Faroeste: o jornalismo na era dos influenciadores

por Erin Stock
Jun 4, 2025 em Redes sociais
A woman filming and holding her IPad up to the camera.

Com mais pessoas acessando notícias e informações no YouTube, TikTok e outras redes sociais, como elas sabem quais são os padrões adotados pelos criadores de conteúdo? Como elas distinguem entre jornalistas, influenciadores e outras categorias?

Joss Fong, uma das apresentadoras do canal de ciência Howtown no YouTube, diz que o público – incluindo ela própria – tem dificuldade para distinguir quem é quem nas plataformas.

"É um período de transição totalmente com jeito de faroeste", diz Fong. "Espero que seja em direção a algo que pareça mais claro e confiável, mas talvez não. Talvez esse seja o novo normal."

Fong, que trabalhou como produtora editorial sênior na Vox News por quase uma década, foi convidada de um painel em Nova York organizado pelo Centro Internacional Para Jornalistas (ICFJ na sigla em inglês) e apresentado pela Bloomberg. Ela diz que chega a gastar até dois meses produzindo vídeos investigativos bem elaborados, mas nem sempre é evidente para novos espectadores quais tipos de credenciais ou padrões estão por trás das jornalistas do canal.

"A questão é que não há um padrão a ser atingido para ser um criador de conteúdo noticioso", diz Mosheh Oinounou, fundador do Mo News, outro participante do painel. "O problema para os consumidores é que isso passa a exigir muito mais trabalho."

O painel "Do telejornal ao TikTok: jornalismo na era dos influenciadores" explorou essas questões diante do crescente número de pessoas que recorrem a criadores de conteúdo para consumir notícias. Um estudo recente do Pew Research Center mostrou que uma a cada cinco pessoas nos EUA acessa notícias a partir de influenciadores nas redes sociais.

Além de Fong e Oinounou, o painel também teve Justin Arenstein, CEO do Code for Africa e CEO do ICFJ+, que participou diretamente de Tbilisi, na Geórgia. A moderação foi de Marquise Francis, correspondente do Stay Tuned, da NBC News. O evento começou com uma discussão sobre segurança para jornalistas com Eliot Stempf, vice-presidente de segurança da informação na Axel Springer, e Sharon Moshavi, presidente do ICFJ e CEO do ICFJ+.

 

Joss Fong and Mosheh Oinounou
Joss Fong, do Howtown, e Mosheh Oinounou, do Mo News, durante painel organizado pelo ICFJ

Limites tênues e padrões diferentes

Oinounou, produtor executivo premiado que liderou equipes na Fox News, Bloomberg TV, CNBC e CBS News antes de lançar sua própria marca jornalística, diz que seu trabalho é apartidário e que se certifica de citar fontes e verificar informações. Ele também tem o hábito de corrigir erros no Mo News, assim como Fong, embora ela tenha dito que o Howtown até hoje não tenha precisado fazer nenhuma correção. Mas esse tipo de prática não é regra.

Arenstein diz que, em alguns países, já viu criadores de conteúdo chamando atenção pelo erro de outros, uma outra forma de responsabilização nesse novo ecossistema de mídia.

Ele também encorajou a mídia tradicional a aprender com os influenciadores de notícias que, cada vez mais, atraem pessoas em busca de informação. 

"Há lições por aí que, como mídia, nós podíamos aproveitar, em vez de tentar reinventar o modelo, ou ainda pior, tentar impor algo àquilo que é basicamente um novo ecossistema", disse. "Precisamos tanto aprender o máximo possível com eles quanto tentar impor o que achamos que são padrões aceitáveis." 

Colaborações que aprofundam o impacto

Há regiões em que criadores de conteúdo e veículos tradicionais estão fazendo parcerias que combinam o melhor dos dois mundos.

Em algumas partes da África e do Cáucaso, o Code For Africa vem ajudando a estabelecer parcerias entre criadores de conteúdo e veículos grandes que estão se mostrando benéficas. Na maioria das vezes, os criadores têm conhecimento profundo sobre o assunto ou comunidade que eles cobrem.

Por meio da parceria, eles têm acesso a pesquisa e recursos de produção que não teriam por conta própria, explicou Arenstein. Os veículos, por sua vez, têm acesso e engajamento mais profundo com as comunidades trazidas pelos criadores de conteúdo.

As parcerias foram bem recebidas pelos criadores, em parte por causa do entendimento crescente do que é preciso para ter longevidade com a audiência em diferentes plataformas digitais, disse Arenstein.

"É fácil fazer um conteúdo, mas conseguir fazer com que as pessoas sempre retornem ao seu conteúdo e te considerem uma fonte para tomar decisões e obter informação confiável é uma tarefa muito mais difícil e um esforço maior", disse.

Criar com – e ouvir – a audiência

O painel também explorou como a interação com a audiência é diferente entre criadores de conteúdo e jornalistas tradicionais. 

Oinounou, que está à frente de uma conta no Instagram, diz que todos os dias passa horas trocando mensagens diretas com a audiência, verificando fatos e medindo o interesse em novos assuntos.

Ele diz que postar sobre uma notícia pode rapidamente trazer novas vozes para o processo de reportagem. Em alguns casos, o grande volume de respostas do público sobre um assunto subestimado pode gerar uma cobertura mais aprofundada. O processo também serve como um ciclo de avaliação: "eu fiz tal coisa certo? Ou não? Eu respondi as suas perguntas?"

Explicar o processo de trabalho do Howtown é muito importante, disse Fong, que recebeu o prêmio ICFJ News Creator 2025. O canal mostra a realização de entrevistas, publica as fontes e fala sobre como apura informações. "A gente cria o conteúdo e mostra os bastidores ao mesmo tempo", disse. 

O moderador Marquise Francis reforçou a fala dos convidados, usando como exemplo sua experiência na NBC News, onde produz conteúdo no Snapchat para o público da geração Z. 

"Você não pode simplesmente pegar o que faz na TV e jogar no Instagram. Não é isso que as pessoas querem", disse. "Elas querem ver o rosto de alguém, querem saber que podem acreditar na notícia e querem saber que podem responsabilizar alguém se aquilo estiver errado." 


O ICFJ agradece à Bloomberg por generosamente sediar o evento.

Imagem principal por Antoni Shkraba Studio via Pexels.

Este artigo foi originalmente publicado pelo ICFJ.