No ano passado, Terry Nguyễn, do Vox, escreveu sobre como o feed do perfil do site no Instagram mudou com o avanço do movimento Black Lives Matter. Começaram a surgir mais slides no estilo PowerPoint pensados para informar sobre os protestos, e desde então eles têm sido adotados para falar de qualquer assunto.
Nguyễn escreveu sobre como esses slides, apesar de chamarem a atenção, traziam o risco de simplificar demais as questões, removendo sua importância, e potencialmente espalhar desinformação.
Coincidentemente ou não, criadores de conteúdo estão aplicando ao seu trabalho essa linguagem visual típica dos millennials, o que torna mais fácil para marcas perspicazes (ou qualquer um que possa replicar esse estilo de design) aproveitarem e subverterem o movimento usando-o para promover seus próprios interesses corporativos. E há ainda o debate se é apropriado ou não colocar uma camada estética em questões de direitos humanos. À medida que empresas e indivíduos se familiarizam com a adoção disseminada de memes e de determinadas estéticas criativas em espaços online, esses formatos poderiam vir a ser usados para "transformar a tragédia em commodity e confundir mensagens revolucionárias", escreveu no Instagram o criador de conteúdo @disintegration.loops, posteriormente fazendo referência a como a morte de Breona Taylor foi reduzida a um meme.
A maioria desses slides de ativismo não aparenta ter sido feita com más intenções nem está ativamente prejudicando ninguém, mas algumas pessoas estão preocupadas com o efeito neutralizador de longo prazo de tornar a defesa de causas mais digerível e consumível para uma grande audiência.
Mas esse tipo de slide, quando feito do jeito certo e com cuidado, torna temas complexos (sobre, digamos, um vírus mutante!) mais digerível e acessível. No New York Times, a equipe de audiência tem experimentado variações desses slides e cartões em seus perfis nas redes sociais, conta o subeditor de mídias sociais Jake Grovum.
“Quando há uma matéria importante, complicada ou algo que se beneficiaria de um contexto, há uma razão jornalística boa de verdade para fazer esse tipo de coisa", diz Grovum. "Se você olhar para alguns dos exemplos que funcionam melhor, é quase como se você tivesse os primeiros três ou quatro gráficos de uma notícia em um único post. Você tem o texto do tweet, umas linhas no cartão, mais informações e contexto, e todo mundo sabe que pode faltar contexto nas redes sociais".
No New York Times, o uso de slides e cartões nas redes sociais se tornou uma prioridade por volta do início da pandemia no ano passado. A equipe de audiência queria ter uma "presença mais visual" nas plataformas do jornal e aproveitar mais os mapas e visualizações de dados do site.
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"Tudo começou do desejo de ser mais visual", afirma Grovum. "Transformamos em parte da nossa rotina ter essa presença visual para qualquer notícia ou matéria que fôssemos compartilhar."
Cartões únicos funcionam melhor no Facebook e no Twitter porque esses dois aplicativos não têm um recurso de carrossel (que te permite deslizar para a esquerda para ver mais imagens em um mesmo post), como é o caso do Instagram. Grovum conta ter percebido que o Facebook e o Twitter são adequados para cartões com mais texto e que as pessoas estão de fato lendo e compartilhando o conteúdo.
Os cartões têm sido particularmente úteis para o New York Times desmascarar desinformação, apesar de que um desafio maior, segundo Grovum, é criar cartões de uma maneira que eles continuem sendo úteis mesmo se forem um print ou não tiverem contexto.
O post do Facebook abaixo feito em abril sobre uma afirmação falsa relacionada às vacinas teve mais de 8.300 compartilhamentos e 25 mil likes, sinal de que os usuários querem compartilhar informações factuais com outras pessoas.
Compare com o engajamento deste outro post do mesmo dia que explica o significado da palavra "cheugy". Ele teve pouco mais de 1 mil likes e 534 compartilhamentos.
Grovum explica que o New York Times considera as métricas e feedback qualitativo (comentários) nos cartões como uma medida de utilidade. Mais engajamento é um sinal de que as pessoas consideraram a informação útil, mesmo sem terem clicado no link.
"Somos cientes e francos conosco mesmos sobre como esses conteúdos são otimizados para engajamento, alcance e compartilhamento dentro das próprias redes sociais. Se você quisesse otimizá-los para que as pessoas clicassem e fossem para o site, você não colocaria um terço da matéria num cartão", diz Grovum. “Estamos bem cientes de que há uma troca aqui, e normalmente nós fazemos as duas coisas — temos um post só com o link ou algo parecido e [também] fazemos a versão compartilhável e ganhamos o melhor dos dois mundos. Posts com links sem uma arte atraem mais cliques para o site, [enquanto] os cartões são melhores para engajamento."
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Como os cartões normalmente são arquivos de imagem, eles podem ser difíceis de ler ou mesmo de acessar por pessoas com deficiência visual. Grovum diz que o New York Times ainda está trabalhando nessas questões de acessibilidade, adicionando texto alternativo a alguns posts, mas nota que muitas ferramentas de gerenciamento de redes sociais ainda não têm um jeito eficiente de incluir esses textos, o que pode causar problemas no fluxo de trabalho.
Testar esses novos formatos é bom para o New York Times porque dá aos jornalistas a oportunidade de aprender sobre o que as pessoas querem ver.
"Mesmo com esses templates, eles dão trabalho, não importa o quanto os seus processos sejam fáceis. Leva mais tempo para fazer [um cartão] do que escrever um tweet e publicá-lo", afirma Grovum. "Mas acho que vale a pena entender a sua audiência e se voltar para coisas que você sabe que vão repercutir entre as pessoas."
Este artigo foi publicado originalmente pelo Nieman Lab e republicado na IJNet com permissão.
Hanaa’ Tameez é redatora no Nieman Lab. Ela já trabalhou no WhereBy.Us e no Fort Worth Star-Telegram.
Foto por George Pagan III no Unsplash.