As Equals: série da CNN amplifica histórias de mulheres

Jul 24, 2023 em Diversidade e Inclusão
Women at a computer

Mais de 2 bilhões de mulheres no mundo não têm acesso igualitário à renda. A maioria dos países também tem barreiras legais que impedem a participação econômica plena das mulheres na sociedade. A desigualdade de gênero existe no ambiente de trabalho, em relações pessoais e em várias outras facetas da sociedade. 

Veículos jornalísticos podem ajudar a mudar essa realidade por meio da publicação de conteúdo que rompa com estereótipos de gênero. A CNN, uma das maiores redações dos Estados Unidos, está fazendo exatamente isso com a série As Equals, lançada em 2018 com financiamento do European Journalism Centre. Por meio de newsletters, projetos de áudio, documentários e outros formatos, ela destaca o estado atual da desigualdade de gênero sistêmica.

"Nós não apenas contamos histórias sobre mulheres, nós contamos histórias sobre vencedores e perdedores de sociedades patriarcais", diz Eliza Anyangwe, editora do projeto.

Rompendo barreiras

A série As Equals trabalha com membros de grupos sub-representados para produzir cobertura que destaca assuntos tabu em torno do gênero. 

"Queríamos conseguir expor as razões pelas quais a desigualdade sistêmica de gênero existe", diz Anyangwe. "Há uma dimensão de gênero em cada um dos nossos grandes desafios globais, incluindo mas não limitado à mudança climática, desigualdade econômica ou sanitária, ascensão do autoritarismo, migração em massa e ao viés algorítmico. É preciso um jornalismo crítico e determinado para expor tudo isso."  

A série já fez matérias sobre mulheres indígenas, desigualdade de gênero nos esportes e violência de gênero. As reportagens já fizeram uma abordagem aprofundada de tópicos como branqueamento de pele, saúde mental materna, o que está em jogo para as mulheres em eleições nacionais, dentre outros temas. 

Os textos não só mostram aos leitores o estado da desigualdade de gênero como também a forma como ela se manifesta no mundo. "Nós queremos ter uma visão mais ampla com As Equals, revelar as causas sistêmicas da desigualdade de gênero e contar essas histórias para uma audiência global", diz Anyangwe. 

Laboratório de inovação

Anyangwe descreve a série As Equals como uma espécie de laboratório de inovação para a CNN. A iniciativa permitiu que o veículo trabalhasse com jornalistas fora de sua rede imediata, incluindo muitas que estão mais familiarizadas com grupos marginalizados.

"Trabalhamos em um ritmo muito diferente do resto da nossa redação e a distância nos permite testar coisas novas que podem beneficiar a equipe. Essas ferramentas podem ser usadas por outros colegas que talvez tenham o tempo e os recursos para desenvolvê-las", diz Anyangwe.

Em 2020, a CNN recebeu um subsídio de US$ 3,6 milhões da Fundação Bill & Melinda Gates para expandir o projeto. "O financiamento nos permite desacelerar, pensar sobre grandes histórias, trabalhar com mais jornalistas locais e com nossas equipes na CNN para contar histórias de impacto sobre mulheres, e consequentemente iniciar o debate nas comunidades sobre as quais estamos informando", diz Anyangwe.  

Systems Error

Em 2023, a CNN lançou Systems Error, uma série derivada de As Equals que investiga as desigualdades de gênero online.

"A equipe de Systems Error também expõe como a desigualdade se manifesta por meio de tecnologias digitais e plataformas, e revela como alguns grupos marginalizados estão criando uma internet mais inclusiva", diz Aimee J. Sanders, chefe de diversidade, equidade e inclusão da CNN. 

A série Systems Error publica investigações, reportagens interativas, curta-documentários e análises de dados. Também produz guias de segurança digital para os leitores.

"A série também tem o objetivo de oferecer uma visão a partir do olhar de mulheres, pessoas não-binárias e LGBTQ+ no mundo digital, destacando o fato de que o patriarcado e a misoginia vividas no 'mundo real' persistem online e são possivelmente maiores", diz Sanders.

Reconhecimento

As reportagens de As Equals ganharam reconhecimento no mundo. Por exemplo, a série recebeu neste ano o Prêmio Gracie, concedido pela Alliance for Women in Media, por uma matéria sobre as trágicas realidades da depressão pós-parto. O prêmio reconhece as principais contribuições por, para e sobre mulheres no jornalismo e no entretenimento.

A iniciativa White Lies, que investiga práticas pelo mundo de branqueamento da pele e seus custos e expõe os motivos subjacentes do colorismo e a indústria que se aproveita dele, foi indicada ao Prêmio Britânico de Jornalismo

"Nós sabemos que mulheres e pessoas de gênero diverso correspondem a mais da metade da população mundial, mas há uma carência profunda de jornalismo sério e constante sobre as vidas delas", diz Anyangwe. "A CNN, por meio de As Equals, está fazendo a sua parte ao tratar dessas lacunas históricas do jornalismo."

Apesar do sucesso, a equipe de As Equals está limitada à quantidade de histórias que consegue contar devido ao nível de profundidade das reportagens. "Contar histórias distintivas e com informação aprofundada que levam meses para serem produzidas em uma organização cuja reputação foi construída com base em notícias de última hora pode ser desafiador", diz Anyangwe.

Mas os impactos são recompensadores. "O processo pode ser bem frustrante e drenante", diz. "Mas também vale a pena porque o resultado final revela o mundo de formas mais significativas." 


Foto por The Jopwell Collection via Unsplash.