Dicas para reconhecer desinformação online

por H. Colleen Sinclair
Oct 6, 2020 em Combate à desinformação
Pessoa visualizando a mídia social em seu telefone

Nos Estados Unidos, os propagandistas já estão trabalhando para semear a desinformação e a discórdia social nas eleições de novembro.

Muitos de seus esforços se concentraram nas redes sociais, onde a capacidade limitada de atenção das pessoas as leva a compartilhar conteúdo antes mesmo de ler -- em parte porque as pessoas reagem emocionalmente, não logicamente, às informações que encontram. Isso é especialmente verdadeiro quando o tópico confirma o que uma pessoa já acredita.

É tentador culpar os bots e trolls por esses problemas. Mas, na verdade, a culpa é nossa por compartilhar tão amplamente. Estudos confirmaram que as mentiras se espalham mais rápido do que a verdade, principalmente porque as mentiras não obedecem às mesmas regras da verdade.

Como psicóloga que estuda propaganda, aqui está o que digo aos meus amigos, alunos e colegas sobre como tomar cuidado. Dessa forma, eles podem se proteger de mentiras, meias-verdades e manobras enganosas sobre eventos atuais.

1. O post despertou raiva, repulsa ou medo?

Se algo que você vê online causa sentimentos intensos -- especialmente se essa emoção é indignação -- isso deve ser um alerta para não compartilhar, pelo menos não imediatamente. Provavelmente, a intenção era causar um curto-circuito em seu pensamento crítico, jogando com suas emoções. Não caia nessa.

Em vez disso, respire fundo.

A história ainda estará lá depois de verificada. Se for real e você ainda quiser compartilhá-la, considere também o incêndio para o qual pode estar contribuindo. Você precisa atiçar fogo?

Durante esses tempos sem precedentes, devemos ter cuidado para não contribuir para contágios emocionais. Em última análise, você não está encarregado de alertar o público sobre as últimas notícias e não está em nenhuma corrida para compartilhar conteúdo antes que outras pessoas o façam.

[Leia mais: 4 dicas de checagem de fatos para cobrir as eleições de 2020 nos EUA]

2.  O post fez você se sentir bem?

Uma nova tática adotada por agentes da desinformação é postar histórias de bem-estar que as pessoas vão querer compartilhar. Esses artigos podem ser verdadeiros ou podem ter tanta verdade quanto as lendas urbanas. Mas, se muitas pessoas compartilharem essas postagens, dará legitimidade e credibilidade às contas de fontes falsas que publicaram originalmente o conteúdo. Assim, essas contas se posicionam bem para compartilhar mais mensagens maliciosas quando julgam que é o momento certo.

Esses mesmos agentes também usam outras manobras para você se sentir bem, incluindo tentativas de jogar com a sua vaidade ou autoimagem inflada. Você provavelmente já viu postagens dizendo “Apenas 1% das pessoas são corajosas o suficiente para compartilhar isso” ou “faça este teste para ver se você é um gênio”. Esses não são clickbait benignos: muitas vezes estão ajudando uma fonte fraudulenta a obter compartilhamentos, construir um público ou, no caso desses "questionários de personalidade" ou "testes de inteligência", estão tentando obter acesso ao seu perfil de mídia social.

Se você encontrar conteúdo como esse, se não pode evitar clicar, então apenas aproveite a sensação boa que lhe dá e siga em frente. Compartilhe suas próprias histórias, em vez das de outras pessoas.

3. É difícil de acreditar?

Além disso, lembre-se de que uma peculiaridade da psicologia humana significa que as pessoas só precisam ouvir algo três vezes antes que o cérebro comece a pensar que é verdade -- mesmo que seja falso. O que você lê pode fazer alguma afirmação extraordinária -- como o papa endossando um candidato à presidência dos Estados Unidos quando nunca havia endossado um candidato antes. O astrônomo e autor Carl Sagan defendeu a resposta que você deve ter a tais afirmações: “Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias”, que é uma premissa filosófica de longa data. Considere se a afirmação que você está vendo é apoiada por alguma evidência – e então verifique se a qualidade dessa evidência foi confirmada.

4. Confirmou o que você já pensava?

Se você estiver lendo algo que combina tão bem com o que você já pensou, pode estar inclinado a dizer "Sim, é verdade" e compartilhar amplamente.

Enquanto isso, perspectivas diferentes são ignoradas.

Estamos fortemente motivados a confirmar o que já acreditamos e evitar sentimentos desagradáveis associados a desafios às nossas crenças -- especialmente crenças fortemente arraigadas.

É importante identificar e reconhecer seus preconceitos e tomar cuidado para ser mais crítico em relação aos artigos com os quais você concorda. Tente provar que são falsos, em vez de procurar a confirmação de que são verdadeiros. Fique atento porque os algoritmos ainda estão configurados para mostrar coisas que acham que você vai gostar. Não seja uma presa fácil. Confira outras perspectivas.

[Leia mais: Chaves para combater desinformação além da checagem de fatos]

5. Têm errrros de escrita?

Postagens repletas de erros ortográficos e gramaticais são os principais suspeitos de imprecisões. Se a pessoa que escreveu não se deu ao trabalho de verificar a ortografia, provavelmente também não verificou mais nada. Na verdade, podem estar usando esses erros para chamar sua atenção.

Da mesma forma, uma postagem com fontes múltiplas pode revelar sem querer que contém material adicionado ao original -- ou tenta chamar sua atenção deliberadamente. (Sim, os erros no título desta dica foram intencionais.)

Meme of Tom Cruise jumping on couch
Em 2005, Tom Cruise pulou no sofá de Oprah. O momento se tornou um marco cultural -- e a imagem se tornou um meme., via Know Your Meme.

6. O post é um meme?

Memes são geralmente uma ou mais imagens ou vídeos curtos, geralmente com texto sobreposto, que transmitem rapidamente uma única ideia.

Embora possamos rir muito com o novo meme ““Ermahgerd”, memes – particularmente aqueles que semeiam discórdia política – foram na verdade identificados como um dos meios emergentes para propaganda. Nos últimos anos, a prática de usar memes para incitar divisões aumentou rapidamente e grupos extremistas estão usando-os com eficácia cada vez maior.

Por exemplo, grupos de supremacia branca se apropriaram do meme “Pepe o sapo”, uma imagem caricatural que pode atrair um público mais jovem.

Suas origens como imagens benignas e bem-humoradas de gatos mal-humorados, gatos que querem cheeseburgers ou chamados para “manter a calma e continuar” levaram nosso cérebro a classificar os memes como agradáveis ou, pior, inofensivos, abaixando nossas guardas. Além disso, sua natureza curta subverte ainda mais o pensamento crítico. Fique alerta.

7. Qual é a fonte?

A postagem é de um meio de comunicação não confiável? O site Media Bias/Fact Check é um lugar para descobrir se uma fonte de notícias em particular tem um viés partidário. Você também pode avaliar a fonte. Use critérios baseados em pesquisa para julgar a qualidade e o equilíbrio das evidências apresentadas. Por exemplo, se um artigo expressa uma opinião, pode apresentar fatos tendenciosos de uma forma favorável a essa opinião, em vez de apresentar de forma justa todas as evidências e tirar uma conclusão.

Se você acha que está visitando um site suspeito, mas o artigo específico parece correto, minha forte sugestão é encontrar outra fonte confiável para as mesmas informações e compartilhar esse link. Quando você compartilha algo, as redes sociais e os algoritmos do mecanismo de pesquisa contam seu compartilhamento como um voto pela credibilidade geral do site. Portanto, não ajude os sites de desinformação a tirar proveito de sua reputação como um compartilhador cauteloso e cuidadoso de informações confiáveis.

8. Quem disse?

Pode ser surpreendente, mas os políticos e outras figuras públicas nem sempre dizem a verdade. Pode ser que uma determinada pessoa tenha dito uma frase específica, mas isso não significa que a frase esteja correta. Você pode verificar o fato alegado, é claro, mas também pode ver o quão verdadeiras são certas pessoas.

Se você está ouvindo informações de um amigo, é claro, não há site. Você terá que confiar no pensamento crítico antiquado para avaliar o que essa pessoa diz. Ela é confiável? Sequer tem fontes? Em caso afirmativo, quão confiáveis são essas fontes? Se avaliar a mensagem é muito trabalhoso, talvez use apenas com o botão "curtir" e pule o "compartilhar".

9. Há uma agenda oculta?

Se você encontrar algo que pareça convincente e verdadeiro, verifique o que fontes não partidárias dizem sobre o assunto. Para uma visão das perspectivas dos meios de comunicação, dê uma olhada no Media Bias Chart (para a mídia em inglês).

O fato de não haver menção ao tópico na mídia apartidária pode sugerir que a declaração ou história é apenas um ponto de conversa de um lado ou outro. No mínimo, pergunte-se por que a fonte escolheu escrever ou compartilhar aquele conteúdo. Foi um esforço para relatar e explicar as coisas conforme estavam acontecendo ou uma tentativa de influenciar seu pensamento ou ações ou seu voto?

10. Você verificou os fatos?

Existem várias organizações de verificação de fatos respeitáveis, como Snopes e FactCheck. Existe até um site dedicado à verificação de memes. Não leva muito tempo para clicar em um desses sites e dar uma olhada.

Mas pode demorar muito para desfazer o dano de compartilhar desinformação, o que pode reduzir a capacidade das pessoas de confiar nas evidências e em seus semelhantes.

Para se proteger e proteger aqueles em suas redes sociais e profissionais, fique atento. Não compartilhe nada a menos que tenha certeza de que é verdade. Os agentes da desinformação estão tentando dividir a sociedade. Não os ajude. Compartilhe com sabedoria.


H. Colleen Sinclair é professora de psicologia social da Universidade Estadual do Mississippi.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob a licença Creative Commons. Leia o artigo original (em inglês). Obtenha fatos sobre o coronavírus e as pesquisas mais recentes. Inscreva-se para receber a newsletter do The Conversation.