Dicas de uma jornalista premiada para reportagem sobre pobreza

por Lindsay Kalter
Oct 30, 2018 em Diversos

Cobrir as complexidades do sofrimento humano é uma tarefa difícil.

Apurar difíceis questões sociais, como a pobreza, requer consciência emocional e sensibilidade que uma reportagem comum não exige.

Em uma entrevista da revista de artes e política Guernica com Katherine Boo, a jornalista ganhadora do prêmio Pulitzer e autora do livro "Behind the Beautiful Forevers: Life, death, and hope in a Mumbai undercity" (em tradução livre, "Por trás dos lindos para sempres: vida, morte e esperança em uma subcidade de Mumbai") falou sobre alguns desses desafios e ofereceu conselhos a repórteres que cobrem comunidades desfavorecidas.

Aqui está um resumo da IJNet com os pontos principais:

Evite simplificar demais

Jornalistas muitas vezes contatam as ONGs em busca de pessoas pobres que recebem sua assistência. Não é uma boa estratégia, Boo disse. "Serve para agilizar a narrativa, mas resulta num cosmos distorcido em que quase todas as pessoas pobres sobre as quais você lê estão envolvidas com alguma ONG lhes ajudando." Em vez disso, disse ela, tente encontrar fontes que fornecem um retrato exato da área, sua situação econômica e o número real de indivíduos conseguindo sair da pobreza abjeta.

Tente observar mais do que perguntar

A comunicação pode ser difícil ao falar com membros de comunidades em desvantagem, dada a falta de educação e temor geral de dizer a coisa errada, Boo disse. A solução? Falar menos. "Escutar e observar muitas vezes funcionam muito melhor [e] revelam muito mais sobre a complexidade de alguém do que as respostas que dão a perguntas sobre si mesmos."

Explore a área

Mesmo quando você está se concentrando em uma área muito específica dentro de uma comunidade, familiarizar-se com toda a cidade ajuda a fornecer o contexto social e econômico, Boo recomendou. Ao apurar uma favela de Mumbai, Boo fez questão de deixar sua área de foco para ter uma noção da cidade. "É uma cidade que até 11 anos atrás era desconhecida para mim e está mudando todo o tempo, então realmente tive que explorá-la e aprender sobre ela", disse Boo.

Revele as personagens em suas totalidades

Um erro comum que jornalistas fazem ao cobrir quem vive na pobreza -- ou qualquer população carente -- é a tendência de criar uma narrativa em que os sujeitos são santos, "perfeitos em seus próprios sofrimentos". Isto constrói um muro entre as pessoas e o leitor, Boo afirmou, tornando impossível fornecer um retrato fiel da situação. Ela fez referência a uma fonte em seu livro chamada Abdul como um exemplo de um sujeito com falhas humanas: "Ele é tímido, ele é egoísta, ele não é muito verbal. Mesmo sua própria família o considera sem charme. Mas quando o leitor o encontra, sente que ele é uma pessoa verdadeira, não que é uma construção."

Para ler a entrevista completa (em inglês), clique aqui.

Foto courtesia do Morguefile