"Siga o dinheiro", qualquer bom repórter investigativo lhe dirá. E, de fato, os jornalistas que expõem a corrupção e fazem os poderosos prestarem contas no sul global dizem que financiar suas operações é o maior desafio --maior até do que a segurança física ou o risco político.
Um novo relatório da professora Anya Schiffrin da Universidade de Colúmbia, chamado Fighting for Survival: Media Startups in the Global South [Lutando pela Sobrevivência: Startups de Mídia no Sul Global] destaca os desafios existenciais que esses jornalistas enfrentam. Depois de entrevistar dezenas de startups de mídia no sul global e acompanhá-las ao longo do tempo, Schiffrin conclui que muitas não são financeiramente viáveis sem o apoio de doadores.
"O problema é sempre financeiro", diz Branko Brkic, editor do The Daily Maverick, um site sul-africano que ganhou vários prêmios importantes, mais recentemente por suas notícias sobre a família Gupta e o caso conhecido como “a captura do Estado” na África do Sul. "Me preocupa que a mídia possa ser insustentável."
Grandes veículos como o New York Times e Washington Post trabalharam muito nos últimos anos para convencer seus leitores de que vale a pena pagar pelo bom jornalismo. O aumento nas assinaturas e o crescente alcance internacional sugerem que os leitores concordam. O relatório conclui, no entanto, que para agências de notícias independentes em lugares como México, Malásia e África do Sul, sustentar o jornalismo independente com receita de leitores e anunciantes não funciona como um modelo de negócio sustentável.
Os editores citados no relatório dizem que seus leitores na Índia, Mianmar, Brasil e em outras partes do mundo acreditam em reportagens verdadeiras e análises profundas. Eles valorizam o jornalismo independente e apreciam a lacuna de informação que esses editores, sem muitos rescursos, estão preenchendo, especialmente em lugares onde os canais oficiais de mídia são vistos como incapazes de reportar as histórias que importam.
Mas essa valorização não se traduz em receita sustentável, segundo o relatório. Muitos leitores simplesmente não podem pagar por um jornalismo mais envolvido, ou têm medo de apoiar uma mídia vista como oposição aos governos. Os anunciantes também não querem correr o risco.
Um exemplo citado no relatório é o caso do Maldives Independent. Em um país que ocupa a posição 120 de 180 países do Índice de Liberdade de Imprensa do grupo Repórteres Sem Fronteiras, este premiado veículo de notícias se descreve “na vanguarda do esforço do país em direção à democracia há uma década”. Mas, o regime autoritário nas Maldivas espantou os anunciantes do veículo, que ficaram relutantes que suas marcas aparecessem no Independent por medo de serem vistas como políticas.
Publicações como a Himal Southasian --que se mudou para o Sri Lanka depois de ser forçada a deixar o Nepal-- precisam de fontes de financiamento alternativas para continuar o trabalho essencial que estão fazendo, embora tenham provado que estão prontas para investir em si mesmas. Fundadores e editores, por exemplo, usaram fundos pessoais e familiares para fazer com que suas organizações de notícias saíssem do papel em 43% dos casos examinados por Schiffrin --embora apenas 16% tenham recuperado esse investimento inicial. Isso, apesar do fato de que 42% dos fundadores não pagaram um salário a si mesmos ou pagaram um salário que não era suficiente para viver.
Então, isso não é suficiente. Elas precisam de algo mais.
Os jornalistas precisam que doadores internacionais intervenham e facilitem seu trabalho de maneira coordenada. Isso pode ajudar a fornecer apoio e treinamento para repórteres em veículos como Horizontal e SinEmbargo no México, onde eles assumem um risco pessoal imenso ao denunciar crimes e violações de direitos humanos em um país onde pelo menos 72 jornalistas foram assassinados no ano passado.
Na Malásia, onde a agência de notícias Malaysiakini foi alvo de repetidas ações judiciais em um país onde ainda existem leis sobre difamação criminal, o jornalismo de prestação de contas é extremamente caro.
O relatório sugere que os doadores internacionais devem investir na sustentação e no crescimento dessas organizações, à medida que tentam lançar luz sobre histórias de poder, corrupção e abuso que de outra forma não seriam contadas.
Os gráficos fazem parte do “Fighting for Survival: Media Startups in the Global South” da professora Anya Schiffrin da Universidade de Colúmbia.
Imagem principal sob licença CC no Unsplash via Jimi Filipovski.