Organizações de notícias ficaram muito boas em medir coisas como impressões, alcance e engajamento. Somos ótimos para determinar quem está lendo nosso conteúdo, quanto tempo gastam nele e como estão compartilhando.
O que não fazemos bem é medir por que nosso conteúdo é importante. Uma matéria ajudou alguém a tomar uma decisão de saúde melhor, entrar em contato com um vereador da cidade ou gastar dinheiro de maneira mais inteligente? Levou as autoridades a consertar uma interseção perigosa de trânsito, melhorar os serviços para desabrigados ou restringir políticas que davam espaço para corrupção? Em outras palavras, levou a algo acionável que ajudou nosso público?
Em 2019, a mídia noticiosa intensificará seus esforços para medir seu impacto na sociedade, e não apenas porque fará nos sentir melhor. Estamos enfrentando uma crise sem precedentes na credibilidade da mídia. Uma maneira de recuperar a confiança de nossos públicos --e potenciais públicos-- é mostrar a eles que o jornalismo desempenha um papel vital em melhorar suas vidas.
As redações da McClatchy, por exemplo, defendem a credibilidade e a confiança por meio da campanha #ReadLocal. Destacam importantes investigações e matérias que levaram a mudanças concretas na vida de seus leitores. Esta iniciativa vai um passo além de como outros meios de comunicação estão se envolvendo ativamente com seu público através das redes sociais, eventos ao vivo e outras atividades que tradicionalmente não faziam parte do trabalho da redação.
O Center for Investigative Reporting, a ProPublica e a Gannett estão entre outros grupos de mídia que priorizaram acompanhar o impacto de suas matérias. Liderando o esforço pela Gannett está Anjanette Delgado, diretora sênior de notícias digitais da Detroit Free Press. Ela ajudou a desenvolver o Impact Tracker para o Journal News Media Group, também parte da Gannett. A equipe de investigação achou que as métricas tradicionais de audiência não capturavam grandes mudanças desencadeadas por suas reportagens. Agora, toda a Gannett USA Today Network pode usar a nova ferramenta para determinar quais matérias causam mais impacto.
A tendência ultrapassa as fronteiras dos Estados Unidos. O bolsista Knight do ICFJ, Pedro Burgos, foi pioneiro em uma ferramenta impressionante no Brasil que usa a automação para encontrar exemplos de como o jornalismo cria mudanças positivas. Sua ferramenta chama-se Impacto.jor, e seis parceiros de mídia no Brasil a usam para coletar documentos públicos, mídias sociais e pesquisas acadêmicas para revelar quando uma matéria fez a diferença. O Impacto.jor pode detectar se uma notícia foi citada por influenciadores --como legisladores, incluindo-a em um projeto de lei para combater a corrupção ou autoridades municipais citando-a como uma razão para limpar um local de despejo.
A premissa é que, acompanhando exemplos de impacto e compartilhando-os com o público, a confiança na mídia aumentará. Um dos jornais que usam o Impacto.jor, por exemplo, mapeia todos os casos de impacto, portanto, quando um leitor liga para cancelar uma assinatura, os funcionários podem verificar o mapa e mostrar a ele como o jornal melhorou a qualidade de vida em seu bairro.
Uma grande parte do projeto de Pedro, que também é apoioado pelo Google News Lab, não é apenas desenvolver e testar o Impacto. É tornar as organizações de mídia conscientes da importância de medir o impacto, independentemente da ferramenta que escolherem usar. Ele falou sobre isso em conferências por todas as Américas e se reuniu com redações em cinco países, incluindo os Estados Unidos. A reação geralmente é um entusiasta “Sim! Como podemos fazer isso?"
Em 2019 e além, haverá um número crescente de novas ferramentas que as organizações de notícias podem usar para fazer exatamente isso. A exibição do impacto se tornará uma maneira essencial de reter e expandir o público para obter informações confiáveis e precisas. Eu acredito que nosso futuro depende disso.
Patrick Butler é vice-presidente do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), the parent organization of IJNet.
Este artigo foi publicado originalmente no NiemanLab como parte de uma série de previsões para o jornalismo no ano que vem.
Imagem sob licença CC no Unsplash via Jordan McDonald