos tendem a usar mais ou menos fontes, por exemplo. Ou usam certos tipos de fontes – como políticos e especialistas – mais que outros.
Alguns veículos dão pouca representatividade ou fazem um retrato equivocado de setores da população. Isso às vezes ocorre porque os próprios veículos não são representativos de sua audiência.
A falta de cuidado no uso de IA para produzir ou editar conteúdo jornalístico pode reproduzir algumas dessas desigualdades.
O nosso estudo identifica várias formas de uso da IA generativa por jornalistas e redações. Ele também mostra até que ponto as audiências estão confortáveis com cada um desses usos.
No geral, as pessoas com quem conversamos se sentem mais confortáveis com jornalistas usando IA em tarefas de bastidores do que para editar e criar. Isso inclui usar IA para transcrever uma entrevista ou para encontrar novas ideias sobre como cobrir um assunto.
Mas o conforto depende fortemente do contexto. As audiências se mostraram bem confortáveis com o uso da ferramenta para algumas tarefas de edição e criação quando os riscos percebidos são menores.
O problema – e a oportunidade
A IA generativa pode ser usada em praticamente todos os âmbitos do jornalismo.
Por exemplo, um fotógrafo cobre um evento. Na sequência, uma ferramenta de IA generativa pode selecionar aquelas que "considera" serem as melhores imagens, editá-las para otimizá-las e adicionar palavras-chave.

Isso pode parecer um caso de aplicação relativamente inofensiva. Mas e se a IA identificar algo ou alguém incorretamente e essas palavras-chave levarem a equívocos de identificação nas legendas? E se os critérios que os humanos usam para definir o que é uma imagem "boa" forem diferentes daqueles de um computador? Esses critérios também podem mudar ao longo do tempo ou em diferentes contextos.
Mesmo algo simples como aumentar ou diminuir a exposição à luz em uma imagem pode causar furor quando há políticos envolvidos.
A IA também pode inventar coisas. As imagens podem parecer realistas, mas mostrar coisas que nunca aconteceram. Vídeos podem ser gerados inteiramente com IA ou editados com IA para mudar o contexto.
A IA generativa na maioria das vezes também é usada para escrever títulos ou resumir textos. Essas parecem ser aplicações úteis para pessoas que têm pouco tempo, mas alguns veículos estão usando IA para roubar conteúdo de outros.
Alertas de notícias gerados por IA também se equivocam na hora de retratar os fatos. Por exemplo, a Apple recentemente suspendeu o seu recurso de notificações de notícias geradas automaticamente. A empresa tomou essa decisão depois da IA falsamente afirmar que o suspeito de assassinato Luigi Mangione tinha se matado, com a fonte atribuída à BBC.
O que as pessoas pensam sobre o uso da IA no jornalismo?
Nossa pesquisa descobriu que a audiência parece se sentir mais confortável com jornalistas usando IA para certas tarefas que ela mesma já usou para fins similares.
Por exemplo, as pessoas entrevistadas se mostraram bastante confortáveis com o uso da IA no jornalismo para borrar partes de uma imagem. Nossos participantes disseram terem usado ferramentas semelhantes em aplicativos de videoconferência ou ao usar o modo "retrato" em smartphones.
Do mesmo modo, quando você envia uma imagem para um software de processamento de palavras ou de apresentação, ele pode criar automaticamente uma descrição em texto daquela imagem para pessoas com deficiências visuais. Aquelas pessoas que já haviam se deparado anteriormente com esse tipo de descrição de imagem feita por IA se sentem mais confortáveis com jornalistas que usam IA para adicionar palavras-chave a um arquivo de mídia.

O uso mais frequente de IA generativa no jornalismo testemunhado pelos nossos participantes foi por meio de notícias sobre a viralização de conteúdos criados por IA.
Por exemplo, quando surgiu uma imagem gerada por IA mostrando os príncipes William e Harry se abraçando na coroação do rei Charles, veículos informaram que a mesma era falsa.
Os participantes do nosso estudo também viram avisos sobre o uso de IA na redação, edição ou tradução de matérias. Eles relatam que alguns desses textos eram acompanhados por imagens geradas por IA. Este é um método popular no The Daily Telegraph, que usa imagens geradas por IA para ilustrar muitas de suas colunas de opinião.

De modo geral, os participantes do nosso estudo se mostraram mais confortáveis com o uso de IA no jornalismo para gerar ideias e enriquecer conteúdo multimídia já criado. Na sequência, vem o uso de IA para editar e criar. Mas o grau de conforto depende fortemente do uso específico.
A maioria dos participantes se mostrou confortável com o uso de IA para criar ícones em um infográfico. Mas houve demonstração de muito desconforto com a ideia de usar um avatar para apresentar o noticiário.
Em relação à edição, a maioria dos participantes se sente confortável com o uso de IA para animar imagens históricas, como neste caso. A IA pode ser usada para "avivar" uma imagem estática na esperança de atrair o interesse e o engajamento do público.

Seu papel como membro da audiência
Se você não tem certeza sobre se ou como jornalistas estão usando IA, busque as políticas ou um conteúdo explicativo do veículo em questão sobre o assunto. Se você não encontrar nada, considere pedir ao veículo que crie e publique uma política relacionada ao tema.
Considere apoiar veículos que usam IA para complementar e ajudar – em vez de substituir – o trabalho humano.
Antes de tomar uma decisão, considere o histórico de confiabilidade do jornalista ou veículo em questão e o que mostram as evidências.
Foto por Mohamed Nohassi via Unsplash.
Este artigo foi originalmente publicado pelo The Conversation e republicado na IJNet com permissão.