Dicas para informar sobre saúde à população LGBTQ+

por Naseem S. Miller
Jun 12, 2023 em Diversidade e Inclusão
A woman leaning on someone's shoulder.

Durante a conferência da Associação de Jornalistas de Saúde no mês passado em St. Louis, participantes do painel "Pautas LGBTQ precisam de fontes LGBTQ: saiba como encontrá-las" deram várias dicas e recursos.

Confira a seguir um pouco do que foi compartilhado e também recursos adicionais para produzir matérias sobre saúde LGBTQ.

Use guias de estilo para linguagem correta e atualizada

"Quando você está em um grupo minoritário, a linguagem muda o tempo todo", disse Jen Christensen, editora e produtora da área médica e climática da CNN, e também membro do conselho e ex-presidente da Associação de Jornalistas LGBTQ+ (NLGJA na sigla em inglês).

Algumas mudanças na linguagem de uso comum vêm da comunidade LGBTQ+, mas outras são criadas por aqueles contrários aos direitos LGBTQ+ e que querem politizar a comunidade, "e isso gera uma linguagem horrível", disse.

Christensen aconselha jornalistas a usarem uma linguagem o menos política possível. Duas boas fontes para identificar a melhor linguagem são o guia de estilo da Associação de Jornalsitas LGBTQ+ e o guia de estilo da Associação de Jornalistas Trans.

Favoritar estes guias de estilo pode ajudar jornalistas a lidarem com conflitos de terminologia. Por exemplo, alguns veículos usam a palavra queer, um termo originalmente usado como uma forma pejorativa de gay e que foi reapropriado e hoje é usado por muitas pessoas LGBTQ+. (O "Q" pode significar "queer" ou "questioning"). Mas para algumas pessoas mais velhas na comunidade LGBTQ+. queer ainda é considerado um insulto, disse Christensen. Por isso, se você quer usar a palavra queer, explique por que você está utilizando o termo.

A NLGJA também tem uma Força-Tarefa de resposta rápida, que responde queixas ligadas a matérias que o público e jornalistas consideram injustas ou imprecisas. A força-tarefa contata as redações para falar sobre terminologia e viés.

Estabeleça relações com organizações LGBTQ+

Alex Sheldon, da diretoria executiva interina da GLMA, a antiga Associação Médica de Gays e Lésbicas, diz que, por muitas décadas, as pessoas LGBTQ+ foram retratadas de maneira errada ou injusta na mídia, e isso provocou uma erosão da confiança nos profissionais de mídia.

"Por isso, estabelecer essa confiança e construí-la é crucial para informar corretamente", disse.

Sheldon encorajou os jornalistas a estabelecer relações autênticas com organizações LGBTQ+ "para que essas organizações venham até você com mais pautas e também para garantir que você tenha as fontes corretas de informação".

Há organizações LGBTQ+ em todos os tipos de profissões, disse Sheldon, exemplificando com a Associação Nacional de Pilotos LGBTQ+ , organização de profissionais  e entusiastas de aviação lésbicas, gays, bissexuais e trans do mundo todo. 

Sheldon recomendou vários materiais e eventos para ajudar a melhorar a cobertura de pautas LGBTQ+, que estão inclusas no texto original da The Journalist's Resource.

9 ideias de pauta

Christensen deu as seguinte ideias de pauta durante sua apresentação:

  • O fim da assistência afirmativa de gênero para jovens: todas as segundas-feiras, a União Americana de Liberdades Civis atualiza um mapa do que está acontecendo em cada estado e tem uma lista de projetos de lei propostos;
  • Saúde mental de pessoas LGBTQ+, incluindo jovens: Pesquisa Nacional sobre Saúde Mental de jovens LGBTQ feita em 2022 pelo Trevor Project, organização sem fins lucrativos focada na prevenção do suicídio de jovens LGBTQ+, descobriu que 58% dos respondentes relataram ter sintomas de depressão. Christensen aconselhou incluir um bloco informativo com materiais sobre saúde mental se você está produzindo uma matéria sobre essa assunto;
  • Atuais restrições à educação sexual:  "há muitas oportunidades para falar sobre se há ou não uma educação sexual que seja inclusiva para a comunidade LGBTQ", disse Christensen;
  • Desafios enfrentados por pessoas LGBTQ+ mais velhas: "há muitos casais que não têm filhos que podem ajudar a cuidar deles", disse Christensen. Questões a serem investigadas incluem solidão, cuidados de saúde em domicílio e pobreza. Há pautas de jornalismo de soluções também. "Há várias casas de repouso sendo construídas para idosos LGBTQ+ em todo o país e seria interessante conversar com as pessoas por trás disso", disse;
  • HIV, que continua sendo um grande problema de saúde nos Estados Unido e no mundo: "é um problema muito grande no nosso país, particularmente entre as minorias raciais, e mesmo assim não estamos cobrindo o tema com frequência", disse Christensen. Outra ideia de pauta é procurar por leis estaduais que consideram revogar leis que tornam um crime expor alguém com HIV ou outras infecções sexualmente transmissíveis. Até outubro de 2022, 35 estados tinham leis que criminalizavam expor pessoas com HIV. O uso e adoção de PrEP, a Profilaxia Pré-Exposição, é mais uma ideia de pauta;
  • Comunidades bissexuais também precisam de mais cobertura da mídia. Alguns estudos mostram que pessoas bissexuais correm mais risco de terem problemas de saúde mental em comparação com gays ou lésbicas, devido a fatores como estigma e o que os pesquisadores chamam de "invalidação de identidade", experiências nas quais as pessoas negam ou se recusam a aceitar a identidade do outro;
  • Acesso de pessoas LGBTQ+ à assistência médica: estudos mostram que há desigualdade na assistência à saúde na população LGBTQ+, que mais comumente relata problemas de saúde na comparação com pessoas que não são LGBTQ+. A população LGBTQ+ também relata mais discriminação médica;
  • Distúrbios alimentares: adultos e jovens LGBTQ+ são mais propensos a ter distúrbios alimentares do que heterossexuais e cisgêneros, segundo estudos;
  • Faça matérias positivas também: não faça apenas matérias sobre dor e desafio, mas também sobre "alegria e celebração queer", aconselhou Sheldon. 

Se você está com depressão, passando por um momento difícil, precisa falar ou refletir sobre suicídio, há ajuda. 

- 988 é o serviço telefônico nos Estados Unidos para apoio a crises e suicídio.

- Serviço de SMS: envie HOME para 741741 para atendimento em inglês ou AYUDA para atendimento em espanhol.

- Jovens LGBTQ+  também podem entrar em contato com o The Trevor Project no número 866-488-7386 ou enviar mensagem para 678678.

- Se você não mora nos Estados Unidos, acesse o site findahelpline.com para obter ajuda gratuita e confidencial por telefone.


Este texto foi originalmente publicado pelo The Journalist's Resource e republicado pela IJNet com permissão. 

Foto por Külli Kittus via Unsplash.