Fotojornalistas experimentam com jornalismo 'ao vivo'

por Mandla Chinula
Oct 30, 2018 em Jornalismo multimídia

Em vez de esperar que os leitores fiquem grudados nos artigos em dispositivos sobrecarregados com informações e opções, organizações de mídia em todo o mundo estão experimentando diferentes formatos para entregar seu conteúdo.

O jornalismo ao vivo, além de oferecer aos leitores uma maneira mais concentrada e cativante de consumir conteúdo, também traz receita extra para jornalistas e suas organizações. Para fotojornalistas, isso apresenta uma maneira alternativa de apresentar suas imagens.

A IJNet conversou com Florence Martin-Kessler, cofundadora e editora-chefe da Live Magazine, sobre o movimento emergente do jornalismo ao vivo -- particularmente para o fotojornalismo. Com base em Paris, a Live Magazine chamou a atenção internacional pelo seu formato de reportagem ao vivo, de uma noite, que permite ao jornalistas contar histórias originais e inéditas no palco diante de uma audiência.

Uma das oportunidades que o jornalismo ao vivo trouxe, particularmente para fotojornalistas, é a capacidade de mostrar fotografias não publicadas. Qualquer fotojornalista atestará o fato de ter milhares de imagens que não foram consideradas adequadas para sua publicação especificamente.

"Uma vez tivemos Jerome Delay, que é o principal fotógrafo da AP na África, com sede em Joanesburgo", disse Martin-Kessler. "Ele contou uma história forte e violenta sobre linchamento na República Centro-Africana. Algumas das imagens não foram publicadas [na mídia tradicional] por causa da violência e morte. O fato de você estar em uma sala com o fotógrafo torna possível mostrar coisas que pode não mostrar na mídia impressa ou digital."

Com fotojornalistas ainda guardando muitas de suas imagens, poderia-se pensar em um programa de jornalismo ao vivo com base exclusivamente na fotografia. No entanto, uma mistura de fotografia, texto e histórias interativas geralmente é o mais ideal, disse Martin-Kessler.

"No final deste ano, teremos juntado 28 programas públicos e mais de 250 histórias", disse Martin-Kessler. "Talvez 25 ou mais são histórias de fotojornalismo, [e] muitas histórias têm fotografias, então as narrativas visuais são uma parte essencial do que fazemos. Em cada programa, pelo menos um fotojornalista vai no palco, seja com slideshows ou alguma outra forma de narrativa visual."

O fotojornalismo já tem um apelo visual, que na maioria dos casos limita a adição de mais visuais, pois existe o risco de perder a atenção do público. Martin-Kessler observou como foi difícil tornar o fotojornalismo interativo, já que as sessões de fotojornalismo são envolvidas mais profundamente.

"Nós tentamos produzir as histórias mais livres e criativas e tentamos ir além dos limites em termos de experiências multimídia", disse ela. "Às vezes, temos histórias sem palavras, temos histórias em dança, com imagens. Tentamos explorar diferentes formas de narração: apresentações de slides com música ao vivo, apenas imagens, uma mistura de palavras e imagens, de som e imagens, edições After-Effects, etc."

Martin-Kessler explicou que as imagens estáticas tendem a se adequar melhor ao formato de jornalismo ao vivo do que o conteúdo de vídeo.

"Para nós, imagens estáticas funcionam melhor do que o vídeo", disse ela. "Nós tentamos apresentar histórias documentais, mas é um pouco difícil. Não funciona sempre. Tivemos um lugar onde as fotos puderam ser exibidas em três lados -- não era realmente 360​°, mas foi muito bom. Nós também fizemos histórias onde há apenas uma imagem e o autor revela a história por trás daquela imagem."

O maior número de receitas que os programas de jornalismo ao vivo trazem às organizações de mídia vem da venda de ingressos. Outra grande parcela vem do patrocínio ou conteúdo patrocinado. Segundo Martin-Kessler, poucas histórias de fotojornalismo foram patrocinadas.

"Nós tentamos ter um conteúdo patrocinado. Fizemos isso quatro ou cinco vezes, sob a forma de 'publicidade ao vivo'", disse ela. A Pop-Up Magazine nos EUA usa muitos conteúdos patrocinados por fotojornalismo. O Visa pour l'Image também faz conteúdo patrocinado.

A Live Magazine deverá apresentar cerca de seis histórias baseadas em reportagens fotográficas em setembro no Visa pour l'Image-Perpignan.

Imagem principal sob licença CC no Flickr via benswing. Segunda imagem da plateia no programa da Live Magazine por Jerome Delay cortesia de Nieman Reports.