Dicas para desenvolver um projeto de fact-checking

Oct 30, 2018 em Combate à desinformação

A IJNet em Espanhol organizou um bate-papo ao vivo com especialistas da Argentina, Colômbia e Uruguai que trabalham em projetos de verificação de fato.

Laura Zommer, diretora executiva do site argentino Chequeado; Fabio Posada, editor da ColombiaCheck; e Román Sugo, fundador do UYCheck do Uruguai participaram do evento. Aqui estão os pontos principais segundo a IJNet:

O essencial

Zommer disse que o aspecto mais importante de um site de verificação de fato é a transparência com a qual deve ser tratado desde o começo e com sua comunidade. Isso inclui o método de verificação, as limitações da pessoa que verifica os fatos ("você não pode sempre chegar à conclusão categórica que as pessoas esperam com os dados disponíveis") e o financiamento do site e seus funcionários.

Ela ressaltou que é igualmente importante "decidir o tom certo" para interagir com o público-alvo e disse que é "vital" lembrar que esses projetos não são realizados para "que líderes nos amem".

Posada explicou que é necessário ter claro o "pacto" que o projeto estabelecerá com seu público, o que implica "o método de verificação de fato e a política de correções".

Antes de lançar o ColombiaCheck, sua equipe trabalhou produzindo conteúdo por dois meses, como se o site já estivesse online. "Foi um período de aprendizagem baseado em tentativa e erro", disse ele.

O método

O método começa escolhendo sabiamente o que verificar. De acordo com Posada, é necessário ser "estratégico" nessa decisão.

Para Zommer, não basta ser "autônomo e não partidário", mas também aparentar ser, por isso é vital verificar os líderes de todo o espectro político no momento certo. "Quanto mais próxima for a sua declaração da verificação, mais impacto terá."

O Chequeado tem uma metodologia muito específica, que eles explicam através de um curso que realizam duas vezes por ano.

De acordo com Zommer, a metodologia de oito passos envolve consultar a pessoa a ser verificada (depois de ter selecionado a declaração a ser analisada), revisar a fonte oficial e outras alternativas (como especialistas, universidades, consultores, ONGs), colocar os dados em contexto ("isto é o mais relevante!"), e depois "confirmar, relativizar, negar e dar notas, se decidimos trabalhar com notas", algo que nem todos os verificadores do mundo implementam.

Como o ColombiaCheck e o UYCheck foram projetos inspirados pelo Chequeado, suas metodologias são bastante semelhantes.

"No nosso caso, conversamos com a pessoa que estamos verificando, recorremos a fontes públicas, fontes não-governamentais e fazemos perguntas técnicas para especialistas sobre o assunto em que estamos trabalhando", explicou Sugo. Eles gastam um bom tempo nesse processo, ele disse: "é a garantia de que a pesquisa será bem feita."

Algumas tarefas envolvem esforços extras, como a realização da verificação de fato ao vivo. "Isso exige que o time de verificadores tenha alguma experiência, porque sempre há uma melhor chance de estar errado", disse Zommer. No Chequeado, eles se preparam para esse tipo de eventos com voluntários chamados especificamente para cada caso: "especialistas de diferentes disciplinas, jornalistas de diversas mídias e estudantes". Você pode acessar um vídeo de uma verificação de fato ao vivo da presidente Cristina Fernández de Kirchner aqui.

Para Sugo, do UYCheck, o sucesso de uma verificação ao vivo dependerá em grande parte do trabalho realizado anteriormente: "gerar capacidades para prever o que a pessoa vai dizer e saber onde encontrar a informação que você precisa."

A equipe

Além de se tornar um modelo regional, o Chequeado é um dos sites que teve um grande desenvolvimento. "Começamos com três e agora temos 16: uma equipe de oito funcionários em tempo inteiro e oito em tempo parcial", descreveu Zommer, observando que nem todos estão envolvidos na redação. Parte da equipe trabalha em programas de educação, inovação e desenvolvimento institucional para buscar por fundos. A equipe editorial é composta por seis jornalistas, um diretor de inovação editorial e Zommer, a diretora executiva.

O ColombiaCheck e o UyCheck trabalham com menos funcionários. Este contrata sete pessoas. "Ao contrário de muitos projetos de verificação de fato, na equipe temos apenas uma pessoa que está treinando como jornalista. O resto vem principalmente das ciências sociais", disse Sugo.

A equipe do ColombiaCheck é ainda menor: dois jornalistas, um estagiário e um editor, bem como um designer e um gerente comunitário do Consejo de Redacción, que trabalha em meio período.

O negócio

"Não há uma organização de verificação de fato no mundo que ganhe dinheiro com isso, mas há muitos, como o Checkeado, que desenvolveram um modelo de sustentabilidade que permitiu fazer nosso trabalho por vários anos", disse Zommer, que também mencionou AfricaCheck, Fullfact e Politifact.

Para Posada, o financiamento é "a questão milionária". O ColombiaCheck continua dependendo de cooperação internacional, embora a organização patrocinadora, o Consejo de Redacción, alocou alguns recursos para o segundo ano do projeto. Além disso, o site realizou oficinas de treinamento que proporcionam algum rendimento extra. No entanto, o ColombiaCheck ainda está longe de se sustentar.

No UYCheck, a situação é bastante semelhante. "O que fazemos é desenvolver outros projetos que nos permitem obter financiamento e, portanto, apoiar o UYCheck, que é o projeto de nossa associação civil", disse Sugo. Eles também vendem verificações de fato específicas para alguns meios de comunicação. Uma vantagem do site é que trabalhar com muitos voluntários não gera custos muito altos.

Uma força contra a notícia falsa?

O Chequeado criou a seção especial #FalsoEnLasRedes para resolver o problema da notícia falsa. "Nosso trabalho pode contribuir para ter cidadãos mais alertas e críticos", disse Zommer. Mas ela não acredita que verificar sites pode impedir o que aconteceu nos Estados Unidos, onde a campanha eleitoral de 2016 foi manchada por notícias falsas. "As pessoas não decidem seu voto com base em evidências, mas em outros fatores."

Posada vê a situação de forma semelhante e disse que não acha que é apropriado ter sites de verificação de fatos assumindo a responsabilidade de impedir a tendência de notícias falsas. "Somos um elemento a mais de um ecossistema de verdade que deve ser fortalecido."

Acesse o chat completo (em espanhol) aqui.

Imagem principal sob licença CC via DATA Uruguay