A Nigéria tem mais de 90 universidades públicas. São instituições que dependem primariamente do financiamento governamental, que é historicamente defasado. Nos últimos sete anos, o governo federal alocou apenas entre 6% e 8% de seu orçamento à educação, bem atrás do mínimo de 15% recomendado pela UNESCO.
A carência de recursos resulta em manifestações frequentes de professores contra o modo como o governo da Nigéria administra a educação. Desde a transição democrática do governo em 1999, o Sindicato dos Trabalhadores Universitários (ASUU na sigla em inglês) entrou em greve mais de oito vezes.
A greve mais recente do ASUU começou em fevereiro deste ano, sucedendo uma greve de nove meses em 2020. O que começou como um aviso de greve de um mês este ano continuou por sete meses. É o resultado do não cumprimento de um acordo de 2009 com o governo federal que melhoraria o bem-estar dos empregados e implementaria um esquema de pagamento para professores, de acordo com Emmanuel Osodeke, presidente do ASUU.
O impasse atual deixou muitos estudantes, professores e até alguns empresários em uma situação difícil. A falta de previsibilidade das manifestações também tornou mais comum o atraso na formatura dos estudantes nigerianos.
Mas alguns estudantes estão usando essas greves como uma oportunidade de fazer reportagens, fazendo do jornalismo sua ferramenta de protesto.
O impacto dos protestos nos estudantes
Estudante de ciência política da Universidade de Ilorin, Olayide Soaga estava otimista de que as manifestações iriam acabar rápido para que pudesse voltar a ter aulas. "Nos primeiros dois meses eu estava esperançosa. Eu me lembro de falar com um colega: 'não se preocupe, eles vão acabar com a greve logo'", diz.
Ao perceber que a greve não acabaria tão cedo, Soaga escreveu um artigo para o Nigeria Guardian no qual ela destacava como o impasse estava custando dinheiro para os pais e estudantes, pois eles ainda tinham que arcar com aluguel ou quartos em albergues, mesmo não usando as acomodações, já que as aulas estavam suspensas. O texto foi inspirado na própria experiência dela; a estudante foi aconselhada pelo zelador de seu alojamento a se mudar por causa da greve.
Soaga decidiu incorporar também a experiência de seus colegas de sala no artigo. Ela esperava que, ao escrever sobre o assunto, teriam pessoas o suficiente cientes do escopo completo do prejuízo sofrido pelos estudantes.
"Ainda há muitos efeitos indiretos que os estudantes estão enfrentando, e parte deles diz respeito ao dinheiro que estamos perdendo", diz. Ela espera ainda que o artigo tenha um impacto nos alunos. "Eu quero tentar fazer com que as pessoas pensem junto com os estudantes sobre o que podem fazer para ajudar, talvez da parte dos proprietários ou zeladores."
Os efeitos da batalha entre o ASUU e o governo sobre os estudantes também é uma grande preocupação para Adebayo Abdulrahman, estudante de ciência política da Universidade de Ibadan. "É como se tivesse virado uma coisa normal as faculdades ficarem fechadas por seis meses", diz.
Ele considerou que escrever uma matéria sobre a situação lembraria a população sobre como é crucial para os estudantes nigerianos estarem em sala de aula. "Eu sou um jornalista universitário; o único modo que eu posso expressar meu descontentamento e chamar atenção para a situação é escrever a respeito dela [e] dos efeitos que ela tem sobre os estudantes nigerianos."
O uso do jornalismo como uma forma de protesto veio após grupos nacionais que têm interesse na educação, grupos de pressão e estudantes fazerem suas próprias manifestações na esperança de que colocariam um fim à greve dos professores. Mas como nem o governo nem o ASUU demonstraram interesse em se comprometer, tentativas de usar pressão externa diminuíram.
Mas estudantes como Soaga e Abdulrahman continuam usando suas reportagens para expressar suas queixas. A greve, na opinião de Abdulrahman, está impedindo que os alunos sigam adiante com suas vidas. "A greve significa que você não consegue tomar uma decisão embasada sobre o próximo passo que você quer dar na sua vida. Você nem sabe quando vai terminar o semestre acadêmico", diz. Para ele, cobrir os desdobramentos deixou claro o quão despreocupado o governo nigeriano parece estar com o sistema de educação do país.
O trabalho de Soaga resultou em uma reação pessoal mais conflitante. Apesar de estar aliviada de saber que não é a única enfrentando certos obstáculos, ela também se preocupa com o fato de que ninguém vai ajudar os estudantes. "Essa pauta não é uma pauta feliz. Não é o tipo de pauta pela qual você deveria estar animada. Eu fiquei feliz por estar falando sobre o assunto, mas triste porque estava contando um caso triste", diz.
Perseverança
No dia 8 de setembro, o governo federal processou o ASUU. O sindicato foi ordenado pela Justiça a encerrar a greve no dia 21 de setembro enquanto suas demandas eram analisadas. O ASUU recorreu da decisão.
Abdulrahman planeja continuar escrevendo sobre a greve. "Como um jornalista, não consigo ir às reuniões do ASUU ou a uma reunião organizada pelo Ministério da Educação", diz. "A única coisa que eu sei fazer é escrever, e pretendo continuar fazendo a cobertura do ASUU."
No caso de Soaga, após a publicação de seu artigo, foi criado um Space no Twitter em que ela discutiu o artigo e convidou outros autores e estudantes para compartilhar suas experiências com a greve.
"Eu escolheria o retorno [das aulas] no lugar de qualquer matéria assinada, mas se eu tiver a chance de escrever uma matéria novamente, vou fazer isso com prazer, diz."
Foto por Muhammadtaha Ibrahim Ma'aji via Unsplash.