Às vezes, a melhor maneira de descobrir o que as pessoas querem em um aplicativo é perguntando diretamente. No final de 2016, Matilde Giglio e Mayank Banerjee viajaram para dezenas de universidades em todo o Reino Unido para fazer perguntas aos estudantes sobre seus hábitos de consumo de notícias. Onde estão falhando os sites de notícias e os aplicativos existentes? Como poderiam melhorar? Quais características são importantes para os leitores mais jovens?
Essa viagem, que acumulou conversas com milhares de estudante, ajudou a criar o Compass News, um aplicativo destinado a dar aos usuários um resumo simples e informativo das notícias do dia. Duas vezes por dia, o Compass News lança as seis notícias mais importantes, oferecendo resumos curtos em um formato semelhante a um cartão. Como o aplicativo foi projetado para leitores universitários que podem não estar familiarizados com certas matérias (o usuário médio do aplicativo tem 22 anos), muitos artigos também incluem o guia "What's the story so far? [Qual é a história até agora?], oferecendo informações básicas sobre os eventos-chave e as pessoas.
Matilde disse que o Compass News se concentra em leitores de idade universitária, porque poucos aplicativos de notícias e organizações de notícias existentes atualmente o fazem. "Nós nesta indústria consumimos muitas informações e notícias. Prestamos atenção a vários veículos de mídia e conferimos o Twitter várias vezes por dia. Queríamos criar um produto para todos, não para esses tipos de junkies de notícias."
Essa ideia começou a dar certo no Reino Unido, onde o Compass News atraiu 50.000 usuários nos últimos 10 meses. A empresa tem ambição de crescer, especialmente nos Estados Unidos, nos próximos meses. Para fazer isso, o Compass News juntou-se à última edição da incubadora de mídia Matter, que dará dinheiro e orientação sobre como acelerar seus negócios. O Compass News também assinou uma rodada de financiamento de US$1.000.000 para ajudar com seus planos de expansão.
O Compass News emprega seis editores de notícias para explorar milhares de notícias de mais de duas dúzias de fontes por dia. (A equipe total tem 12 funcionários.) Estes curadores, que têm experiência de reportagem para organizações como a BBC, Financial Times e Wired, focam sua atenção em "histórias que realmente valem a pena ler", disse Matilde, referindo-se a matérias que dão contexto aos leitores ou adotam uma postura particular, em vez daquelas que apenas relatam os fatos. "Ajudar as pessoas a descobrir o que as coisas significam é uma grande área de foco para nós", disse Matilde.
Também é importante dar uma experiência com um fim delineado. Uma das preocupações mais comuns que o Compass News descobriu entre os alunos é que o ambiente de notícias moderno é muitas vezes assustador, especialmente se as pessoas descobrem uma notícia pouco tempo depois de ser difundida. Este comentário inspirou as duas edições diárias do Compass News, que são projetadas para dar aos usuários uma versão mais digerível e periódica das notícias. Outro benefício: incentivar as pessoas a verificar o aplicativo várias vezes ao dia. "Os estudantes com quem falamos realmente acham que menos é mais", disse Matilde. (O agora extinto Yahoo News digest e o app Espresso do Economist, entre outros, também têm uma abordagem similar.)
O processo de seleção de notícias do Compass News tem sido cada vez mais impulsionado pela inteligência artificial. Durante meses, a empresa treinou um editor de inteligência artificial para observar os editores do Compass News de modo a imitar suas decisões de curadoria em grande escala, especialmente quando esses humanos não estão trabalhando. O cofundador Mayank Banerjee comparou a ideia com o processo de treinamento para o carro autodirigido. "Você não ensina um carro autodirigido a dirigir codificando regras. Você ensina isso fazendo com que um ser humano dirija-o por milhões de milhas", disse ele. "É um algoritmo de aprendizado, em vez de um somente baseado em regras."
Matilde e Mayank esperam que o conjunto de recursos do Compass News possa ajudá-lo a se destacar onde muitos outros aplicativos de notícias não conseguiram. Da mesma forma, a equipe acha que a chegada do aplicativo numa época de crescente ceticismo sobre o papel do Facebook e do Twitter no novo ecossistema poderá lhe dar uma vantagem.
"Usar o Facebook agora consiste em abri-lo, usá-lo e olhá-lo e perceber que você perdeu uma hora do seu tempo", disse Mayank. "Isso não é o que estamos tentando fazer."
Este artigo foi originalmente publicado no Nieman Lab e aparece na IJNet com permissão.