Em todo o mundo, a confiança do público no jornalismo continua a diminuir. De acordo com o Barômetro Edelman de Confiança 2017, 82 por cento dos 28 países pesquisados registraram uma redução da confiança na mídia de 2016 a 2017. Apenas 43 por cento dos entrevistados disseram que confiam na mídia, em comparação a 48 por cento em 2016.
"Cabe à imprensa refletir sobre esta [desconfiança]", explicou Sérgio Dávila, editor-executivo da Folha de S.Paulo, durante um painel sobre a "Era pós-verdade" no 12º Congresso de Jornalismo Investigativo da Abraji em São Paulo. "Não somos imunes a erros, mas não podemos ser imunes à autocrítica."
Para recuperar essa confiança, as organizações de notícias precisam investir ainda mais no jornalismo investigativo e na transparência, o painel concordou. A Folha de S.Paulo, por exemplo, emprega um ombudsman que lê e critica o jornal, com suas correções e verificações de fatos ocupando tanto espaço quanto os próprios artigos.
O Washington Post está dando um passo adiante explicando ao público como algumas matérias são escritas. Martin Baron, editor-chefe do Washington Post, afirmou que devemos distinguir as notícias falsas de meros erros jornalísticos.
"É importante definir o que é notícia falsa: são fatos falsos publicados deliberadamente; teorias de conspiração sem bases", disse Baron. "Não é um erro. Tendo isso definido, a notícia falsa é um desafio [à imprensa livre], à democracia e à sociedade civil. Em uma sociedade democrática, devemos discordar de algumas análises, de algumas questões políticas, mas não podemos discordar sobre os fatos. A notícia falsa representa uma ameaça séria."
A notícia falsa não é nova no jornalismo, mas graças às redes sociais, seu impacto é mais forte do que nunca. Com 2 bilhões de usuários, o Facebook é, de longe, a maior rede social. A empresa agora está colaborando com organizações de notícias como o First Draft News para minimizar seu papel na proliferação de notícias falsas. Luis Olivaldes, chefe da LatAm Media Partnerships no Facebook, explicou que a empresa lançará em breve uma ferramenta que ajudará o usuário a melhorar sua literacia de mídia e detectar artigos falsos.
"Estamos lançando uma ferramenta que ajuda a treinar os usuários a serem mais conscientes do seu consumo de notícias", disse ele. "É importante que os usuários possam identificar o que é opinião, o que é notícia, o que é [sátira]. Estamos criando um senso crítico para o usuário."
No final deste ano, a Folha também planeja lançar uma plataforma digital educacional para cultivar esse mesmo senso crítico entre seus leitores.
"Nós não sabemos o formato exato ainda... mas vamos fazer mais do que lançar uma campanha sobre jornalismo preciso", disse Dávila. "Vamos ensinar as pessoas sobre como obter informações na internet, quais fontes são confiáveis, etc."
Quando os cidadãos têm pouca confiança no jornalismo, a liberdade de imprensa muitas vezes tende a sofrer. O painel enfatizou que a liberdade de imprensa é um componente necessário de qualquer democracia, ajudando a garantir que aqueles em poder sejam responsabilizados por suas ações.
Rodrigo Janot, ex-procurador-geral do Brasil, principal promotor da Operação Lava Jato, uma investigação criminal sobre a corrupção no governo brasileiro, reafirmou a importância da liberdade de imprensa. Na conferência, ele explicou que um jornalista investigativo brasileiro lhe passou informação que incriminou Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara dos Deputados que foi preso em outubro do ano passado.
"Sem esse jornalista, não teríamos conseguido pegá-lo", disse Janot. "Feche essa janela e você verá danos à democracia. Isso é a liberdade de imprensa."
De acordo com o Artigo 19, uma ONG que defende a liberdade de expressão, 105 jornalistas morreram no México desde 2000. Laura Castellanos, a jornalista mexicana que recebeu o Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo pela reportagem "Fueron los federales" (Foram os policiais federais) sobre o assassinato de 16 civis em Apatzingan, no México, descreveu o cenário sombrio dos jornalistas mexicanos.
"No meu país não há democracia, não é possível mudar as instituições porque é uma questão estrutural", explicou Castellanos. "É sistemático; é um governo que mantém seu poder através da violência. E a violência não é apenas física, mas também inclui impedir o acesso a uma boa educação, saúde, habitação... e o jornalismo investigativo tem o trabalho de mostrar essa violência."
Enquanto o estado atual do jornalismo pode ser desanimador, ela disse que vê a sede de mudanças nos jovens jornalistas.
"Precisamos da visão dos jovens, jovens comprometidos que desejam fazer jornalismo investigativo, conhecer a história do nosso país para entender como chegamos aqui", disse Castellanos. "Muitos estudantes de jornalismo vêm até mim e confio neles, eu os apoio, porque precisamos de muitas vozes para cobrir tudo."
Imagem sob licença CC no Flickr via istolethetv